Entender o que é fazer teatro pode ser difícil, mas quando juntamos a isso a compreensão do que pode ser teatro na Educação Infantil, o meio de campo acaba de embolar!
Aproveito para este post um trecho do texto da Marina Marcondes Machado, que você pode ler na íntegra acessando este link e abrindo o livro Percursos de Aprendizagem: Práticas Teatrais.
Neste texto Marina irá relacionar o teatro para esta faixa etária com o teatro pós-dramático. Ela diz:
“Quando a criança está brincando de faz de conta, ela é dissimulada? Mentirosa? Ilusionista? O leitor atento, que acompanhou os capítulos anteriores, responderá: “não”. Mas o que está acontecendo, então, com a criança no momento em que brinca de faz de conta? Há quem diga, como Sarmento, que a expressão “faz de conta” é inadequada para essa conduta da criança, uma vez que todo observador mais cuidadoso sabe quão verdadeira é aquela narrativa, cena do cotidiano, drama ou conflito. Existe, sim, algo no faz de conta que Artaud defendeu em sua estética, a mesma energia/sinergia que os encenadores contemporâneos pretendem, inclusive, resgatar no corpo do ator-performer.
O professor leigo não precisa ocupar-se das minúcias deste debate, mas deve estar atento para uma nova forma de teatro que surgiu a partir das décadas de 60 e 70, onde a linearidade aristotélica, do tempo do começo-meio-e-fim, não se faz mais presente ou necessária. Isso aconteceu também no cinema: quem não assistiu ao menos a um filme que se recusou a acabar, ou seja, que deixou “em aberto” o final da história que contava?
E se artistas profissionais estão praticando um tipo de linguagem mais “caótica”, desorganizada do ponto de vista realista, com cenas sobrepostas, ou ainda, apresentando músicas e ruídos concomitantes, interposto a um silêncio cortante, como e por que um professor de crianças precisaria ater-se a um teatro que representasse “Chapeuzinho Vermelho”, “Os Três Porquinhos”, ou “Os Três Reis Magos” com a proximidade do final do ano? E o que seria trabalhar de “outro modo”, na chave do teatro pós-dramático?”
Neste texto, Marina nos dá uma pista sobre um dos aspectos do teatro da primeira infância: ele não precisa contar uma história de forma linear! Os pequenos e pequenas podem brincar com idas e vindas no tempo, sem uma narrativa que parta de um ponto definido e que tenha uma sequência de ações, uma consequência da outra para chegar ao final.
O teatro da educação infantil pode ser caótico, pode não ter fim, pode ter muitas vezes a mesma experimentação, como uma cena em looping que se repete de várias maneiras ou da mesma incontáveis vezes.
Quem nunca contou a mesma história para uma criança e ao terminar ouviu: de novo! Dar oportunidade para este de novo na experiência teatral é um dos aspectos a ser garantido na Educação Infantil.