A Vida

 

“Seis atores e seu diretor se propõem a investigar suas tragédias pessoais e fazer delas teatro. Um mergulho em questões viscerais que resistiram à passagem do tempo. Um jogo de combinações e subjetividades. Uma rede de encontros preciosos, em que cada cena emerge em mútua relação com as outras. Um espetáculo caótico e imponderável como a vida. A cada sessão, uma nova versão de si mesmo.” – Desta forma o grupo se apresenta no site do SESC Santo Amaro, onde a peça está em cartaz até dia 9 de julho.

Ao entrar na peça, entramos também em um jogo, já que sua estrutura é feita de tal maneira que a sequência de cenas que eu vi é bem provável que só seja vista pelas pessoas que estiveram comigo no dia 17 de junho. A razão pela qual cada apresentação é única está nas muitas combinações possíveis entre as cenas que são sorteadas em cada uma das 8 fases propostas. São 27 cenas, das quais veremos apenas 8.

O jogo presente na montagem é, sem dúvida, um aspecto instigante desta apresentação, mas o que mais impressiona é a coragem, de cada ator e do diretor, ao participar de uma montagem que apresente trechos biográficos com tanta vida! A apresentação pulsa, em alguns momentos esmurra e é doída. Mas em todos eles reflete a intensidade de um grupo que escolheu apresentar a vida em forma de arte, com a beleza da criação.

Para um blog que aborda a improvisação como este, vale ressaltar que as cenas apresentadas não são improvisadas! São todas elas resultado de uma investigação coletiva, mas definidas previamente. O que é mutável é a escolha de quais cenas serão feitas a cada apresentação, escolhidas no girar da roleta!

A indicação etária é para maiores de 16 anos. Vá até lá, confira. Vale a pena!!!

 

Ficha Técnica

Direção geral: Nelson Baskerville

Assistência de direção: Anna Zepa

Dramaturgia: Nelson Baskerville e Elenco

Colaboração dramatúrgica: Marcos Ferraz

Elenco: Camila Raffanti, Felipe Schermann, Hercules Moraes, Nuno Carvalho, Tamirys Ohanna e Thaís Medeiros

Cenografia: Amanda Vieira

Direção audiovisual: Laerte Késsimos

Direção de pesquisa corporal: Cristiano Karnas

Estudo de estruturas matemáticas: Carlos Vianna

Fotografia: Ligia Jardim

Produção executiva: Amanda Vieira e Thaís Medeiros

Idealização e Produção geral: AntiKatártiKa Teatral (AKK)

Qual o papel do cenário?

Para podermos pensar em como criar um cenário teatral, precisamos entender o que é um cenário e qual sua função na montagem de uma peça ou na prática teatral.

O cenário é composto pelos objetos e pelos elementos visuais que irão compor a cena. Precisamos diferenciar o cenário do espaço da cena, que pode ser um palco de um teatro, a rua, um barco ou uma sala de aula. O espaço onde a cena ocorre, com toda certeza, define parte das características da cena, e falaremos disso em uma outra postagem.

O cenário é o que colocamos em um espaço de cena já definido e que irá dialogar com o trabalho dos atores para a construção da cena.

Imagem retirada de http://www.funarte.gov.br/

Gianni Ratto apresenta diferentes definições de cenografia em seu livro Antitratado de cenografia: variações sobre o mesmo tema. E eu escolhi uma delas para entendermos um pouco mais sobre o assunto:

Cenografia é o espaço eleito para que nele aconteça o drama ao qual queremos assistir. Portanto, falando de cenografia, podemos entender tanto o que está contido num espaço quanto o próprio espaço. […] Cenografia é a identificação de um espaço único e irrepetível capaz de receber sem inúteis interferências as personagens propostas e os atores que as interpretam. A verdadeira cenografia é determinada pela presença do ator e de seu traje; a personagem que se movimenta nas áreas que lhe são atribuídas cria constantemente novos espaços alterados, consequentemente, pelo movimento dos outros atores: a soma dessas ações cria uma arquitetura cenográfica invisível para os olhos, mas claramente perceptível, no plano sensorial, pelo desenho e pela estrutura dramatúrgica do texto apresentado.

Nesta definição fica clara a relação entre todos os elementos da cena e a importância de que os objetos escolhidos não sejam um enfeite do palco, mas, sim, que dialoguem com todos os demais elementos da montagem.

 

 

 

Para quem quiser descobrir um pouco mais do trabalho de cenário, veja a seguir algumas dicas.

  • Uma recomendação comum, quando falamos de ensino de teatro, é que o cenário só apareça quando ocorrem apresentações e, em geral, bem perto do dia de apresentar – de preferência, na hora de apresentar. Esta visão de cenário está pautada na ideia de que o cenário tem como função embelezar a cena. No entanto, ainda que possamos mesmo deixar a cena mais bonita, o cenário precisa ser vivido como elemento que irá compô-la e, portanto, ele precisa aparecer no decorrer de todo o trabalho de experimentação, no jogo, nas brincadeiras.
  • Dentro da escola, o cenário pode ser montado como motivador para a cena. Se estamos falando de crianças bem pequenas, de zero a 3 anos, o mais indicado é que os professores organizem o espaço para que elas brinquem nele. Para as demais idades, também podemos ter momentos nos quais os alunos serão surpreendidos com o espaço transformado.
  • Mas outra forma de criar cenários é com a participação dos alunos, com uma elaboração que pode ocorrer com todos juntos ou com pequenos grupos. Evidentemente, depois de montar, as crianças irão experimentar cenas neste novo espaço!

Para saber mais:

Você pode conhecer mais sobre o trabalho de Gianni Ratto no site da FUNARTE: http://www.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/cenario-e-figurino/biografia-de-gianni-ratto/

Ou no Instituto Gianni Ratto: http://gianniratto.org.br/

Alunos em Cena: Virando Objetos

O teatro é uma arte que tem o corpo como principal caminho para expressão. Esta proposta irá oferecer recursos para que a criança descubra como o seu corpo pode dizer coisas para além da fala.

Para quem?

Crianças de 4 a 6 anos

Condições necessárias

Uma sala com espaço para que todos se movimentem. Também pode ser ao ar livre, preferencialmente com um piso limpo no qual seja possível se deitar.

Materiais necessários

Nenhum

Como acontece?

Embora as crianças se movimentem e se expressem muito corporalmente, podemos começar com um breve aquecimento, o “amassa pão”: diga às crianças que iremos amassar as diferentes partes do corpo, como se fosse uma massa de pão. Vá nomeando cada parte: pés, tornozelo, joelho, coxa, quadril, barriga, costas, braços, ombros, pescoço, cabeça e rosto. Vale a pena chamar atenção para partes que podem ficar esquecidas, como o dedo mindinho do pé esquerdo, a orelha direta ou a parte de trás do joelho. Também é importante dizer que em algumas partes a massa está mais dura e podemos apertar mais forte, mas em outras é um pão delicado e vamos amassar só com as pontinhas dos dedos. Cada criança irá amassar o próprio corpo, embora esta proposta também possa ser feita em dupla, com um massageando o corpo do outro.

Com o corpo já preparado, vamos começar a sua transformação!

Proponha para as crianças que elas se transformem em vários objetos de uma casa e vá nomeando as opções: cama, mesa, abajur, mesa, geladeira… e quantos mais a ideia. Todas as crianças farão todos os objetos. Como os objetos são inanimados, o mais provável é que elas fiquem paradas um tempo na posição que melhor representa o objeto, mas não espere muito tempo de imobilidade, pois é uma proposta de movimento.

Depois de feito por um tempo, você pode pedir sugestões das crianças para qual objeto será imitado e assim as crianças 

participarão também da escolha do que representar. Se o grupo começar a ficar muito agitado, escolha um objeto que leve a uma maior tranquilidade, como um colchão, e deixe que eles permaneçam por um tempo maior na imobilidade, ao invés de ficar pedindo que se acalmem ou fiquem quietos.

Qual é a hora de parar? Quando as crianças demonstram que perderam o interesse!

Para quem mais?

Esta proposta pode ser feita para qualquer idade, incluindo adultos, basta que a linguagem na maneira de propor se adeque ao grupo com quem você estiver trabalhando.

Proposta realizada com crianças da Educação Infantil na prefeitura de São Paulo, em 2016.

Dramaturgia: Édipo Rei

Escolhi como texto para este primeiro post uma peça pela qual me apaixonei enquanto lia. A história é bastante conhecida e muitas montagens já foram feitas dela, afinal, é um dos mais antigos registros de textos teatrais da história ocidental.

Édipo Rei foi escrito por Sófocles por volta de 427 a.C., na Grécia Antiga. É parte de uma trilogia, isto é, três peças que se relacionam, embora seja possível compreender cada uma delas em separado.

A linguagem utilizada pode soar estranha quando começamos a ler, mas conforme seguimos, a história nos envolve de tal forma, que a maneira pela qual foi escrita deixa de ser uma dificuldade. Mas quem nunca leu um texto antigo precisa insistir, pois demora um pouco para engrenar.

De forma muito resumida, podemos dizer que nesta história Édipo mata seu pai e se apaixona por sua mãe, Jocasta, casando-se com ela. Mas o que interessa, como sempre acontece com as boas histórias, é como isso aconteceu. Na leitura do texto podemos acompanhar todo o sofrimento de Édipo e de Jocasta na busca da verdade da história da vida deles, e após sua descoberta, o terror que sentem por terem cometido  ato tão pavoroso quanto o incesto de mãe e filho.

Um dos personagens centrais desta peça é Tirésias, o profeta que irá ajudá-los nesta descoberta avassaladora. Podemos ler um pequeno trecho do diálogo de Tirésias com Édipo.

O CORO: Acaba de chegar quem tudo nos vai descobrir! Trazem aqui o divino profeta, o único, entre todos os homens, que sabe desvendar a verdade!

Entra TIRÉSIAS, velho e cego, guiado por um menino. Escoltam-no dois servidores de ÉDIPO. EDIPO: Ó Tirésias, que conheceis todas as coisas, tudo o que se possa averiguar, e o que deve permanecer sob mistério; os signos do céu e os da terra… Embora não vejas, tu sabes do mal que a cidade sofre; para defendê-la, para salvá-la, só a ti podemos recorrer, ó Rei!” Apolo, conforme deves ter sabido por meus emissários, declarou a nossos mensageiros que só nos libertaremos do flagelo que nos maltrata se os assassinos de Laio forem descobertos nesta cidade, e mortos ou desterrados. Por tua vez, Tirésias, não nos recuses as revelações oraculares dos pássaros, nem quaisquer outros recursos de tua arte divinatória; salva a cidade, salva a ti próprio, a mim, e a todos, eliminando esse estigma que provém do homicídio. De ti nós dependemos agora! Ser útil, quando para isso temos os meios e poderes, ë a mais grata das tarefas!

TIRÉSIAS: Oh! Terrível coisa é a ciência, quando o saber se toma inútil! Eu bem assim pensava; mas creio que o esqueci, pois do contrário não teria consentido em vir até aqui.

ÉDIPO Que tens tu, Tirésias, que estás tão desalentado?

TIRÉSIAS Ordena que eu seja reconduzido a minha casa, ó rei. Se me atenderes, melhor será para ti, e para mim.

ÉDIPO Tais palavras, de tua parte, não são razoáveis, nem amistosas para com a cidade que te mantém, visto que lhe recusas a revelação que te solicita.

TIRÉSIAS Para teu benefício, eu bem sei, teu desejo é inoportuno. Logo, a fim de não agir imprudentemente…

ÉDIPO Pelos deuses! Visto que sabes, não nos ocultes a verdade! Todos nós, todos nós, de joelhos, te rogamos!

TIRÉSIAS Vós delirais, sem dúvida! Eu causaria a minha desgraça, e a tua!

ÉDIPO Que dizes?!… Conhecendo a verdade, não falarás? Por acaso tens o intuito de nos trair, causando a perda da cidade?

TIRÉSIAS Jamais causarei tamanha dor a ti, nem a mim! Por que me interrogas em vão? De mim nada ouvirás!

Para quem nunca leu teatro, vale observar as indicações das ações previstas para a cena. Estas indicações cênicas (também chamadas de rubricas ou didascálias) são informações que o dramaturgo escreve sobre as ações previstas para uma montagem teatral.

Outro aspecto que pode passar desapercebido é a existência do Coro, que neste pequeno trecho tem apenas uma fala. O Coro é uma presença constante nas peças gregas, com a função de comentar o que já ocorreu ou o que ainda está por vir. O Coro, que pode parecer pouco importante, é a origem do teatro grego, mas disso falarei em outro post.

Sendo uma tragédia, sabemos que final feliz não haverá! Mas o que interessa nesta leitura não é a alegria ou o perdão, já que nada disso ocorre, mas sim a dor vivida por este homem que se apaixona pela própria mãe, sem saber que era seu filho, colocando em desgraça não apenas a própria vida, mas a de sua mãe e dos  filhos gerados por esse casal incestuoso.

Se você se apaixonar, como eu, por este texto, poderá ler toda a trilogia, que continuará com Édipo em Colono e Antígona.

Para quem se interessou, o texto está disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000024.pdf

Teatro Para Bebês: Achadouros

Espetáculo feito para bebês, que propõe uma linguagem para esta faixa etária e que alcança seu objetivo, mantendo o interesse destes seres tão pequeninos.
Assisti a esta apresentação em um dia quente, no V Festival Internacional de Teatro para Bebês, promovido pelo grupo Sobrevento, em São Paulo. A sala estava cheia de bebês e seus pais e foi encantador observar a forma pela qual os bebês acompanharam a apresentação.

Foto de Diego Bressani retirada do site do grupo.

A peça é poesia pura e apresenta gestos e falas do universo dos bebês.
A sinopse, que pode ser conferida em www.achadouros.com, diz:
“O ser humano e sua chegada no mundo. Vestígios de degradação ou matéria prima para criação? Um universo a ser desvendado. A percepção de si, do outro, das diversas formas de vida. A construção das relações. O poder imaginativo que leva à transformação e à reorganização da realidade.
Duas personagens convidam o público a aventurar-se com elas em seu quintal imaginário. Através de encenação poético-teatral o espetáculo conduz a uma arqueologia das memórias da infância e convida o espectador a escrever sua própria história.”
A escolha de objetos simples, a inexistência de ruídos ou sons que assustam os bebês, assim como os figurinos delicados e tranquilos, nos faz sentir que estamos em uma proposta elaborada para bebês, feita por pessoas que conhecem seu público.
Neste espetáculo não colocamos os bebês na tensão do excesso, na exposição ao susto, ao ritmo acelerado permeado por músicas estridentes. Não! Não é um espetáculo que se aproxime de uma propaganda que berra para chamar a atenção das crianças
Ao contrário, toda sua poesia é oferecida com delicadeza, com calma, com repetições, tão presentes nesta fase da vida.

Foto de Diego Bressani retirada do site do grupo.

A simplicidade dos gestos e o tempo oferecido à fruição denotam o conhecimento deste grupo sobre o universo infantil!
Para quem quiser saber mais, acesse o site acima indicado e veja a equipe que elaborou este trabalho:

 

 

Elenco: Caísa Tibúrcio e Nara Faria
Direção: José Regino
Dramaturgia: Criação coletiva
Criação musical: Caísa Tibúrcio e Nara Faria
Figurino: José Regino
Cenografia: Chico Sassi
Iluminação: Marcelo Augusto
Produção geral: V4 Cultural
Produção executiva: Pedro Caroca
Assistente de Produção: Tiana Oliveira
Designer gráfico: Jana Ferreira
Fotografia: Débora Amorim e Diego Bresani
Registro Videográfico e Edição: Fabiano Morari

O que se aprende improvisando?

Improvisar é um termo cotidianamente utilizado quando se quer expressar que não nos preparamos para algo e precisamos resolver um problema de última hora. Nesta concepção, a ideia de improvisar está bastante associada à falta de preparo e à provável falta de qualidade. Mas também traz a ideia de algo que será feito sem um roteiro prévio e, neste aspecto, se aproxima do conceito de improvisação teatral.

Improvisação do grupo que pesquisei no meu mestrado

A improvisação pode acontecer em diferentes áreas do conhecimento e é bastante frequente na Arte. Os músicos ou os dançarinos improvisam em muitas de suas apresentações, o que significa que nem tudo o que fazem foi previamente ensaiado.
No teatro, a improvisação pode ocorrer no momento da apresentação, e alguns espetáculos são estruturados de forma a que a improvisação ocorra permanentemente.

Foto retirada do site do grupo.

Um grupo teatral que tem como base a improvisação é a Cia. do Quintal. Em seus espetáculos, eles unem a improvisação e o palhaço, e as cenas são criadas com a participação do público. No espetáculo Jogando no quintal, os atores são palhaços e a cena é ambientada como um jogo de futebol.
Os palhaços-atletas são divididos em times. Além deles, há um árbitro-palhaço e uma banda de músicos-palhaços, que cria sons e melodias ao vivo. As cenas são criadas com as sugestões de temas dadas pelo público.
Esse é um exemplo de espetáculo que tem a improvisação em sua estrutura, mas pela descrição é possível perceber que os atores não entram em cena sem ter nenhuma ideia do que ocorrerá. Existe uma proposta que sustenta a cena, que dá um caminho por onde a peça se desenvolverá, mas cada cena é criada no momento em que ocorre.
Você pode conhecer um pouco mais sobre a Cia. do Quintal passeando pelo site http://www.ciadoquintal.com.br.

O uso improvisação em cena não é algo novo e num outro post falarei sobre esta história, mas quero comentar sobre a improvisação antes da apresentação, a apresentação como uma forma de se expressar.
Alguns autores escreveram sobre diferentes formas de representar. Existe muita pesquisa sobre o trabalho do ator. Você pode saber mais sobre esse assunto pesquisando alguns dos encenadores que apresentaram propostas e perceber a diferença entre eles. Dois nomes muito conhecidos entre os vários existentes são o do russo Constantin Stanislavski (1863-1938) e o do inglês Peter Brook (1925).
Alguns autores escreveram sobre diferentes formas de representar. Existe muita pesquisa sobre o trabalho do ator. Você pode saber mais sobre esse assunto pesquisando alguns dos encenadores que apresentaram propostas e perceber a diferença entre eles. Dois nomes muito conhecidos entre os vários existentes são o do russo Constantin Stanislavski (1863-1938) e o do inglês Peter Brook (1925).
Uma autora que escreveu muitas propostas de jogos teatrais tendo a improvisação como base foi a norte-americana Viola Spolin (1906-1994). Nos seus livros é possível encontrar muitos jogos e descobrir maneiras de explorar essa forma teatral, essa forma de criação que pode ocorrer para a criação das cenas ou, como na Cia. do Quintal, ser uma proposta que permanece até o final da apresentação.
Na proposta de Spolin, a improvisação irá ocorrer por meio dos Jogos, claramente sintetizados por Ingrid D. Koudela:
Spolin sugere que o processo de atuação no teatro deve ser baseado na participação em jogos. Por meio do envolvimento criado pela relação de jogo, o participante desenvolve liberdade pessoal dentro do limite de regras estabelecidas e cria técnicas e habilidades pessoais necessárias para o jogo. À medida que interioriza essas habilidades e essa liberdade ou espontaneidade, ele se transforma em um jogador criativo. Os jogos são sociais, baseados em problemas a serem solucionados. O problema a ser solucionado é o objeto do jogo. As regras do jogo incluem a estrutura (Onde, Quem, O Que) e o objeto (Foco) mais o acordo de grupo (Koudela: 1990:43).
Esta não é a única maneira de improvisar, outros autores e encenadores trabalham a improvisação tendo diferentes perspectivas e diferentes maneiras de propor. Vale a pena conhecer um pouco para poder escolher o que é mais adequado para você e para seu grupo de alunos.

Improvisação do grupo que pesquisei no meu mestrado

Por que a improvisação é uma forma importante de ensinar teatro?
Da mesma forma que acontece na cena teatral, quando criamos este espaço de improvisação na escola, possibilitamos aos alunos que encontrem soluções pessoais para a elaboração de cenas, para a criação de personagens, para que encontrem os gestos necessários. Se não ofereço uma definição prévia sobre como a cena deve ocorrer, possibilito que muitas soluções sejam exploradas, levando à criação.
Outro aspecto significativo na improvisação é a prontidão. Quando não temos um roteiro prévio, precisamos encontrar soluções à partir dos recursos que temos e que muitas vezes nem sabemos que estavam ali. Neste sentido, improvisar é um exercício que exige a capacidade de me virar, de encontrar nos cantos do meu corpo soluções para o que é necessário fazer.
Por fim, a presença é outro conceito que será explorado na improvisação. Se não estamos presentes, atentos ao espaço, a si mesmo e às pessoas com quem estou improvisando, nada irá acontecer.
Nesse sentido, a improvisação pode ser interessante quando o objetivo da atividade com os alunos é o desenvolvimento da criatividade, a busca de soluções para um problema, o desenvolvimento da prontidão e da presença. Essas habilidades são importantíssimas para a realização de várias ações cotidianas, nas quais precisamos encontrar soluções para quando a vida não ocorre conforme o planejado, ou para a criação em outras áreas de conhecimento, como a produção de texto ou ainda, a capacidade de trabalhar em grupo, ouvindo o outro.Muito mais poderíamos falar sobre este tema, que é vasto, mas paro por aqui e volto a ele em outros momentos!