Muita gente pode se perguntar o que é consciência corporal, embora estas duas palavras juntas já expliquem um pouco do sentido dessa expressão. Todos sabem alguma coisa sobre o próprio corpo e neste sentido, todos têm alguma consciência corporal. Então qual é a importância de trabalhar a consciência corporal e qual sua relação com o teatro?
O teatro é uma linguagem artística que ocorre por meio do corpo. Precisamos do corpo para nos expressar teatralmente! Neste sentido, não basta sabermos coisas básicas, como reconhecer quando sentimos fome ou quando temos sono.
A consciência corporal irá explorar as possibilidades de movimento, controle e expressão do corpo. Para tanto é importante que neste trabalho seja oferecida informações sobre a estrutura óssea, a musculatura e os órgãos, pois compreender conceitualmente, além de sensorialmente ajuda neste processo.
Mas, é na exploração das possibilidades corporais que iremos conhecer nosso corpo. Um dos aspectos importantes a ser ressaltado é que não existe um modelo perfeito onde devemos chegar. Os corpos são tão variados como o número de pessoas existentes na Terra. Conhecer esta diversidade e reconhecer suas especificidades é parte desta proposta.
Vale a pena lembrar que o corpo não é apenas força ou alongamento, estas duas qualidades são características da musculatura corporal e irão interferir nas possibilidades de realização de alguns movimentos, de alguns gestos, mas a expressão não está vinculada a potência muscular! A expressão acontece muito mais pelo quanto nos conhecemos, pela consciência que temos de nossas possibilidades do que pelo exercício muscular.
O corpo é pele, olhos, boca, voz, dedos do pé… Nosso corpo irá se expressar com cada cantinho, assim como com o todo. As emoções que sentimos interferem na forma pela qual nos expressamos e conseguir controlar as emoções é parte do trabalho de consciência corporal. Saber até onde podemos controlar, também é parte da consciência sobre nossas possibilidades.
São inúmeros os campos de atuação para que possamos saber mais sobre o funcionamento corporal e sobre nosso potencial expressivo. Na próxima proposta dos Alunos em cena iremos apresentar uma sugestão. Enquanto isso, vá sentindo seu corpo e descobrindo um pouco mais sobre você!
Falar das peças de Willian Shakespeare é fácil! Não porque seus textos sejam simples ou porque sejam poucos, mas porque são bons! E como meu propósito nesta aba desse blog é fazer com que você tenha vontade de ler dramaturgia, este autor me deixa com muitos argumentos para te convencer.
Das peças escritas por Shakespeare, 38 chegaram até os dias atuais. Tendo vivido entre os anos de 1564 e 1616, na Inglaterra, foi diretor de um teatro “O Globe” e é o principal representante das obras deste período na Europa, ainda que tenhamos outras formas teatrais também importantes no Renascimento.
Shakespeare escreveu tragédias e comédias, além de dramas históricos. Seus personagens são bastante conhecidos, sendo possivelmente a frase de Hamlet “Ser ou não ser, eis a questão” uma das mais conhecidas de toda a dramaturgia mundial, mesmo considerando o fato de que muitas pessoas que conhecem a frase nunca tenham lido nenhuma de suas peças.
Escolhi sua peça mais famosa: Romeu e Julieta! Minha escolha deve-se ao fato de adorar esta história e este texto. Considero uma boa aproximação ao autor, mas somente se você for alguém que se interesse por histórias de amor. Se não for, leia outra, pode ser Hamlet ou Rei Lear se quiser uma tragédia, ou fique com A megera Domada ou Sonhos de uma noite de verão, caso prefira uma comédia!
A história de Romeu e Julieta dispensa explicações, mas caso você nunca tenha ouvido falar aí vai uma brevíssima explicação: a peça conta o encontro de dois jovens, de famílias que se odeiam e que, por diferentes desencontros terminarão morrendo.
A tragédia da impossibilidade de viver esta paixão nos envolve e faz com que o sofrimento vivido pelos dois possa ser reconhecido, ainda que você tenha se apaixonado somente por pessoas permitidas.
Para além da história bem tramada, o texto é de uma beleza fascinante, destes que nos fazem agradecer a felicidade que é poder ler e imaginar!
Escolhi uma cena, a famosa cena do balcão e não consegui postar somente um pedaço, então aproveite e leia a cena completa! Depois de ler, consiga o texto na íntegra e se delicie, com direito a lágrimas no final.
ROMEU E JULIETA, ATO II, Cena II
O mesmo. Jardim de Capuleto. Entra Romeu.
ROMEU – Só ri das cicatrizes quem ferida nunca sofreu no corpo. (Julieta aparece na janela.) Mas silêncio! Que luz se escoa agora da janela? Será Julieta o sol daquele oriente? Surge, formoso sol, e mata a lua cheia de inveja, que se mostra pálida e doente de tristeza, por ter visto que, como serva, és mais formosa que ela. Deixa, pois, de servi-la; ela é invejosa. Somente os tolos usam sua túnica de vestal, verde e doente; joga-a fora. Eis minha dama. Oh, sim! é o meu amor. Se ela soubesse disso! Ela fala;
contudo, não diz nada. Que importa? Com o olhar está falando. Vou responder-lhe. Não; sou muito ousado; não se dirige a mim: duas estrelas do céu, as mais formosas, tendo tido qualquer ocupação, aos olhos dela pediram que brilhassem nas esferas, até que elas voltassem. Que se dera se ficassem lá no alto os olhos dela, e na sua cabeça os dois luzeiros? Suas faces nitentes deixariam corridas as estrelas, como o dia faz com a luz das candeias, e seus olhos tamanha luz no céu espalhariam, que os pássaros, despertos, cantariam. Vede como ela apoia o rosto à mão. Ah! se eu fosse uma luva dessa mão, para poder tocar naquela face!
JULIETA – Ai de mim!
ROMEU – Oh, falou! Fala de novo, anjo brilhante, porque és tão glorioso para esta noite, sobre a minha fronte, como o emissário alado das alturas ser poderia para os olhos brancos e revirados dos mortais atônitos, que, para vê-lo, se reviram, quando montado passa nas ociosas nuvens e veleja no seio do ar sereno.
JULIETA – Romeu, Romeu! Ah! por que és tu Romeu? Renega o pai, despoja-te do nome; ou então, se não quiseres, jura ao menos que amor me tens, porque uma Capuleto deixarei de ser logo.
ROMEU (à parte) – Continuo ouvindo-a mais um pouco, ou lhe respondo?
JULIETA – Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuarias sendo o que és, se acaso Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Sê outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume. Assim Romeu, se não tivesse o nome de Romeu, conservara a tão preciosa perfeição
que dele é sem esse título. Romeu, risca teu nome, e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo inteira.
ROMEU – Sim, aceito tua palavra. Dá-me o nome apenas de amor, que ficarei rebatizado. De agora em diante não serei Romeu.
JULIETA – Quem és tu que, encoberto pela noite, entras em meu segredo?
ROMEU – Por um nome não sei como dizer-te quem eu seja. Meu nome, cara santa, me é odioso, por ser teu inimigo; se o tivesse diante de mim, escrito, o rasgaria.
JULIETA – Minhas orelhas ainda não beberam cem palavras sequer de tua boca, mas reconheço o tom. Não és Romeu, um dos Montecchios?
ROMEU – Não, bela menina; nem um nem outro, se isso te desgosta.
JULIETA – Dize-me como entraste e porque vieste. Muito alto é o muro do jardim, difícil de escalar, sendo o ponto a própria morte – se quem és atendermos – caso fosses encontrado por um dos meus parentes.
ROMEU – Do amor as lestes asas me fizeram transvoar o muro, pois barreira alguma conseguirá deter do amor o curso, tentando o amor tudo o que o amor realiza. Teus parentes, assim, não poderiam desviar-me do propósito.
JULIETA – No caso de seres visto, poderão matar-te.
ROMEU – Ai! Em teus olhos há maior perigo do que em vinte punhais de teus parentes. Olha-me com doçura, e é quanto basta para deixar-me à prova do ódio deles.
JULIETA – Por nada deste mundo desejara que fosses visto aqui.
ROMEU – A capa tenho da noite para deles ocultar-me. Basta que me ames, e eles que me vejam! Prefiro ter cerceada logo a vida pelo ódio deles, a ter morte longa, faltando o teu amor.
JULIETA – Com quem tomaste informações para até aqui chegares?
ROMEU – Com o amor, que a inquirir me deu coragem;. deu-me conselhos e eu lhe emprestei olhos. Não sou piloto; mas se te encontrasses tão longe quanto a praia mais extensa que o mar longínquo banha, aventurara-me para obter tão preciosa mercancia.
JULIETA – Sabe-lo bem: a máscara da noite me cobre agora o rosto; do contrário, um rubor virginal me pintaria, de pronto, as faces, pelo que me ouviste dizer neste momento. Desejara – oh! minto! – retratar-me do que disse. Mas fora! fora com as formalidades! Amas-me? Sei que vais dizer-me “sim”, e creio no que dizes. Se o jurares, porém, talvez te mostres inconstante, pois dos perjúrios dos amantes,
dizem, Jove sorri. Ó meu gentil Romeu! Se amas, proclama-o com sinceridade; ou se pensas, acaso, que foi fácil minha conquista, vou tornar-me ríspida, franzir o sobrecenho e dizer “não”, porque me faças novamente a corte. Se não, por nada, nada deste mundo. Belo Montecchio, é certo: estou perdida, louca de amor; daí poder pensares que meu procedimento é assaz leviano; mas podeis crer-me, cavalheiro, que
hei de mais fiel mostrar-me do que quantas têm bastante astúcia para serem cautas. Poderia ter sido mais prudente, preciso confessá-lo, se não fosse teres ouvido sem que eu percebesse, minha veraz paixão. Assim, perdoa-me, não imputando à leviandade, nunca, meu abandono pronto, descoberto tão facilmente pela noite escura.
ROMEU – Senhora, juro pela santa lua que acairela de prata as belas frondes de todas estas árvores frutíferas…
JULIETA – Não jures pela lua, essa inconstante, que seu contorno circular altera todos os meses, porque não pareça que teu amor, também, é assim mudável.
ROMEU – Por que devo jurar?
JULIETA – Não jures nada, ou jura, se o quiseres, por ti mesmo, por tua nobre pessoa, que é o objeto de minha idolatria. Assim, te creio.
ROMEU – Se o amor sincero deste coração…
JULIETA – Pára! não jures; muito embora sejas toda minha alegria, não me alegra a aliança desta noite; irrefletida foi por demais, precipitada, súbita, tal qual como o relâmpago que deixa de existir antes que dizer possamos: Ei-lo! brilhou! Boa noite, meu querido. Que o hálito do estio amadureça este botão de amor, porque ele possa numa flor transformar-se delicada, quando outra vez nos virmos. Até à vista; boa
noite. Possas ter a mesma calma que neste instante se me apossa da alma.
ROMEU – Vais deixar-me sair mal satisfeito?
JULIETA – Que alegria querias esta noite?
ROMEU – Trocar contigo o voto fiel de amor.
JULIETA – Antes que mo pedisses, já to dera; mas desejara ter de dá-lo ainda.
ROMEU – Desejas retirá-lo? Com que intuito, querido amor?
JULIETA – Porque, mais generosa, de novo to ofertasse. No entretanto, não quero nada, afora o que possuo. Minha bondade é como o mar: sem fim, e tão funda quanto ele. Posso dar-te sem medida, que muito mais me sobra: ambos são infinitos.
(A ama chama dentro.)
Ouço bulha dentro de casa. Adeus, amor! Adeus! – Ama, vou já! – Sê fiel, doce Montecchio. Espera um momentinho; volto logo.
(Retira-se da janela.)
ROMEU – Oh! que noite abençoada! Tenho medo, de um sonho, lisonjeiro em demasia para ser realidade.
(Julieta torna a aparecer em cima.)
JULIETA – Romeu querido, só três palavrinhas, e boa noite outra vez. Se esse amoroso pendor for sério e honesto, amanhã cedo me envia uma palavra pelo próprio que eu te mandar: em que lugar e quando pretendes realizar a cerimônia, que a teus pés deporei minha ventura, para seguir-te pelo mundo todo como a senhor e esposo.
AMA (dentro) – Senhorita!
JULIETA – Já vou! Já vou! – Porém se não for puro teu pensamento, peço-te…
AMA (dentro) – Menina!
JULIETA – Já vou! Neste momento! – … que não sigas com tuas insistências e me deixes entregue à minha dor. Amanhã cedo te mandarei recado por um próprio.
ROMEU – Por minha alma…
JULIETA – Boa noite vezes mil.
(Retira-se.)
ROMEU – Não, má noite, sem tua luz gentil. O amor procura o amor como o estudante que para a escola corre: num instante. Mas, ao se afastar dele, o amor parece que se transforma em colegial refece.
(Faz menção de retirar-se.)
(Julieta torna a aparecer em cima.)
JULIETA – Psiu! Romeu, psiu! Oh! quem me dera o grito do falcoeiro, porque chamar pudesse esse nobre gavião! O cativeiro tem voz rouca; não pode falar alto, senão eu forçaria a gruta de Eco, deixando ainda mais rouca do que a minha sua voz aérea, à força de cem vezes o nome repetir do meu Romeu.
ROMEU – Minha alma é que me chama pelo nome. Que doce som de prata faz a língua dos amantes à noite, tal qual música langorosa que ouvido atento escuta?
JULIETA – Romeu!
ROMEU – Minha querida?
JULIETA – A que horas, cedo, devo mandar alguém para falar-te?
ROMEU – Às nove horas.
JULIETA – Sem falta. Só parece que até lá são vinte anos. Esqueci-me do que tinha a dizer.
ROMEU – Deixa que eu fique parado aqui, até que te recordes.
JULIETA – Esquecê-lo-ia, só para que sempre ficasses ai parado, recordando-me de como adoro tua companhia.
ROMEU – E eu ficaria, para que esquecesses, deixando de lembrar-me de outra casa que não fosse esta aqui.
JULIETA – É quase dia; desejara que já tivesses ido, não mais longe, porém, do que travessa menina deixa o meigo passarinho, que das mãos ela solta – tal qual pobre prisioneiro na corda bem torcida – para logo puxá-lo novamente pelo fio de seda, tão ciumenta e amorosa é de sua liberdade.
ROMEU – Quisera ser teu passarinho.
JULIETA – O mesmo, querido, eu desejara; mas de tanto te acariciar, podia, até, matar-te. Adeus; calca-me a dor com tanto afã, que boa-noite eu diria até amanhã.
ROMEU – Que aos teus olhos o sono baixe e ao peito. Fosse eu o sono e dormisse desse jeito! Vou procurar meu pai espiritual, para um conselho lhe pedir leal.
(Sai.)
Esta proposta tem como objetivo explorar a luz, percebendo outras formas de ver o corpo
Para quem?
Todas as idades, a partir de 2 anos.
Condições necessárias
Uma sala escura com espaço para que todos se movimentem
Materiais necessários
Lanternas
Como acontece?
Distribua uma lanterna para cada participante e peça que eles fiquem um tempo em silêncio no escuro, sem fazer nada. Este tempo é somente para que o grupo se acostume com a falta da iluminação e possa perceber o espaço com a ausência de luz.
Caso você esteja trabalhando com crianças muito pequenas e o espaço disponível for muito escuro, é importante diminuir a luz aos poucos e, no caso de ter alguém com medo, deixar um pequeno foco de luz, que pode ser de uma das lanternas, até que eles se acostumem com a escuridão.
Proponha então que todos utilizem a lanterna para iluminar uma parte do próprio corpo, percebendo quais as transformações que ocorrem na maneira de verem seus corpos, com este foco de luz.
Além de explorar o foco em várias direções, cada um deverá explorar diferentes movimentos corporais que criarão novas formas, que por sua vez, serão percebidas de maneira diversa conforme o posicionamento da lanterna.
Uma variação interessante desta proposta é pedir que metade do grupo somente assista e depois troquem de posição. A observação de quem se movimenta permite um novo olhar para os corpos dos colegas e seus movimentos. Esta divisão pode não dar certo para crianças pequenas.
Para continuar
Um desdobramento possível deste jogo é colocar as lanternas nas mãos de quem está assistindo e, então serão eles que escolherão o que querem iluminar.
Escolher qual peça indicar da Cia. Le Plat du Jour não é fácil! Acompanho o trabalho desta companhia há muitos anos e já dei muita risada com elas! O público são as crianças, mas suas peças são destas que qualquer mãe agradece por poder levar sua filha a um espetáculo no qual ela também se divertirá.
A primeira qualidade a ser ressaltada é que ninguém é tratado como burro. São montagens para crianças, não para pessoas pequenas e tontas! Sem perder de vista as características do público infantil, as peças primam por uma abordagem que leva o espectador a pensar, ao menos todo o tempo no qual ele não está rindo.
A beleza das montagens, seja no cuidado com o cenário ou com o figurino também é louvável. Não encontramos soluções que sejam o primo pobre da Disney, não há qualquer tentativa de imitar este enorme campo de influência tão presente nos espaços destinados às crianças. Nada disso! Uma estética brasileira e delas, deste grupo, bonita, bem cuidada, sem cair em soluções padronizadas.
O espetáculo sobre o qual escolhi falar é o “João e Maria”. No site do grupo www.cialeplatdujour.com/ é possível encontrar a seguinte explicação:
O espetáculo é a adaptação da Cia. Le Plat du Jour para o clássico dos Irmãos Grimm.
Em uma criativa montagem, a narrativa ganhou um cunho ecológico e a graça de duas simpáticas pássaras, Bicudinha e Bicudona, com um divertido sotaque nordestino, que encontram-se em apuros.
Por causa do desmatamento, as duas querem cair fora da floresta e se aventuram em um concurso de dança internacional. São elas que dão a deixa para a entrada em cena da história de João Maria e Maria João, os irmãos perdidos no bosque.
As atrizes revezam-se nos papéis, somando técnicas de mímica e palhaço. Na companhia de bonecos e de um cenário funcional e colorido, do qual fazem parte uma apetitosa casa da bruxa e um belo rio de tecidos azuis. Elas fazem o ingresso valer a pena!
O ingresso e teu tempo valem a pena. No site também é possível ficar sabendo sobre a história da companhia, os demais espetáculos e a agenda, para que você se programe e possa assistir.
Não perca, se você não tem nenhuma criança para levar, leve um adulto mesmo!
Ficha técnica
Criação e texto: Le Plat du Jour
Direção: Alexandra Golik e Carla Candiotto
Elenco: Beatriz Diaféria e Flávia Strongolli
Trilha sonora: Pepe Cisneros e Bruno Cardoso
Desenho de luz: Miló Martins
Cenário: Le Plat du Jour
Adereço de cenário e figurino: Nani Brisque
Técnico de som: Pedro Moura
Técnico de luz: João Luiz Balliero
Produção e realização: Le Plat du Jour
Classificação etária: a partir de três anos
Duração: 55 minutos
Gênero: Comédia
Tema: O Conto de João e Maria
Conteúdo: A história de João e Maria contada por duas passarinhas e ambientada à problemas atuais, como meio ambiente.
A cena teatral pode ocorrer em qualquer espaço. Muitas vezes ocorre na rua, sob a luz do sol, que é uma luz tão poderosa que dificilmente podemos concorrer com ela! Mas quando estamos fechados entre quatro paredes e cobertos por um teto, ter uma luz que ilumine o espaço é condição para que possamos ver o que ocorre nele.
Até 1879 a luz elétrica não existia, o que significa que as apresentações teatrais eram feitas com a iluminação solar ou com a luz proveniente do fogo e de outras maneiras de manter um lampião aceso, como querosene ou gás, por exemplo. Muitos teatros pegaram fogo por esta condição.
A dificuldade em acender e apagar os lampiões ou semelhantes fez com que por muito tempo todo o espaço teatral permanecesse iluminado, não havendo distinção entre palco e plateia, no que diz respeito a iluminação.
Nestes quase cento e cinquenta anos, desde a descoberta da luz elétrica, muitos recursos foram inventados, criando múltiplas possibilidades para a cena. Entretanto, apesar da grande diversidade tecnológica, a pergunta sobre o que vou iluminar permanece.
Se não queremos fazer da montagem teatral um show de luzes, precisaremos escolher onde colocar luz conforme as necessidades que a cena pede.
Não há dúvida de que ter um teatro com muitos recursos é a delícia da maior parte dos encenadores. Poder experimentar qual luz se adequa mais a cada cena, com as variedades de cores, as multiplicidades de recortes e de focos é algo que enriquece a cena. Se além do equipamento o grupo contar também com um bom iluminador, que irá se debruçar na análise das necessidades, tendo já um conhecimento sobre as possibilidades técnicas, e criando soluções para a cena. Aí então, chegamos aos céus e com um foco de luz iluminando o caminho.
Mas se teu trabalho é em uma escola na qual teu único recurso é a luz branca do teto, lembre-se que existem abajures e lanternas para darem graça à nossa vida e à nossa cena.
O mais importante ao pensarmos a luz da cena é explorarmos as necessidades que a cena pede. Se a cena pede escuro, mas só pode ser feita em uma sala iluminadíssima, você terá que descobrir outros recursos para que o escuro chegue neste espaço cheio de luz.
Só não deixe que a falta de recursos se transforme em pobreza para a tua imaginação. Veja quais as cores e os tons que a cena pede; quais os recortes de luz, o enquadramento necessário e se ponha a explorar possibilidades, sem abandonar este campo da cena porque te falta equipamentos. Afinal, só vale apagar a luz do interruptor da escola, quando tivermos uma chama acesa!
Bertold Brecht foi mais do que um autor de peças teatrais– foi também um teórico sobre o teatro, um encenador e diretor. Para falar sobre ele seria necessário mais do que um post, mas você poderá conhecer sua obra nos muitos livros de sua autoria publicados, além da enorme diversidade de escritos sobre tudo o que ele fez.
Escolhi falar de uma peça de que eu gosto muito, Círculo de giz caucasiano.
Esta peça, escrita em 1944, se passa na antiga União Soviética. No enredo acompanhamos a disputa entre a mãe biológica de uma criança, Miguel, e a mulher que o criou quando a mãe, Grusche, o abandonou. Por diferentes motivos, que você só saberá lendo a peça, as duas entram em disputa pela guarda.
O juiz decide que ficará com Miguel aquela que conseguir tirá-lo de um círculo de giz traçado no chão, puxando-o com força pelo braço, cada uma de um lado do círculo. Quer saber como este conflito termina? Leia toda a peça!
As fotos utilizadas neste post foram retiradas de: http://www.companhiadolatao.com.br/site/o-circulo-de-giz-caucasiano/
Para que sua vontade de ver a peça aumente, aí vai um pequeno trecho, retirado da Edição do Teatro Completo de Bertold Brecht, número 9, feito pela Editora Paz e Terra:
“Entram as três no caravançará. Do outro lado do palco aparece ao fundo o Criado com umas trouxas. Atrás dele vai a Velha Dama, depois a Jovem e Grusche com o Menino.
JOVEM DAMA: Cento e oitenta piastras! Nunca fiquei tão irritada, desde o dia em que o meu querido Igor foi tirado à força de casa.
VELHA DAMA: Acha que é hora de falar no Igor?
JOVEM DAMA: Na verdade, somos quatro pessoas: porque o menino também é gente, não é? (A Grusche) A senhora não poderia pagar pelo menos a metade do aluguel?
GRUSCHE: Impossível. As senhoras estão vendo, eu tive de sumir às pressas e o Ajudante de Ordem esqueceu de me dar dinheiro suficiente.
VELHA DAMA: A senhora não tem nem sessenta piastras?
GRUSCHE: Depois eu pago.
JOVEM DAMA: E as camas, onde estão?
CRIADO: Cama, não tem. Aqui estão os sacos e as cobertas. E as senhoras têm de arrumar tudo sózinhas, dando-se por muito felizes por não estarem no fundo de uma vala, como tantos outros. (Sai.)
JOVEM DAMA: Ouviu isso? Vamos imediatamente falar com o estalajadeiro! Esse criado precisa é de umas chibatadas.
VELHA DAMA: Como o seu marido?
JOVEM DAMA: Você é tão cruel! (Chora)
VELHA DAMA: Como é que nós vamos fazer com isto alguma coisa que pareça uma cama?
GRUSCHE: Eu já dou um jeito. (Põe o Menino sentado no chão.) A gente aprende a fazer muitas coisas, as senhoras ainda têm a carruagem. (Limpando o chão) Para mim, foi tudo uma surpresa tola. Antes do almoço, meu marido ainda me disse:“Minha querida Anastácia Katarinówska, vá deitar-se um pouco, você sabe que não custa pegar uma enxaqueca!” (Estende os sacos e faz as camas; as duas Damas, vendo-a trabalhar, entreolham-se,) Eu disse ao Governador: “Grégori, nós estamos com sessenta convidados para almoçar, e eu não tenho tempo de me deitar, a gente não pode confiar na criadagem e o Miguel Georgivitch não pode passar sem mim,” (Ao Menino): Está vendo, Miguel? Tudo se arranja: é como eu disse a você! (Percebe, de repente, que as duas Damas a observam curiosamente e cochicham.) E assim não é mais no chão duro que vamos dormir: eu fiz um forro com os cobertores dobrados.
VELHA DAMA (autoritária): Você faz camas bem demais, querida: deixe ver suas mãos!
GRUSCHE (assustada) Que está querendo dizer?
JOVEM DAMA: Pode mostrar suas mãos a ela.
Grusche mostra as mãos às Damas.
JOVEM DAMA (triunfante): Cheia de calos! É da criadagem!
VELHA DAMA (vai até a porta e grita): Atendam aqui!
JOVEM DAMA: Foi apanhada, sua impostora! Vá dizendo o que estava planejando!
GRUSCHE: Eu não estava planejando nada. Pensei que as senhoras talvez nos pudessem dar uma boa carona em sua carruagem. Por favor, não façam barulho: já estou indo embora!
JOVEM DAMA (enquanto a Velha Dama continua a chamar gente): Você vai, sim, mas é com a polícia. Enquanto ela não chega, você fica. Não me saia daqui!
GRUSCHE: Mas eu ia pagar as sessenta piastras. Podem ver: tenho dinheiro aqui! (Mostra a bolsa.) Quatro pratas de dez e uma de cinco, não, mais uma de dez, somam sessenta. Eu só queria botar o menino na carruagem, estou falando a verdade.
JOVEM DAMA: Então queria ir de carruagem? Pois agora acabou-se!
GRUSCHE: Nobre senhora, eu juro: minha origem é pobre, por favor, não chame a polícia! O menino é de alto berço, veja a roupinha dele: é um fugitivo, como as senhoras!
JOVEM DAMA: Está-se vendo que é de alto berço. E o pai é um príncipe?
GRUSCHE (furiosa, à Velha Dama): Pare de gritar! Será que não tem coração?
JOVEM DAMA (à Velha): Cuidado, ela é capaz de tudo, é perigosa! Socorro! Assassinos!
CRIADO (Aparecendo): Que está havendo aqui?
VELHA DAMA: Essa rapariga enfiou-se aqui, bancando a grande dama: talvez seja uma ladra.
JOVEM DAMA: E das mais perigosas. Queria nos matar. É um caso de polícia. Estou sentindo a minha enxaqueca chegar, ah, meu Deus!
CRIADO: Polícia, no momento, não existe. (A Grusche). Arrume suas coisas, boneca, e desapareça que nem salsicha do armário!
GRUSCHE (encolerizada, pondo o Menino no colo): Seus desumanos! Hei de ver as cabeças de vocês penduradas no muro!
CRIADO (enxotando-a para fora): Cale esse bico! Senão, o patrão vem aí, e com ele não tem meias medidas.
VELHA DAMA ( à Jovem): Dê uma espiada, se ela já não furtou alguma coisa!
Enquanto as Damas, à direita, verificam se nada lhes foi roubado, o Criado e Grusche encaminham-se para a saída, à esquerda.”
Neste trecho é possível observar uma das características da obra de Brecht: a análise sobre as diferentes questões sociais presentes na época em que ele viveu (1898 – 1956) e que ainda são muito presentes na atualidade! Muito mais do que eu, ele e provavelmente você, gostaríamos.
Esta proposta tem como objetivo trabalhar com as possibilidades de transformação das roupas, criando figurinos para cena.
Para quem?
Todas as idades, a partir de 6 anos.
Condições necessárias
Uma sala com espaço para que todos se movimentem.
Materiais necessários
Nenhum
Como acontece?
Proponha que os alunos façam duas filas, com uma criança de frente para outra, que será seu par no jogo. O motivo de estarem em fila, e não espalhados pela sala, é manter mais atenção no seu par e não se dispersar com os demais participantes. Porém, caso a sala não comporte uma fila grande, separe-os em duplas.
Peça que observem seu par em detalhes e, depois de terem observado atentamente, virem-se de costas. Nessa posição, cada um irá provocar três mudanças na sua forma de se vestir. Feitas as mudanças, irão voltar-se para seu par e um descobrirá as mudanças feitas pelo outro.
Esta proposta poderá se repetir diversas vezes, ao menos três, para que eles encontrem dificuldade em se transformar, deixem de fazer somente mudanças sutis e comecem a fazer outras mais evidentes.
Embora parte deste jogo esteja na graça em fazer mudanças não tão evidentes, para que o parceiro descubra, testando assim a capacidade de observação atenta, um dos objetivos é também explorar as possibilidades de transformação da própria roupa: investigar as múltiplas formas de uso das mesmas peças de roupa, para variara aparência e provocar efeitos diversos daqueles a que os jogadores estão acostumados.
A cada vez que as mudanças forem identificadas, o jogador voltará a utilizar suas roupas da forma inicial, e você orientará o grupo a que se observem com mais atenção. A dificuldade de identificação das mudanças fará com que os alunos se deem conta de detalhes que não foram observados.
Este jogo está baseado no Jogo das Três mudanças, proposto por Viola Spolin.
Para continuar
Um desdobramento deste jogo é pedir que cada participante escolha um personagem e caracterize-o de forma diferente, alterando sua forma de se vestir.
Ainda como continuidade, é possível oferecer diferentes adereços para a caracterização do mesmo personagem. Essa diversidade de soluções permitirá que todos percebam não só as múltiplas soluções para caracterizar um personagem, mas também a utilização do figurino como recurso diretamente relacionado aos gestos que o personagem irá fazer.
Ver um ator como Sérgio Mamberti em cena é algo que faz com que qualquer plateia se sinta encantada com esta forma de Arte. Para além da qualidade da peça, sua atuação nos envolve, faz com que fiquemos entre a admiração de ver alguém com seu histórico de ator e as angústias vividas pelo personagem.
O programa da peça faz sua descrição neste texto: “Um pequeno acidente de trânsito nas ruas de Nova York, que quase resultou num atropelamento, acaba provocando a aproximação entre o Sr. Green, um velho e solitário judeu ortodoxo, e Ross Gardner, um jovem executivo de 29 anos, que foi acusado de negligência na direção. O juiz Kruger decide que a pena consiste em prestar serviço comunitário junto à vítima uma vez por semana, pelos próximos seis meses. A partir disso, a ação se passa no velho apartamento de Sr. Green e revela pouco a pouco a personalidade e a história de cada um.”
A atualidade da peça se evidencia tanto pelo fato de a intolerância continuar sendo motivo de conflitos permanentes em todo o mundo, como por vivermos o preconceito relativo ao homossexualismo ou a pouca inclusão de velhos na nossa sociedade. A solidão perpassa as histórias, que se cruzam na necessidade de cada um encontrar alguém que possa estabelecer pontes, o que só será possível pelo afeto construído neste convívio obrigatório.
Os dois atores emocionam, os elementos da cena compõem com a atuação, com a proposta, com a concepção. Ninguém rouba a cena! Mesmo Sérgio Mamberti, que poderia roubar, divide, compartilha, demonstra sua generosidade com o público e com a equipe.
Ficha técnica:
Autor: Jeff Baron
Tradutora: Rachel Ripani
Direção: Cassio Scapin
Assistente de direção: Ando Camargo
Elenco: Sergio Mamberti e Ricardo Gelli
Cenário: Chris Aizner
Figurino: Fabio Namatame
Luz: Wagner Freire
Trilha sonora: Daniel Maia
Direção de produção: Carlos Mamberti
Patrocínio: Porto Seguro
Vi este espetáculo no SESC Jundiaí, não encontrei referências sobre onde e quando estarão em cartaz, mas vale a pena ficar de olho!
Para respondermos a esta pergunta, vamos antes entender o que é o figurino.
Figurino é a roupa, o adereço, o enfeite de cabeça ou de corpo que é utilizado pelos atores quando fazem teatro. Ele pode ter sido escolhido, criado por algum figurinista ou apenas ser a roupa que o ator usava no momento da cena. Mesmo que seja a roupa de ensaio, quando utilizada em cena, passa a ser o figurino escolhido.
Ao pensarmos desta forma, sempre haverá um figurino em cena, mesmo que seja o uniforme utilizado por alunos em uma sala de aula. Fausto Viana fala sobre figurinos em sua dissertação de mestrado:
“O figurino é qualquer peça que será portada pelo corpo do ator em cena, fazendo parte do conjunto visual que ele apresenta, independente do espaço cênico. A roupa é fundamental e interage com todos os elementos que compões o espetáculo: a iluminação pode alterar a sua cor, a coreografia pode ser prejudicada, o cenário pode apagar seu efeito. Até mesmo uma marcação de cena pode tornar o figurino inútil ou desnecessário, se o ator não aparecer.
E o oposto também é verdadeiro: todas as funções citadas acima podem ser realçadas pelo figurino. Da interação surge um trabalho harmonioso. A luz pode transformá-lo, aumentando ou diminuindo-o! O cenário ganha nova vida com peças de vestuário adequadas. Uma coreografia torna-se mais graciosa com tecidos leves sugerindo múltiplos efeitos aéreos…
Tudo isso para compor o espetáculo teatral.”
O figurino conta muito sobre o personagem, ele possibilita que saibamos mais sobre diversas características como a idade, a classe social ou o estilo de vida, mas não é o figurino que compõe um personagem e sim a interpretação. Por mais incrível que seja um figurino, ele não sustenta um personagem se o trabalho do ator for ruim.
Mas como pensarmos o figurino para o ensino de teatro? Será que ele é sempre necessário?
Eu acho que não!
O trabalho realizado com alunos pode ser feito sem qualquer figurino, pois o que nos interessa primordialmente é a descoberta das possibilidades expressivas. O que mais queremos é que os alunos descubram maneiras de se expressarem corporalmente, explorando gestos que nos contem sobre seus personagens, mesmo sem nenhuma roupa para ajudá-los nesta composição.
Isto significa que não devemos usar figurinos?
Claro que podemos usar figurinos, mas não é uma obrigação! Não deve ser usado em qualquer situação, em qualquer improvisação. E mais importante, não pode chamar mais a atenção que os gestos do ator.
O figurino precisa sem pensado como parte da composição do personagem, portanto ele não pode chegar à cena somente no dia da apresentação, ele tampouco pode ser algo que atrapalhe os alunos nos seus movimentos ou na projeção de sua voz.
Uma das possibilidades é que os alunos construam seus figurinos, seja com o uso de diferentes roupas disponíveis para tal, seja com a ajuda de uma costureira.
Existem figurinos maravilhosos e figurinistas que fazem um trabalho incrível! Vale a pena conhecer um pouco para que você se inspire, mostre para seus alunos e descubra as muitas maneiras possíveis de criar um personagem.
Para saber mais:
Rosane Muniz em Vestindo os Nus (Rio de Janeiro: Editora SENAC, 2004) conta a história do figurino de teatro no Brasil. Relaciona o figurino ao trabalho do ator, à crítica e à direção, analisa o trabalho de Gianni Ratto e de Kalma Murtinho, além de entrevistar diversos figurinistas brasileiros.
Figurino Teatral e as renovações do século XX (São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2010) é um livro que investiga as raízes dos processos contemporâneos da criação de trajes teatrais. Fausto Viana analisa a evolução histórica do figurino no teatro ocidental, pela pesquisa de sete encenadores: Adolphe Appia, Edward Gordon Craig, Konstantin Stanislavski, Max Reinhardt, Antonin Artaud, Bertold Brecht e Ariane Mnouchkine.
Esta peça foi escrita por Pedro Bandeira, autor de inúmeros livros infantojuvenis e desta peça divertidíssima! Se a primeira postagem que fiz sugeriu um texto difícil de ler, pela linguagem nele utilizada, esta é fácil, seja pela linguagem, seja pelo fato de se tratar de personagens conhecidíssimos, princesas de diversos contos de fadas.
A peça se passa muito tempo depois do “Felizes para sempre…” e mostra o que aconteceu com as princesas depois de muitos anos de casadas! Como muitos livros de Pedro Bandeira, existe um mistério a ser descoberto, que você só irá descobrir lendo a peça.
No salão do castelo, Dona Branca Encantado está sentada em sua cadeira de espaldar alto, tricotando um sapatinho de lã. Está visivelmente grávida. Entra Caio, o lacaio. Curva-se respeitosa e espalhafatosamente e anuncia:
Caio: Alteza, a senhorita Vermelho acaba de chegar ao castelo e pede…
Branca: Chapeuzinho Vermelho? Que ótimo! Peça que entre. Vamos, Caio, rápido!
Caio inclina-se, afasta-se um pouco e estende o braço, ainda inclinado, em direção à porta. Entra Dona Chapeuzinho Vermelho. O papel deve ser feito por uma atriz bem pequena, talvez algo gorducha, de boa veia cômica. Está vestida como Chapeuzinho Vermelho e traz pendurada no braço a famosa cestinha com os doces para a Vovó. Dona Branca corre para abraçar a amiga.
Branca: Chapeuzinho Vermelho! Querida! Há quanto tempo! Como vai a Vovozinha?
Chapéu: Branca!
As duas dão-se três beijinhos nas faces.
Chapéu: Um… dois… e três! Pra ver se eu caso, Branca! Ai, ai! Sou uma das poucas neste País das Fadas que não é princesa! Também… você sabe, não é?
Branca: Sei, Chapéu! A sua história terminou dizendo que você ia ser feliz para sempre ao lado da Vovozinha e o autor esqueceu de fazer aparecer um Príncipe Encantado no final pra casar com você. Por isso, você ficou encalhada…
Chapéu: Também não precisa falar assim… Eu estou solteira mas… Quem sabe, não é?
Branca: Ora, você tem a Vovó para lhe fazer companhia…
Chapéu: E quem quer uma avó caduca daquelas? Eu quero é um príncipe!
Dona Branca olha fixamente para Chapeuzinho, tentando confortá-la.
Branca: Coragem, Chapeuzinho!
Chapéu: Branca, por que você tem esses olhos tão grandes?
Branca: Ora, deixe de besteira, Chapéu!
Chapéu: Ahn… quer dizer… Desculpe, Branca. É que eu sempre me distraio… Sabe? Estou sempre pensando na minha história. Não fosse a falta do príncipe… A minha história é tão linda, com o Lobo Mau, tão terrível, e o Caçador, tão valente…
Branca: Até que a sua história é passável, Chapéu. Mas linda mesmo é a minha, que tem espelho mágico, maçã envenenada, bruxa malvada, anõezinhos e até caçador generoso!