Assisti o musical Billy Elliot, na cidade de Budapest, em uma montagem feita pela Hungarian Sate Opera, em julho passado.
A peça é baseada no filme de mesmo nome, que conta a história de um garoto talentoso nascido em uma família pobre que é contra seu desejo de se tornar um dançarino de balé. Se passa em 1984, nas cidades mineradoras da Inglaterra. O enredo apresenta os conflitos dos trabalhadores, dos quais seu irmão e seu pai fazem parte em contraponto com o interesse do menino por dançar, quando deveria estar aprendendo boxe.
Esta montagem foi produzida pela primeira vez na Ópera Húngara, no verão de 2016, dirigido por Tamás Szirtes e coreografado por Ákos Tihanyi. O elenco triplo incluía atores do teatro popular húngaro como Judit Ladinek, Nikolett Gallusz, Éva Auksz, András Stohl, Sándor Tóth, Kristóf Németh, Eszter Csákányi, Ilona Bencze e Ildikó Hűvösvölgyi que participaram da montagem desde o princípio.
Neste ano, novos atores foram selecionados para os personagens das crianças. O papel de Billy é extremamente difícil, pois exige que os atores infantis possam dizer em prosa, cantar e dançar, incluindo passos de balé.
A sequência do Lago dos Cisnes foi realizada por bailarinos do Ballet Nacional Húngaro e a música ao vivo foi executada pela Orquestra da Ópera Estatal da Hungria, regida por Géza Köteles e István Silló.
De maneira geral, não sou fã de musicais. Não é o gênero que mais me interessa, mas foi uma experiência interessantíssima, tanto pela qualidade da montagem, como pela possibilidade de assistir a um espetáculo em uma língua tão diversa da nossa. Não há dúvida de que ouvir uma peça falada e cantada em um idíoma do qual não consigo compreender nenhuma palavra foi um ótima oportunidade para aguçar um novo olhar para a cena. Recomendo!
As férias já terminaram, mas a vontade de continuar passeando ainda não me abandonou, por isso este post é sobre um teatro que conheci em julho.
Plovdiv é a segunda maior cidade da Bulgária, próxima de Sófia, a capital deste país que pouco conhecemos por aqui, não apenas pela distância, mas porque a Bulgária fez parte do bloco comunista do Leste Europeu, e em decorrência disso, passou muitos anos sem que o acesso fosse tão fácil, diferentemente das cidades mais conhecidas da Europa.
Esta charmosa cidade, uma das mais antigas do continente europeu, passou pelas mãos dos Romanos e dos Otomanos, povos que deixaram marcas importantes nesta região. Uma delas é o teatro de arena, construído na Roma Antiga. No site da cidade, é possível saber que:
“O antigo teatro de Philipoppol é um dos teatros antigos mais bem preservados do mundo. Ele está localizado na encosta sul das Três Colinas, no vale entre Taksim e Dzhambaz tepe. Descoberto por arqueólogos de Plovdiv e reconstruído no início dos anos 80 do século XX, o antigo teatro de Philipoppol está entre as descobertas mais significativas do período romano. Inscrições recentemente encontradas e decifradas em um pedestal monumental revelam que o teatro foi construído nos anos 90 do século I d.C., quando Filipolol estava sob o governo de Tito Flávio Cotis — herdeiro de uma dinastia real trácia, sumo sacerdote da província de Trácia, representante do Tribunal Metropolitano de Justiça e responsável pelos canteiros de obras.
A área do espectador ao ar livre inclui 28 fileiras concêntricas de assentos de mármore cuja forma de ferradura, em torno do palco-orquestra, possui 26,64m de diâmetro. Além de apresentações de teatro, o local foi usado para jogos de gladiadores e caça, bem como sede da Assembleia Geral da província romana da Trácia (Tracon koinon). Esteve em atividade até o final do século IV e chegou a ter capacidade para cerca de 6 mil espectadores. Costumava haver uma loja para o imperador e outros funcionários na segunda fila de cadeiras acima do arco.
Hoje em dia, o teatro antigo é simbólico para Plovdiv e ajustado para a vida cultural moderna da cidade. Está operando como um palco de ópera, música e drama. Alguns dos melhores eventos anuais são o Festival Internacional de Folclore, o Festival de Ópera “Opera Open”, o Festival de Rock “Sounds of Ages” e muitos outros.”
Estive lá em um dia de muito calor, no qual foi possível viver a experiência de estar em um lugar tão antigo que permanece vivo, o que era perceptível na desmontagem do cenário de uma apresentação que havia ocorrido um dia antes. Não foi possível ver um espetáculo, mas caminhar por um lugar onde tantas cenas já foram feitas é uma alegria que perdura.
No próximo post vou comentar um pouco mais sobre as características do teatro de arena.
Esta proposta se inicia com um aquecimento corporal no qual você irá pedir que cada participante expresse um sentimento de três formas diferentes. Esta solicitação pode ser feita com um jogo de estátua, na qual cada um terá que fazer um gesto para raiva, paixão, decepção e todos os sentimentos que você selecionar. Depois que fizer uma vez, repita o sentimento e peça outro gesto que o represente. Esta solicitação pode ser feita diversas vezes.
Depois deste aquecimento, divida o grupo em trios e entregue uma cena curta para cada trio, com frases simples para que eles possam decorar sem dificuldade.
Cada integrante do trio deverá falar no máximo três frases, para que eles possam trabalhar no gesto e não se preocupar tanto com a fala.
Peça que elaborem a cena, investigando os gestos que farão em todo o desenvolver da cena, não apenas quando estão falando.
Depois que todo o grupo tiver apresentado suas cenas, entregue uma consigna para cada um que oriente sua gestualidade, tais como: exagerado, contido, estabanado, hesitante, etc.
Peça, então, que os grupos refaçam a cena, agora com gestos de acordo com as consignas e quando apresentarem as novas cenas, converse sobre as diferenças percebidas e sobre a possibilidade de fazer a mesma cena com outros gestos.
Para variar
Neste jogo o que importa é a percepção de que podemos encontrar muitas maneiras de nos expressarmos corporalmente com um mesmo texto.
Outra possibilidade de variação deste jogo é pedir que os gestos se contraponham ao texto, provocando um conflito entre fala e gesto.
Esta proposta poderá gerar conversas sobre a caracterização dos personagens e sobre o que dizemos com nossos corpos independentemente de nossa fala.
Neste ano pude escolher sobre o que escrever, pensando nas possíveis leitoras, que acredito serem, em sua maior parte, professoras.
Consegui abordar parte das muitas conversas sobre ensino de teatro que quero ter com meus leitores. Ainda teremos muitas conversas pela frente.
Continuo, como blogueira, sendo professora! O que mais sei é pensar sobre o ensino de Arte e de Teatro. Ainda sei pouco sobre divulgar este blog, tornar ele mais atrativo, fazer as muitas coisas possíveis para que chegue em muitos outros professores e apaixonados por teatro.
Aos poucos aprenderei. Tenho alunos sabidos, que um dia vão me ensinar!
Gosto de festa, de comemorar e de acreditar que estes textos podem ajudar outras professoras a tornarem a escola melhor, fazermos juntos o teatro estar mais presente na formação das crianças.
“Extenso gramado crestado, elevando-se ao centro em pequena colina. Cai em inclinação suave para os dois lados e para a frente do palco. Para trás, queda mais abrupta, até o nível do palco. Máxima simplicidade e simetria.
Luz ofuscante.
Pano de fundo em trompe-l’œil convencional, representando o encontro ao longe de uma planície vazia e um céu idem.
Enterrada até a cintura, precisamente no centro da colina, WINNIE. Na casa dos cinquenta, bem conservada, loira de preferência, um pouco acima do peso, braços e ombros nus, decote amplo, seios fartos, colar de pérolas. Ela dorme, os braços apoiados na terra à sua frente, a cabeça sobre os braços. Ao seu lado, à esquerda, uma grande bolsa preta, estilo sacola de compras, e à sua direita uma sombrinha dobrável, dobrada, da qual só se vê o cabo emergindo da colina.
À sua direita e atrás, dormindo sobre a terra, escondido pela colina, WILLIE.”
Desta forma começa a peça Dias Felizes de Samuel Beckett.
Beckett nasceu no começo do século XX e viveu quase até seu fim. Foi um dos dramaturgos mais influentes deste período, sendo um dos principais representantes do Teatro do Absurdo. Também é autor de Esperando Godot, dentre outras peças, além de contos, ensaios e poesia.
Laura Carla Franchi dos Santos nos fala sobre esta peça: “Dias Felizes, de 1961, trata-se de uma peça longa, concebida em dois atos, onde a protagonista Winnie encontra-se enterrada por um monte de terra e, portanto, não se locomove pelo espaço. No primeiro ato Winnie está enterrada até a cintura, o que lhe garante a gesticulação, a manipulação de objetos e a execução de um longo monólogo com a plateia. No segundo ato ela encontra-se enterrada até o pescoço, restando-lhe a fala e a movimentação com os olhos. Se no primeiro ato assistimos a ações inúteis desta mulher que a desvia da percepção do tempo, no segundo ato teremos apenas a voz desta mesma mulher. Com a passagem do tempo, imagina-se que Winnie será devorada pela terra, que suas palavras serão devoradas, assim como seus gestos um dia foram devorados: Eu mesma não acabarei por me derreter, ou queimar, não, não estou dizendo necessariamente em chamas, não, somente reduzida, pouco a pouco, a uma cinza negra, toda essa… (amplo gesto dos braços)… carne visível”
Conheci este texto assistindo a montagem com Fernanda Montenegro e Fernando Torres. O absurdo da cena nos fala das muitas situações absurdas nas quais vivemos. Vale a leitura!
Escolha algumas frases, que podem ser de um diálogo ou frases soltas, independentes uma das outras.
Distribua uma frase para cada participante e peça que eles busquem diferentes maneiras de falar esta mesma frase.
Se você estiver trabalhando com pessoas que sabem ler, estas frases podem estar escritas e serem entregues em um pedaço de papel. Caso esteja trabalhando com crianças pequenas ou adultos não alfabetizados é possível escolher uma frase curta por pessoa. Para todos a frase não deve ser muito longa.
Peça que cada um explore algumas maneiras diferentes de dizer e que compartilhe com o grupo as formas encontradas, ao menos duas delas.
Trabalhe então diferentes estímulos para modificações na maneira de falar, tais como: colocar pausas entre as palavras, prolongar algumas letras, repetir palavras, variar a altura, associar a emoções e todas as variações que você encontrar.
Depois deste exercício no qual todos estarão realizando concomitantemente, peça que eles elaborem novamente diferentes maneiras de falar a frase e compartilhem outra vez com o grupo.
Para continuar
Como continuidade desta proposta, peça que eles se reúnam em pequenos grupos nos quais criem uma cena com estas frases, estabelecendo um diálogo entre eles. É importante lembrá-los que cada um poderá dizer a frase mais de uma vez, explorando as diferentes formas de falar.
Muita gente que não trabalha com teatro pode pensar que o ator precisa aprender o texto do personagem e encontrar a maneira correta de dizer aquela frase!
E qual será a maneira correta de dizer uma frase? Será que existe uma?
Claro que podemos imaginar que existe uma maneira adequada de uma determinada frase ser dita por um certo personagem em uma situação particular que a peça está se referindo. Mas mesmo com tudo isso decidido, existirá uma única melhor maneira?
Vamos imaginar uma cena: A peça é Romeu e Julieta, Julieta está em seu famoso balcão e Romeu está escondido, vendo-a, sem que ela saiba ainda que ele está lá, até que escuta um barulho ou vê um vulto e diz:
Julieta: Quem és tu, que encoberto pela noite, entras em meu segredo?
Qual será a forma correta desta frase ser dita? Estará Julieta curiosa? Ou esperançosa de que fosse ele, logo após tê-lo conhecido no baile? Quem sabe está assustada por não esperar a presença de ninguém?
Poderíamos definir uma destas opções, escolhamos: Está curiosa!
Muito bem, e como fala alguém curioso? Será que fala de maneira dura, quase dando uma bronca? Ou um curioso também pode falar com um tom de cumplicidade, para que o outro não se espante e fuja? É um curioso amedrontado e fala gaguejando?
E como se movimenta o corpo de Julieta enquanto diz esta frase? Se debruça no balcão para enxergar mais longe ou se esconde para ver sem ser vista?
Podemos passar horas explorando possibilidades e normalmente é isto que fazem os atores quando estão no processo de elaboração de um espetáculo.
As opções são muitas e esta única frase, dita por diferentes atrizes representando a mesma Julieta, pode encontrar muitas soluções seja no gesto ou na maneira de falar. E todas elas poderão ser boas maneiras, a depender de muitos outros fatores.
Esta característica do fazer teatral é, com certeza, um dos aspectos mais atraentes desta linguagem, exatamente por podermos experimentar diferentes possibilidades para nos expressarmos.
E você, se fosse a Julieta, como diria esta frase?
Este texto é conhecido de muitos, afinal é um dos textos cobrados no vestibular faz tempo e por isso lido por muitos, ao menos seu resumo!
Gil Vicente nasceu em Portugal, não se sabe bem em qual cidade e tampouco em que ano, mas estima-se que viveu entre 1465 e 1537, isto é, estava vivo na época em que as barcas chegaram ao Brasil. Seriam estas barcas do inferno? Caso você queira saber mais sobre ele não faltarão fontes e pesquisas sobre o tema. A introdução de Segismundo Spina , publicada pela Ateliê Editorial fornece uma boa visão sobre este autor.
Neste Auto podemos observar os diferentes personagens que ao morrer irão chegar a um porto onde há duas embarcações: uma é chefiada pelo Anjo, que conduz ao paraíso; a outra, comandada pelo Diabo e seu Companheiro, vai para o inferno. Os personagens se apresentam diante do espectador como em um desfile, ao fim do qual cada um terá de enfrentar seu destino.
Esses personagens não representam indivíduos definidos, mas, sim, tipos sociais. A escolha dos tipos faz referência à época vivida, mas não há dúvida das muitas relações possíveis a serem estabelecidas com a atualidade. Spina ao comentar a obra diz: “O cômico do auto resulta, não do inesperado das situações ou da modificação do automatismo, mas tão somente da caracterização estilística das diferentes personagens, cujo comportamento é um retrato vivo de sua realidade terrena, e a beleza da peça reside, portanto, no realismo dessa caracterização das personagens, intimamente vinculadas à realidade material e à sua condição linguística.”
Leia neste post a conversa entre o Diabo e o Sapateiro e depois continue lendo toda a peça! Com quem será que você se identificará? E em qual barca entrará?
Trecho do Auto da Barca do Inferno:
Vem um Sapateiro com seu avental e carregado de formas, e chega ao batel infernal, e diz:
Sapateiro — Hou da barca!
Diabo — Quem vem i?
Santo sapateiro honrado, como vens tão carregado?…
Sapateiro — Mandaram-me vir assim…
E para onde é a viagem?
Diabo — Para o lago dos danados.
Sapateiro — Os que morrem confessados onde têm sua passagem?
Diabo — Nom cures de mais linguagem!
Esta é a tua barca, esta!
Sapateiro — Renegaria eu da festa e da puta da barcagem! Como poderá isso ser, confessado e comungado?!…
Diabo — Tu morreste excomungado:
Nom o quiseste dizer.
Esperavas de viver, calaste dous mil enganos…
Tu roubaste bem trint’anos o povo com teu mester. Embarca, era má para ti, que há já muito que t’espero!
Sapateiro — Pois digo-te que nom quero!
Diabo — Que te pês, hás de ir, si, si!
Sapateiro — Quantas missas eu ouvi, nom me hão elas de prestar?
Diabo — Ouvir missa, então roubar, é caminho per’aqui.
Sapateiro — E as ofertas que darão?
E as horas dos finados?
Diabo — E os dinheiros mal levados, que foi da satisfação?
Sapateiro — Ah! Nom praza ò cordovão, nem à puta da badana, se é esta boa traquitana em que se vê Jan Antão!
Ora juro a Deus que é graça!
Vai-se à barca do Anjo, e diz:
Hou da santa caravela, poderês levar-me nela?
Anjo — A carrega t’embaraça.
Sapateiro — Nom há mercê que me Deus faça?
Isto sequer irá.
Anjo — Essa barca que lá está Leva quem rouba de praça. Oh! almas embaraçadas!
Sapateiro — Ora eu me maravilho haverdes por grão peguilho quatro forminhas cagadas que podem bem ir chantadas num cantinho desse leito!
Anjo — Se tu viveras direito,
Elas foram cá escusadas.
Sapateiro — Assim que determinais que vá cozer ò Inferno?
Anjo — Escrito estás no caderno das ementas infernais.
Torna-se à barca dos danados, e diz:
Sapateiro — Hou barqueiros! Que aguardais?
Vamos, venha a prancha logo e levai-me àquele fogo! Não nos detenhamos mais!
Vem um Frade com uma Moça pela mão, e um broquel e uma espada na outra, e um casco debaixo do capelo; e, ele mesmo fazendo a baixa, começou de dançar, dizendo:
Quer ler mais, acesse o link: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua00111a.pdf
A cena poderá ser uma proposta de improvisação na qual os alunos que começam a cena combinam quem são eles, como por exemplo: uma mãe explicando para um filho como fazer um bolo ou um chefe reclamando com sua funcionária sobre um trabalho mal feito.
Depois que a cena se inicia a plateia poderá interagir com a cena, entrando como personagens novos, que poderão permanecer na cena ou sair em um tempo curto.
Caso o grupo de alunos tenha dificuldade em se organizar para que entre apenas uma pessoa de cada vez, dando tempo para que a cena incorpore este novo personagem, é possível que você coordene as entradas de cena, fazendo um sinal que seja identificado como a permissão para entrar.
Um combinado importante neste jogo é de que os participantes deem oportunidade para todos entrarem, evitando desta forma que somente os mesmos participem das cenas, fazendo com que os mais tímidos fiquem de fora.
Para variar
Uma possibilidade neste jogo é que você sugira algum acontecimento na cena. Esta sugestão é muito bem vinda quando a cena está repetitiva.
Como exemplo de sugestões a serem dadas para a cena da mãe ensinando o filho a fazer um bolo:
O forno começou a pegar fogo, pois ficou muito tempo aceso.
Um ladrão entra em casa.
O telefone toca informando que a avó do menino foi para o hospital.
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