Alunos em cena: conhecendo a própria voz

Para quem?

Todas as idades, a partir de 3 anos.

Condições necessárias

Uma sala fechada, a mais silenciosa possível

Materiais necessários

Aparelho de som e músicas com diferentes cantores

As imagens deste post são recortes da boca de Milton Nascimento e de Gal Costa.

Como acontece?

Comece esta proposta mostrando algumas músicas nas quais seja perceptível a diferença da voz de alguns cantores. É importante fazer uma seleção bem diversificada, para que os alunos possam ouvir estas diferentes maneiras de usar a voz.

Você pode mostrar algumas e perguntar se é de um homem ou de uma mulher, pois alguns cantores e cantoras tem a voz tão grave ou tão aguda, que ficamos na dúvida. Um exemplo desta possível confusão é a cantora Cássia Eller, que pode parecer um homem. Dois exemplos de cantores brasileiros que possuem uma enorme abrangência entre o grave e o agudo são Milton Nascimento e Gal Costa.

Depois de ouvir esta diversidade de vozes, proponha um jogo de imitação, no qual eles irão imitar algumas destas vozes. Toque um trecho de uma música e peça para que todos imitem. Depois de imitarem por algum tempo peça que percebam qual a forma de cantar que foi mais confortável.

Tendo explorado a variação na altura (grave e agudo), é possível também explorar o volume (alto e baixo) além do ritmo (lento e rápido). Vale a pena brincar um pouco com estas diferentes formas de falar, usando esta diversidade na fala e não apenas no canto.

Para variar

Caso você trabalhe com crianças pequenas, pode ser muito divertido imitar sons de animais e do meio ambiente, observando quais sons são mais graves e quais são mais agudos.

Outra possibilidade é escutar os sons dos instrumentos e perceber a diversidade de cada um deles.

Até onde chega minha voz?

Como fazer que o público escute o que está sendo dito em cena?

Esta preocupação é bastante frequente no trabalho com não atores e quando são crianças, ainda mais.

Podemos pensar uma resposta para esta questão que vai em dois sentidos, que podem parecer opostos, mas são complementares.

A primeira resposta para esta questão está em dimensionar o tamanho do espaço e o número de pessoas da plateia. Isto significa que se queremos que as crianças se apresentem em público sem o uso de amplificação por meio de microfones, não podemos esperar que o alcance de suas vozes será semelhante ao de um adulto e muito menos de um ator ou atriz.

A dificuldade desta amplificação natural se deve ao fato de que o corpo das crianças não tem o mesmo tamanho do que o dos adultos e que a dificuldade em projetar a voz, em ampliá-la é muito maior nestas condições.

Você pode pensar: mas elas gritam tanto e tão alto! Sim, elas gritam alto, porém uma cena não é feita com personagens gritando, o que significa que não é possível resolver este problema no grito!

Consequentemente, aqui vai a primeira dica: adeque o espaço ao potencial das crianças! Apresentações em lugares menores, com um público menos numeroso e mais próximo da cena garante a possibilidade de que as crianças sejam ouvidas.

O segundo aspecto a ser considerado é o trabalho que precisa ser feito para que as crianças e adolescentes saibam projetar a voz e torná-la mais audível. Este trabalho será composto de diferentes exercícios de percepção e de uso da voz no qual cada um descubrirá as variáveis possíveis e a altura (me refiro ao mais grave ou mais agudo) adequada ao seu timbre.

Conhecer a própria voz é condição para poder projetá-la mais e ser mais audível.

Até aqui falamos de apenas um aspecto do trabalho com a voz, que explora possibilidades de ser ouvido em cena. Ainda falta falar sobre maneiras de trabalhar a expressão da voz, mas isto ficará para outro post.

E como este blog é voltado, principalmente, para professores e professoras, lembrem-se que mesmo não trabalhando no palco, a tua voz é um dos principais instrumentos de trabalho. Você conhece a tua? Sabe como projetá-la? Caso nunca tenha estudado tua voz, não perca tempo! Não deixe que ela se acabe!

Quem tem casa, casa?

Tatiana Belinky é a autora desta peça e de muitas outras! Esta autora escreveu para o público infantil e infanto-juvenil, somando mais de 250 obras e tendo recebido importantes prêmios nacionais e internacionais, como o Prêmio Jabuti, em 1989. Alguns de seus livros são “Olhos de ver”, “O caso do bolinho”, “O grande rabanete”, “Tatu na casca”, “Transplante de menina” e “O livro das tatianices”.

Nesta peça podemos conhecer a história de Mujim, o Caramujo e Lelé, a Lesminha.

Com humor e delicadeza, a peça aborda conflitos presentes na vida de qualquer casal, estabelecendo paralelo com os personagens do mundo animal.

É um texto que pode ser explorado com crianças de várias idades, pela aproximação entre as crianças e os animais, além das situações cômicas presentes no enredo.

Leia um pequeno trecho para dar vontade de mais:

“Mujim: Fofinha… acho que escutei você cantando que é solteira?

Lelé: Eu sou mesmo

Mujim (animado): Eu também…

Lelé (fiteira): Que coincidência! (Rebola um pouco)

Mujim: Feliz coincidência! Que me deu uma linda ideia

Lelé (que já sabe o que é): Que ideia Mujim? Não faço ideia…

Mujim: É que… já que somos ambos solteiros… que tal se… (decidido) – Assim que a vi, fiquei apaixonado, Lelé. Lelezinha, quer casar comigo?”

Para saber como continua, você terá que ler toda a peça!

Alunos em cena: Comparando meu corpo com o teu

Para quem?

Todas as idades, a partir de 1 ano.

Condições necessárias

Uma sala com espaço para que todos se movimentem

Materiais necessários

Nenhum

Imagem do arquivo da autora

Como acontece?

Proponha que os alunos caminhem pela sala e no momento que você der um sinal, que pode ser batendo palma ou qualquer outro som, eles irão comparar a parte do corpo que você disser com a de um colega.

Você poderá dizer diferentes partes do corpo, tais como: braço direito, bochechas, pés, orelha esquerda, barriga e assim por diante.

Dependendo do grupo que você trabalha, a parte do corpo escolhida poderá ser próxima ao tronco ou nas extremidades. A ideia é que eles comparem as partes encostando umas às outras, portanto algumas podem causar muita vergonha nos participantes.

Se você estiver trabalhando com pré-adolescentes e adolescentes é importante possibilitar o contato entre meninos e meninas, sem que a proposta ganhe um caráter excessivamente sexualizado. Esta idade é de grandes descobertas corporais e para que todos se sintam bem em uma proposta como esta é importante ressaltar que estão todos conhecendo seus colegas de uma forma que pressupõe confiança, portanto que devem evitar comentários que impeçam a confiança.

Para aquecer

Uma possibilidade de aquecimento para esta proposta é a realização de uma atividade de auto-percepção. Peça que todos deitem no chão ou em colchonetes e sintam cada parte do próprio corpo enquanto você vai narrando-as. O ritmo da narrativa é dado pelo grupo, caso demonstrem impaciência, vá mais rápido, do contrário, permita que eles sintam de forma mais tranquila.

Uma maneira de criar um clima de calma e introspecção é colocando uma música tranquila e deixando o ambiente com pouca luz.

Você pode pedir que todos fechem os olhos e respirem profundamente para começar, mas não obrigue ninguém a se manter de olhos fechados, pois algumas pessoas se sentem muito inseguras ao perder a visão.

Lembre-se que o teu tom de voz irá criar um ambiente de maior calma e concentração, portanto busque formas de falar que inspirem confiança e entrega. Mesmo que alguns participantes dispersem ou façam piadas (o que é frequente com crianças e adolescentes) não assuma um tom de bronca, pois ninguém relaxa com alguém bravo controlando suas ações.

Simbad, o navegante

 

Esta peça é uma dentre as várias do repertório da Cia. Circo Mínimo. A companhia existe desde 1988, foi criada por Rodrigo Matheus e 15 anos depois de seu início montou o primeiro espetáculo para crianças, dirigido por Carla Candiotto.

Vi Simbad, o navegante no SESC Jundiaí e sua montagem deixa clara uma das propostas do grupo, que é misturar a linguagem do circo e do teatro. O movimento dos atores e do cenário nos leva a conhecer as diferentes histórias narradas, que são divertidas!

No site do grupo: http://www.circominimo.com.br/  encontramos uma apresentação para o espetáculo, que diz:

“Simbad, o Navegante”, é uma adaptação da história clássica das mil e uma noites, contada com um cenário todo formado por bambus. Nela, dois atores criam mundos, ilhas, barcos, baleias, pássaros gigantescos, tempestades e perigos, manipulando estruturas de bambus que dão suporte para as acrobacias.

No elenco estão Ronaldo Aguiar, conhecido e premiado palhaço de circo e de teatro (Doutores da Alegria , Circo Roda Brasil), que também possui formação em dança, e Rodrigo Matheus, fundador do Circo Mínimo, circense conhecido por seus trabalhos aéreos.

O espetáculo é indicado para crianças a partir de 4 anos.

A diversidade de soluções encanta e faz com que crianças de muitas idades permaneçam atentas e interessadas em saber como estes dois irão continuar! Vale a pena conferir!

As fotos deste post estão disponíveis no site do grupo.

Para que serve a consciência corporal?

Muita gente pode se perguntar o que é consciência corporal, embora estas duas palavras juntas já expliquem um pouco do sentido dessa expressão. Todos sabem alguma coisa sobre o próprio corpo e neste sentido, todos têm alguma consciência corporal. Então qual é a importância de trabalhar a consciência corporal e qual sua relação com o teatro?

O teatro é uma linguagem artística que ocorre por meio do corpo. Precisamos do corpo para nos expressar teatralmente! Neste sentido, não basta sabermos coisas básicas, como reconhecer quando sentimos fome ou quando temos sono.

Foto do arquivo da autora

A consciência corporal irá explorar as possibilidades de movimento, controle e expressão do corpo. Para tanto é importante que neste trabalho seja oferecida informações sobre a estrutura óssea, a musculatura e os órgãos, pois compreender conceitualmente, além de sensorialmente ajuda neste processo.

Mas, é na exploração das possibilidades corporais que iremos conhecer nosso corpo. Um dos aspectos importantes a ser ressaltado é que não existe um modelo perfeito onde devemos chegar. Os corpos são tão variados como o número de pessoas existentes na Terra. Conhecer esta diversidade e reconhecer suas especificidades é parte desta proposta.

Vale a pena lembrar que o corpo não é apenas força ou alongamento, estas duas qualidades são características da musculatura corporal e irão interferir nas possibilidades de realização de alguns movimentos, de alguns gestos, mas a expressão não está vinculada a potência muscular! A expressão acontece muito mais pelo quanto nos conhecemos, pela consciência que temos de nossas possibilidades do que pelo exercício muscular.

O corpo é pele, olhos, boca, voz, dedos do pé… Nosso corpo irá se expressar com cada cantinho, assim como com o todo. As emoções que sentimos interferem na forma pela qual nos expressamos e conseguir controlar as emoções é parte do trabalho de consciência corporal. Saber até onde podemos controlar, também é parte da consciência sobre nossas possibilidades.

São inúmeros os campos de atuação para que possamos saber mais sobre o funcionamento corporal e sobre nosso potencial expressivo. Na próxima proposta dos Alunos em cena iremos apresentar uma sugestão. Enquanto isso, vá sentindo seu corpo e descobrindo um pouco mais sobre você!

Romeu e Julieta

Falar das peças de Willian Shakespeare é fácil! Não porque seus textos sejam simples ou porque sejam poucos, mas porque são bons! E como meu propósito nesta aba desse blog é fazer com que você tenha vontade de ler dramaturgia, este autor me deixa com muitos argumentos para te convencer.

Das peças escritas por Shakespeare, 38 chegaram até os dias atuais. Tendo vivido entre os anos de 1564 e 1616, na Inglaterra, foi diretor de um teatro “O Globe” e é o principal representante das obras deste período na Europa, ainda que tenhamos outras formas teatrais também importantes no Renascimento.

Giulia Gam e Marco Antonio Pamio na montagem de Romeu e Julieta, de 1984, dirigida por Antunes Filho, disponível em http://ocafe.com.br/teatro/grandes-diretores-antunes-filho/

Shakespeare escreveu tragédias e comédias, além de dramas históricos. Seus personagens são bastante conhecidos, sendo possivelmente a frase de Hamlet “Ser ou não ser, eis a questão” uma das mais conhecidas de toda a dramaturgia mundial, mesmo considerando o fato de que muitas pessoas que conhecem a frase nunca tenham lido nenhuma de suas peças.

Escolhi sua peça mais famosa: Romeu e Julieta! Minha escolha deve-se ao fato de adorar esta história e este texto. Considero uma boa aproximação ao autor, mas somente se você for alguém que se interesse por histórias de amor. Se não for, leia outra, pode ser Hamlet ou Rei Lear se quiser uma tragédia, ou fique com A megera Domada ou Sonhos de uma noite de verão, caso prefira uma comédia!

A história de Romeu e Julieta dispensa explicações, mas caso você nunca tenha ouvido falar aí vai uma brevíssima explicação: a peça conta o encontro de dois jovens, de famílias que se odeiam e que, por diferentes desencontros terminarão morrendo.

A tragédia da impossibilidade de viver esta paixão nos envolve e faz com que o sofrimento vivido pelos dois possa ser reconhecido, ainda que você tenha se apaixonado somente por pessoas permitidas.

Para além da história bem tramada, o texto é de uma beleza fascinante, destes que nos fazem agradecer a felicidade que é poder ler e imaginar!

Escolhi uma cena, a famosa cena do balcão e não consegui postar somente um pedaço, então aproveite e leia a cena completa! Depois de ler, consiga o texto na íntegra e se delicie, com direito a lágrimas no final.

Montagem do Grupo Galpão, disponível em http://teatrojornal.com.br/2014/04/ode-a-shakespeare/. Foto de Valmir Santos.

ROMEU E JULIETA, ATO II, Cena II

O mesmo. Jardim de Capuleto. Entra Romeu.

ROMEU – Só ri das cicatrizes quem ferida nunca sofreu no corpo. (Julieta aparece na janela.) Mas silêncio! Que luz se escoa agora da janela? Será Julieta o sol daquele oriente? Surge, formoso sol, e mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto que, como serva, és mais formosa que ela. Deixa, pois, de servi-la; ela é invejosa. Somente os tolos usam sua túnica de vestal, verde e doente; joga-a fora. Eis minha dama. Oh, sim! é o meu amor. Se ela soubesse disso! Ela fala;
contudo, não diz nada. Que importa? Com o olhar está falando. Vou responder-lhe. Não; sou muito ousado; não se dirige a mim: duas estrelas do céu, as mais formosas, tendo tido qualquer ocupação, aos olhos dela pediram que brilhassem nas esferas, até que elas voltassem. Que se dera se ficassem lá no alto os olhos dela, e na sua cabeça os dois luzeiros? Suas faces nitentes deixariam corridas as estrelas, como o dia faz com a luz das candeias, e seus olhos tamanha luz no céu espalhariam, que os pássaros, despertos, cantariam. Vede como ela apoia o rosto à mão. Ah! se eu fosse uma luva dessa mão, para poder tocar naquela face!
JULIETA – Ai de mim!
ROMEU – Oh, falou! Fala de novo, anjo brilhante, porque és tão glorioso para esta noite, sobre a minha fronte, como o emissário alado das alturas ser poderia para os olhos brancos e revirados dos mortais atônitos, que, para vê-lo, se reviram, quando montado passa nas ociosas nuvens e veleja no seio do ar sereno.
JULIETA – Romeu, Romeu! Ah! por que és tu Romeu? Renega o pai, despoja-te do nome; ou então, se não quiseres, jura ao menos que amor me tens, porque uma Capuleto deixarei de ser logo.
ROMEU (à parte) – Continuo ouvindo-a mais um pouco, ou lhe respondo?
JULIETA – Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuarias sendo o que és, se acaso Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Sê outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume. Assim Romeu, se não tivesse o nome de Romeu, conservara a tão preciosa perfeição
que dele é sem esse título. Romeu, risca teu nome, e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo inteira.
ROMEU – Sim, aceito tua palavra. Dá-me o nome apenas de amor, que ficarei rebatizado. De agora em diante não serei Romeu.
JULIETA – Quem és tu que, encoberto pela noite, entras em meu segredo?
ROMEU – Por um nome não sei como dizer-te quem eu seja. Meu nome, cara santa, me é odioso, por ser teu inimigo; se o tivesse diante de mim, escrito, o rasgaria.
JULIETA – Minhas orelhas ainda não beberam cem palavras sequer de tua boca, mas reconheço o tom. Não és Romeu, um dos Montecchios?
ROMEU – Não, bela menina; nem um nem outro, se isso te desgosta.
JULIETA – Dize-me como entraste e porque vieste. Muito alto é o muro do jardim, difícil de escalar, sendo o ponto a própria morte – se quem és atendermos – caso fosses encontrado por um dos meus parentes.
ROMEU – Do amor as lestes asas me fizeram transvoar o muro, pois barreira alguma conseguirá deter do amor o curso, tentando o amor tudo o que o amor realiza. Teus parentes, assim, não poderiam desviar-me do propósito.
JULIETA – No caso de seres visto, poderão matar-te.
ROMEU – Ai! Em teus olhos há maior perigo do que em vinte punhais de teus parentes. Olha-me com doçura, e é quanto basta para deixar-me à prova do ódio deles.
JULIETA – Por nada deste mundo desejara que fosses visto aqui.
ROMEU – A capa tenho da noite para deles ocultar-me. Basta que me ames, e eles que me vejam! Prefiro ter cerceada logo a vida pelo ódio deles, a ter morte longa, faltando o teu amor.
JULIETA – Com quem tomaste informações para até aqui chegares?
ROMEU – Com o amor, que a inquirir me deu coragem;. deu-me conselhos e eu lhe emprestei olhos. Não sou piloto; mas se te encontrasses tão longe quanto a praia mais extensa que o mar longínquo banha, aventurara-me para obter tão preciosa mercancia.
JULIETA – Sabe-lo bem: a máscara da noite me cobre agora o rosto; do contrário, um rubor virginal me pintaria, de pronto, as faces, pelo que me ouviste dizer neste momento. Desejara – oh! minto! – retratar-me do que disse. Mas fora! fora com as formalidades! Amas-me? Sei que vais dizer-me “sim”, e creio no que dizes. Se o jurares, porém, talvez te mostres inconstante, pois dos perjúrios dos amantes,
dizem, Jove sorri. Ó meu gentil Romeu! Se amas, proclama-o com sinceridade; ou se pensas, acaso, que foi fácil minha conquista, vou tornar-me ríspida, franzir o sobrecenho e dizer “não”, porque me faças novamente a corte. Se não, por nada, nada deste mundo. Belo Montecchio, é certo: estou perdida, louca de amor; daí poder pensares que meu procedimento é assaz leviano; mas podeis crer-me, cavalheiro, que
hei de mais fiel mostrar-me do que quantas têm bastante astúcia para serem cautas. Poderia ter sido mais prudente, preciso confessá-lo, se não fosse teres ouvido sem que eu percebesse, minha veraz paixão. Assim, perdoa-me, não imputando à leviandade, nunca, meu abandono pronto, descoberto tão facilmente pela noite escura.
ROMEU – Senhora, juro pela santa lua que acairela de prata as belas frondes de todas estas árvores frutíferas…
JULIETA – Não jures pela lua, essa inconstante, que seu contorno circular altera todos os meses, porque não pareça que teu amor, também, é assim mudável.
ROMEU – Por que devo jurar?
JULIETA – Não jures nada, ou jura, se o quiseres, por ti mesmo, por tua nobre pessoa, que é o objeto de minha idolatria. Assim, te creio.
ROMEU – Se o amor sincero deste coração…
JULIETA – Pára! não jures; muito embora sejas toda minha alegria, não me alegra a aliança desta noite; irrefletida foi por demais, precipitada, súbita, tal qual como o relâmpago que deixa de existir antes que dizer possamos: Ei-lo! brilhou! Boa noite, meu querido. Que o hálito do estio amadureça este botão de amor, porque ele possa numa flor transformar-se delicada, quando outra vez nos virmos. Até à vista; boa
noite. Possas ter a mesma calma que neste instante se me apossa da alma.
ROMEU – Vais deixar-me sair mal satisfeito?
JULIETA – Que alegria querias esta noite?
ROMEU – Trocar contigo o voto fiel de amor.
JULIETA – Antes que mo pedisses, já to dera; mas desejara ter de dá-lo ainda.
ROMEU – Desejas retirá-lo? Com que intuito, querido amor?
JULIETA – Porque, mais generosa, de novo to ofertasse. No entretanto, não quero nada, afora o que possuo. Minha bondade é como o mar: sem fim, e tão funda quanto ele. Posso dar-te sem medida, que muito mais me sobra: ambos são infinitos.
(A ama chama dentro.)
Ouço bulha dentro de casa. Adeus, amor! Adeus! – Ama, vou já! – Sê fiel, doce Montecchio. Espera um momentinho; volto logo.
(Retira-se da janela.)
ROMEU – Oh! que noite abençoada! Tenho medo, de um sonho, lisonjeiro em demasia para ser realidade.
(Julieta torna a aparecer em cima.)
JULIETA – Romeu querido, só três palavrinhas, e boa noite outra vez. Se esse amoroso pendor for sério e honesto, amanhã cedo me envia uma palavra pelo próprio que eu te mandar: em que lugar e quando pretendes realizar a cerimônia, que a teus pés deporei minha ventura, para seguir-te pelo mundo todo como a senhor e esposo.
AMA (dentro) – Senhorita!
JULIETA – Já vou! Já vou! – Porém se não for puro teu pensamento, peço-te…
AMA (dentro) – Menina!
JULIETA – Já vou! Neste momento! – … que não sigas com tuas insistências e me deixes entregue à minha dor. Amanhã cedo te mandarei recado por um próprio.
ROMEU – Por minha alma…
JULIETA – Boa noite vezes mil.
(Retira-se.)
ROMEU – Não, má noite, sem tua luz gentil. O amor procura o amor como o estudante que para a escola corre: num instante. Mas, ao se afastar dele, o amor parece que se transforma em colegial refece.
(Faz menção de retirar-se.)
(Julieta torna a aparecer em cima.)
JULIETA – Psiu! Romeu, psiu! Oh! quem me dera o grito do falcoeiro, porque chamar pudesse esse nobre gavião! O cativeiro tem voz rouca; não pode falar alto, senão eu forçaria a gruta de Eco, deixando ainda mais rouca do que a minha sua voz aérea, à força de cem vezes o nome repetir do meu Romeu.
ROMEU – Minha alma é que me chama pelo nome. Que doce som de prata faz a língua dos amantes à noite, tal qual música langorosa que ouvido atento escuta?
JULIETA – Romeu!
ROMEU – Minha querida?
JULIETA – A que horas, cedo, devo mandar alguém para falar-te?
ROMEU – Às nove horas.
JULIETA – Sem falta. Só parece que até lá são vinte anos. Esqueci-me do que tinha a dizer.
ROMEU – Deixa que eu fique parado aqui, até que te recordes.
JULIETA – Esquecê-lo-ia, só para que sempre ficasses ai parado, recordando-me de como adoro tua companhia.
ROMEU – E eu ficaria, para que esquecesses, deixando de lembrar-me de outra casa que não fosse esta aqui.
JULIETA – É quase dia; desejara que já tivesses ido, não mais longe, porém, do que travessa menina deixa o meigo passarinho, que das mãos ela solta – tal qual pobre prisioneiro na corda bem torcida – para logo puxá-lo novamente pelo fio de seda, tão ciumenta e amorosa é de sua liberdade.
ROMEU – Quisera ser teu passarinho.
JULIETA – O mesmo, querido, eu desejara; mas de tanto te acariciar, podia, até, matar-te. Adeus; calca-me a dor com tanto afã, que boa-noite eu diria até amanhã.
ROMEU – Que aos teus olhos o sono baixe e ao peito. Fosse eu o sono e dormisse desse jeito! Vou procurar meu pai espiritual, para um conselho lhe pedir leal.
(Sai.)

Alunos em cena: Iluminando partes do corpo

Esta proposta tem como objetivo explorar a luz, percebendo  outras formas de ver o corpo

Para quem?

Todas as idades, a partir de 2 anos.

Condições necessárias

Uma sala escura com espaço para que todos se movimentem

Materiais necessários

Lanternas

 

As fotos deste post são do acervo da autora.

Como acontece?

Distribua uma lanterna para cada participante e peça que eles fiquem um tempo em silêncio no escuro, sem fazer nada. Este tempo é somente para que o grupo se acostume com a falta da iluminação e possa perceber o espaço com a ausência de luz.

Caso você esteja trabalhando com crianças muito pequenas e o espaço disponível for muito escuro, é importante diminuir a luz aos poucos e, no caso de ter alguém com medo, deixar um pequeno foco de luz, que pode ser de uma das lanternas, até que eles se acostumem com a escuridão.

Proponha então que todos utilizem a lanterna para iluminar uma parte do próprio corpo, percebendo quais as transformações que ocorrem na maneira de verem seus corpos, com este foco de luz.

Além de explorar o foco em várias direções, cada um deverá explorar diferentes movimentos corporais que criarão novas formas, que por sua vez, serão percebidas de maneira diversa conforme o posicionamento da lanterna.

Uma variação interessante desta proposta é pedir que metade do grupo somente assista e depois troquem de posição. A observação de quem se movimenta permite um novo olhar para os corpos dos colegas e seus movimentos. Esta divisão pode não dar certo para crianças pequenas.

Para continuar

Um desdobramento possível deste jogo é colocar as lanternas nas mãos de quem está assistindo e, então serão eles que escolherão o que querem iluminar.

João e Maria com Cia. Le Plat du Jour

Escolher qual peça indicar da Cia. Le Plat du Jour não é fácil! Acompanho o trabalho desta companhia há muitos anos e já dei muita risada com elas! O público são as crianças, mas suas peças são destas que qualquer mãe agradece por poder levar sua filha a um espetáculo no qual ela também se divertirá.

A primeira qualidade a ser ressaltada é que ninguém é tratado como burro. São montagens para crianças, não para pessoas pequenas e tontas! Sem perder de vista as características do público infantil, as peças primam por uma abordagem que leva o espectador a pensar, ao menos todo o tempo no qual ele não está rindo.

As fotos deste post são de Rute Pina, disponíveis no site do grupo.

A beleza das montagens, seja no cuidado com o cenário ou com o figurino também é louvável. Não encontramos soluções que sejam o primo pobre da Disney, não há qualquer tentativa de imitar este enorme campo de influência tão presente nos espaços destinados às crianças. Nada disso! Uma estética brasileira e delas, deste grupo, bonita, bem cuidada, sem cair em soluções padronizadas.

O espetáculo sobre o qual escolhi falar é o “João e Maria”. No site do grupo www.cialeplatdujour.com/ é possível encontrar a seguinte explicação:

O espetáculo é a adaptação da Cia. Le Plat du Jour para o clássico dos Irmãos Grimm.

Em uma criativa montagem, a narrativa ganhou um cunho ecológico e a graça de duas simpáticas pássaras, Bicudinha e Bicudona, com um divertido sotaque nordestino, que encontram-se em apuros.

 Por causa do desmatamento, as duas querem cair fora da floresta e se aventuram em um concurso de dança internacional. São elas que dão a deixa para a entrada em cena da história de João Maria e Maria João, os irmãos perdidos no bosque.

 As atrizes revezam-se nos papéis, somando técnicas de mímica e palhaço. Na companhia de bonecos e de um cenário funcional e colorido, do qual fazem parte uma apetitosa casa da bruxa e um belo rio de tecidos azuis. Elas fazem o ingresso valer a pena!

O ingresso e teu tempo valem a pena. No site também é possível ficar sabendo sobre a história da companhia, os demais espetáculos e a agenda, para que você se programe e possa assistir.

Não perca, se você não tem nenhuma criança para levar, leve um adulto mesmo!

 

Ficha técnica

Criação e texto: Le Plat du Jour

Direção: Alexandra Golik e Carla Candiotto

Elenco: Beatriz Diaféria e Flávia Strongolli

Trilha sonora: Pepe Cisneros e Bruno Cardoso

Desenho de luz: Miló Martins

Cenário: Le Plat du Jour

Adereço de cenário e figurino: Nani Brisque

Técnico de som: Pedro Moura

Técnico de luz: João Luiz Balliero

Produção e realização: Le Plat du Jour

Classificação etária: a partir de três anos

Duração: 55 minutos

Gênero: Comédia

Tema: O Conto de João e Maria

Conteúdo: A história de João e Maria contada por duas passarinhas e ambientada à problemas atuais, como meio ambiente.

O que vou iluminar?

A cena teatral pode ocorrer em qualquer espaço. Muitas vezes ocorre na rua, sob a luz do sol, que é uma luz tão poderosa que dificilmente podemos concorrer com ela! Mas quando estamos fechados entre quatro paredes e cobertos por um teto, ter uma luz que ilumine o espaço é condição para que possamos ver o que ocorre nele.

Foto disponível em www.funarte.gov.br

Até 1879 a luz elétrica não existia, o que significa que as apresentações teatrais eram feitas com a iluminação solar ou com a luz proveniente do fogo e de outras maneiras de manter um lampião aceso, como querosene ou gás, por exemplo. Muitos teatros pegaram fogo por esta condição.

A dificuldade em acender e apagar os lampiões ou semelhantes fez com que por muito tempo todo o espaço teatral permanecesse iluminado, não havendo distinção entre palco e plateia, no que diz respeito a iluminação.

Nestes quase cento e cinquenta anos, desde a descoberta da luz elétrica, muitos recursos foram inventados, criando múltiplas possibilidades para a cena. Entretanto, apesar da grande diversidade tecnológica, a pergunta sobre o que vou iluminar permanece.

Se não queremos fazer da montagem teatral um show de luzes, precisaremos escolher onde colocar luz conforme as necessidades que a cena pede.

Não há dúvida de que ter um teatro com muitos recursos é a delícia da maior parte dos encenadores. Poder experimentar qual luz se adequa mais a cada cena, com as variedades de cores, as multiplicidades de recortes e de focos é algo que enriquece a cena. Se além do equipamento o grupo contar também com um bom iluminador, que irá se debruçar na análise das necessidades, tendo já um conhecimento sobre as possibilidades técnicas, e criando soluções para a cena. Aí então, chegamos aos céus e com um foco de luz iluminando o caminho.

Mas se teu trabalho é em uma escola na qual teu único recurso é a luz branca do teto, lembre-se que existem abajures e lanternas para darem graça à nossa vida e à nossa cena.

O mais importante ao pensarmos a luz da cena é explorarmos as necessidades que a cena pede. Se a cena pede escuro, mas só pode ser feita em uma sala iluminadíssima, você terá que descobrir outros recursos para que o escuro chegue neste espaço cheio de luz.

Só não deixe que a falta de recursos se transforme em pobreza para a tua imaginação. Veja quais as cores e os tons que a cena pede; quais os recortes de luz, o enquadramento necessário e se ponha a explorar possibilidades, sem abandonar este campo da cena porque te falta equipamentos. Afinal, só vale apagar a luz do interruptor da escola, quando tivermos uma chama acesa!