por Caroline Ungaro – série TEATRO – HISTÓRIA ATRAVÉS DOS PALCOS DA CIDADE
O mundo é um palco… começa o solilóquio de Shakespeare em sua peça Como gostais.
A vida é uma peça de teatro… diz um autor desconhecido que tornou sua frase famosa transferindo sua autoria para Charles Chaplin.
As ideias de vida, de mundo, como uma obra de arte, como um drama, e de humanidade como personagem de um espetáculo remontam, segundo um link da wikipedia, aos tempos da Grécia antiga. Poderíamos ter outras referências se fôssemos orientais, africanos ou se nossos antepassados dos povos originários guardassem seus escritos. Mas em todo agrupamento humano, em algum momento, é estabelecida a relação palco-plateia que tem as suas origens na relação narrador-ouvinte. Afinal, arte é a criação de metáforas, é a transmutação da vida. E a vida transformada, é arte. Mas e o palco?
O palco causa fascínio e terror.
Em minhas andanças como educadora teatral, vivencio o chamado das pessoas para o palco: seja para destacar-se pelo prazer ou pela dor. Explico: prazer é quando a pessoa naturalmente tem o impulso de se colocar no mundo como porta-voz de algo, de alguém ou de alguma ideia; dor é quando a pessoa prefere ficar como espectadora, ouvinte, protegida como mais uma na multidão, mas sente que deve enfrentar o desafio de subir no palco e fazer-se ser vista e ouvida. Em ambos os casos, o resultado mais comum é amar e venerar o palco.
Afinal, o que é o palco? O que é um palco?
“Palco” é um substantivo masculino que remete principalmente ao ambiente teatral. Sua significação no Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa é de um lugar: estrado ou tablado destinado às representações ou para uso variado, geralmente de madeira, fixo ou móvel, e que pode apresentar diversos formatos, de acordo com a localização da plateia. Mas é muito mais do que isso.
Palco pressupõe um lugar de destaque. Algum lugar onde um foco é estabelecido. Uma luz é acesa. Um acordo é feito: nesse lugar, algo importante irá acontecer. Se não tiver destaque, não é palco.
O primeiro conceito que me chega – e que foi aceito por culturas urbanas de todo o mundo – é o europeu: palco como uma construção arquitetônica, presente em prédios que abrigam espetáculos, shows, reuniões etc. Aqui no Brasil, a arquitetura mais difundida foi a do palco italiano. No final do século 19 e início do século 20, diversos teatros com palco italiano foram construídos pelo Brasil afora: aqui em Jundiaí, foi o Teatro Polytheama, inaugurado em 1911.
No entanto, não foi sempre assim: antes havia o palco do circo, a semiarena, que circulava por nosso território. No chão de terra batida ou na lona, itinerante. E esse tipo de palco, que nasce em qualquer lugar, teve seu espaço fixo aqui na terra dos Jundiás. Antes de ser Teatro Polytheama, o prédio que ele ocupa já era um espaço de eventos chamado Pavilhão Paulista, com chão de terra batida, preparado para a recepção de trupes circenses e shows, plateia em formato de ferradura e o picadeiro no centro. Sim, o palco do circo tem nome próprio: Picadeiro!
E os palcos de auditórios? Esses são palcos menos teatrais, geralmente mais estreitos e com menos recursos cênicos, feitos para reuniões, conferências, seminários, palestras, formaturas etc. e são muito comuns em escolas públicas e privadas. Na Pinacoteca de Jundiaí, que foi construída como escola estadual, tem um auditório pequeno, mas muito aconchegante. Lá foi onde participei pela primeira vez de um Conselho de Cultura da cidade e isso mudou a minha vida. Posso contar em outro artigo.
Tem também os palcos de salões de festas, geralmente com acústica ruim, e formato de palco italiano ou misto, muito comuns em Clubes. Eu conheço o do Clube Jundiaiense (sede central e na sede de campo), do Clube Uirapuru e de vários outros.
E tem os palcos de arena. São os meus preferidos. Eles são tão desafiadores, como a vida. Os olhares ficam por todos os lados. Não tem coxia ou rotunda para nos proteger, é uma delícia assustadora. Conheço duas arenas lindas, cercadas de natureza: uma no Jardim Botânico e outra no Mundo das Crianças. Os teatros gregos e os anfiteatros romanos eram assim, palcos de arena. Anfiteatros como os romanos não temos por aqui, mas eu conheço o Anfiteatro Liliana Paschoal Venchiarutti que fica na Escola Técnica Vasco Antônio Venchiarutti (ETEVAV).
Iluminei aqui apenas alguns tipos de palco para começarmos a nossa conversa. Nos próximos artigos, vou detalhar melhor os que estão apresentados aqui e também apresentar alguns outros.
E você? Você conhece algum palco aqui da cidade de Jundiaí?
E da sua cidade?
E no seu mundo, quais palcos existem?
Se conhecer algum palco, tira uma foto e me manda no instagram @palcos.da.cidade, ou marca a sua foto com a #palcosdejundiai e #palcosaomeuredor. Não usa redes sociais? Mande um e-mail: umnucleodeteatro@gmail.com
Vamos dar luz a esses espaços lindos, dentro e fora de nós.
*Este artigo faz parte do projeto “Teatro: história através dos palcos da cidade”, de Caroline Ungaro, realizado com recurso do Edital de Fomento Direto a Profissionais do Setor Cultural e Criativo no Estado de São Paulo – ProAC2021, e apoiado por Circularte Educação, UM núcleo de teatro e Atuará escola de teatro. Ao longo do projeto, será publicada uma série de artigos sobre alguns dos principais tipos de espaços para apresentações cênicas que a humanidade criou, trazendo, como exemplos dessas construções, palcos que existem na cidade de Jundiaí hoje, buscando mostrar a diversidade de palcos que existem na região central e nas periferias da cidade, e incentivar as pessoas a procurarem os palcos que existem ao seu redor. Também será lançada uma videoaula que ficará disponível no canal do YouTube da Atuará escola de teatro. A videoaula será um convite para conhecermos e ocuparmos os espaços da cidade, em especial os possíveis palcos, fazendo com que sejamos espectadores e/ou fazedores de arte; será também um chamado ao fato de que a criação artística acontece através da pesquisa, do estudo, do conhecimento e que ela pode estar bem próxima de nós; por fim, será um incentivo para olharmos as estruturas arquitetônicas como um caminho para compreender a arte cênica, essa ação humana tão potente. #ProAC2021