Alunos em cena: Sons do corpo

Esta proposta tem como objetivo explorar os sons produzidos pelo corpo e pela voz.

Para quem?

Todas as idades

Condições necessárias

Uma sala com espaço para que todos se movimentem

Materiais necessários

Nenhum

Foto retirada de http://barbatuques.com.br/pt/

Como acontece?

Proponha aos alunos a exploração dos sons que o corpo pode produzir. É importante diferenciar os sons produzidos pelos gestos daqueles emitidos pela voz. Em cada um deles temos muitas variáveis possíveis: produzimos sons batendo uma parte do corpo contra outra, como as palmas ou as mãos nos braços, nas pernas, na barriga, na cabeça ou em qualquer outra parte. Também podemos produzir sons esfregando diferentes partes do corpo. A fricção das palmas das mãos não é igual àquela produzida somente pelos dedos ou pelos pés.

Outra maneira de produzirmos sons corporais resulta do contato do corpo ou de partes dele com objetos ao nosso redor, como o chão, a mesa, a parede. Claro que esta proposta pode se ampliar enormemente, ao toque de muitos objetos, gerando múltiplos e diversos sons, mas então estaremos tirando o foco dos sons do corpo.

Na exploração dos sons produzidos pela voz, podemos trabalhar a imitação de diferentes sons do meio ambiente. Proponha aos alunos alguns e depois peça que façam sugestões.

Em todas estas explorações sonoras é possível ter em mente as variações decorrentes dos parâmetros do som, isto é: altura, intensidade, duração e timbre. Para explorá-los, brinque com o ritmo, faça um som mais alto e mais baixo ou mais grave e mais agudo.

Esta proposta pode ser repetida muitas vezes, pois novas descobertas sonoras serão feitas, outros sons serão gerados, com diferentes maneiras de explorá-los. É bom lembrar que a diversidade sonora e a consciência de que podemos utilizar muitos recursos com o corpo e com a voz são importantes instrumentos  para criar diferentes personagens.

Dica

A audição de sons, seja do meio ambiente, seja de gravações reproduzidas com esse propósito poderá ampliar enormemente a diversidade das experimentações. Muitas vezes, a criação fica restrita porque os alunos têm pouco repertório musical e sonoro. Aprender a escutar é uma ótima maneira de ampliar as possibilidades criativas.

Um grupo musical que se utiliza de diferentes sons corporais é o Barbatuques. Se você nunca ouviu nada deles, vale a pena conhecer e, quem sabe, depois mostrar também aos seus alunos! Para conhecer mais, veja: http://barbatuques.com.br

Teatro para bebês: Scaratuja

Difícil dizer o que é mais encantador, se a montagem feita para os bebês ou a expressão deles enquanto assistem à apresentação.

Assisti à peça Scaratuja na Semana Mundial do Brincar, no SESC Jundiaí, e a maior parte do público parecia ter menos de um ano, mas foi lindo ver a atenção que prestavam aos atores e a vontade de interagir quando possível!

Na página do grupo encontramos uma narrativa sobre a construção deste espetáculo:

“Dentre as inúmeras ideias suscitadas, neste primeiro trabalho optamos pela linguagem não verbal, pela exploração do corpo e espaço e pela relação estabelecida entre a criança e as imagens.
Partindo de um emaranhado de linhas, traços, pontos e círculos, temos a ideia central do espetáculo.

Os “rabiscos” ou garatujas vão ganhando complexidade ao longo da encenação que coincide com o desenvolvimento das crianças, estimulando o crescimento cognitivo e expressivo.

Um tapete tátil com diferentes texturas nos serve como palco, é o chão; a base da cena e ao final torna-se uma área de investigação para o público mirim.”

É nesse tapete com diferentes tons de branco que os dois atores entram, envoltos em um tecido de onde aos poucos saem e, enquanto exploram movimentos, que me fizeram imaginar um pintinho prestes a sair de um ovo, um menino comentou: “O pé dele vai quebrar!”.  Acho que ele se referia ao tecido, que para mim ficou parecendo uma casca de ovo.

No decorrer das cenas os atores se utilizam de diferentes objetos: fitas, elásticos, uma bolinha macia e vermelha, arames encapados e felpudos que são manipulados, virando brincadeira entre eles, estabelecendo parceria e interação também com o público.

A pesquisa de gestos e de sons denota o conhecimento do universo dos bebês. A suavidade domina a cena, o que não significa lentidão ou monotonia. Os ritmos dos gestos variam, mas respeitam o tempo do bebê.

A repetição se faz presente, e em vários momentos fiquei com vontade de brincar junto com eles, de rolar naquele tapete macio e cheio de surpresas.

Vale a pena conferir! O espetáculo fará nova temporada  de 06 a 27/08, no Teatro Folha – Shopping Pátio Higienópolis, em SP, sempre aos domingos, às 11h. Se você tem a sorte de ter um bebê para levar, não deixe de aproveitar, mas se você, como eu, não tiver um bebê disponível, entre em contato e verifique a possibilidade de assistir sem bebês! Eu pude, e junto comigo estavam várias educadoras.

Para quem quiser saber mais, o site aqui indicado revela muito, inclusive a equipe que elaborou esse trabalho:

As fotos deste post foram retiradas do site do grupo: http://catarsis.com.br/catarsis/scaratuja/

FICHA TÉCNICA
Concepção e direção: Marcelo Peroni
Criação: Aline Volpi, Marcelo Peroni e Vladimir Camargo
Dramaturgia final: Marcelo Peroni
Elenco: Aline Volpi e Vladimir Camargo
Orientação pedagógica: Livia Brigoni Balanin
Apoio Técnico: Ana Paula Castro
Projeto cenográfico e de figurinos: Aline Volpi, Marcelo Peroni e Vladimir Camargo
Projeto de luz: Rodrigo Gatera
Execução cenográfica: Edivaldo Zanotti
Trilha sonora: Poin – Pequena Orquestra Interativa
Músicas originais: Gustavo Finkler
Letrista: Jackson Zambelli
Participação especial trilha sonora: Renata Mattar
Fotos: Lucas Trabachini
Ilustrações: Henrique Brigoni Balanin
Produção: Catarsis Produções
Assessoria de imprensa: Adriana Monteiro
Duração espetáculo: 25 minutos
Idioma: linguagem não verbal
Faixa etária recomendada: bebês até 3 anos

O som da cena

Talvez seja estranho pensar no som da cena! Cena teatral tem som? O som não é apenas a fala dos personagens? O som da cena também pode ser chamado de sonoplastia, e podemos compreender o que é a sonoplastia a partir da escuta dos sons que existem nas nossas “cenas” cotidianas.

Vivemos rodeados de sons. Se você escutar o lugar onde está neste momento,  perceberá que, por mais silencioso que seja, está repleto de sons. Murray Schafer denominou esta situação de “paisagem sonora”. Quem se interessar por este assunto encontrará diversas publicações a respeito – há muito material a pesquisar.

Jean-Jacques Roubine, em seu livro A linguagem da encenação teatral (1998, Editora Zahar), afirma:

Os naturalistas foram os primeiros a se interrogar sobre a sonorização do espaço cênico. E se a tradicional música de cena habitualmente usada para manter um certo clima durante as pausas impostas pelas mudanças de cenários lhes aparecia como um artifício parasitário do qual era necessário se livrar, a sonoplastia, pelo contrário, era capaz, na sua opinião, de interferir com eficiência para reforçar a ilusão visual através de sua verdadeira paisagem sonora.

Os recursos para compor o ambiente sonoro são muitos e vão variar conforme a proposta da peça: pode existir a intenção de que a sonoplastia leve a plateia a se sentir no espaço no qual a cena ocorre, mas também se pode desejar que a sonoplastia traduza as emoções dos personagens, recurso bastante utilizado nas novelas. Ou, ainda, a sonoplastia pode buscar um contraponto, causando um estranhamento entre o que se vê e o que se ouve – tudo dependerá, como eu já disse, da proposta da montagem.

O uso de músicas, ruídos, canto, sejam eles executados ao vivo, pelos atores, sejam gravações reproduzidas durante a apresentação, é possível e bastante comum. Porém, é importante pensarmos que existe, inclusive, a escolha por não utilizar nenhuma sonoplastia, também como parte da concepção da cena. Seja o som pensado e escolhido ou o som do espaço no qual a apresentação ocorre, ele fará parte da cena.

Para saber mais:

Se você quer conhecer mais sobre o assunto, pode pesquisar no livro A sonoplastia no teatro, de Roberto Gil Camargo, ou na tese de Fabio Cintra, A musicalidade como arcabouço da cena: caminhos para uma educação musical no teatro, que estabelece relações entre a música e a cena teatral, enfocando a improvisação como espaço comum (Disponível aqui.)

Vestido de noiva

 

Escolher de qual autor brasileiro será meu primeiro post não foi tarefa fácil. O bom é sabermos que temos tantos para ler! Escolhi Nelson Rodrigues, e a peça foi Vestido de noiva.

Não há dúvida de que Nelson Rodrigues é um autor polêmico, tão polêmico quanto reconhecido.  Escreveu muitas peças, que Sábato Magaldi classifica em peças psicológicas, peças mitológicas e tragédias cariocas. Mas Nelson também escreveu crônicas e outros diversos gêneros textuais.

Seus textos apresentam diferentes facetas das relações humanas, no que diz respeito às relações sociais, a suas regras e costumes, aos conflitos familiares e à psique humana. As muitas tramas vividas por seus personagens envolvem o amor, o sexo, as brigas, a angústia! Não há como ter dúvida de que a vida corre de forma pulsante nas obras deste autor.  Talvez você, leitor, considere que a sua própria vida é mais simples, sem tantos conflitos, sem tanta angústia. Será?

 

Foto de Chico Nelson, de montagem dirigida por Ziembinski, em 1943 (Disponível em: http://vejasp.abril.com.br).

Vestido de noiva teve uma encenação marcante para o teatro brasileiro, que foi a dirigida por Ziembinski, em 1943, de que reproduzimos a foto anterior. De lá para cá já houve muitas outras, feitas por grupos e atores importantes no teatro nacional.

A peça se passa em três planos que se intercalam: o plano da alucinação, o plano da realidade e o plano da memória. Como uma boa peça rodrigueana, acompanhamos os conflitos de Alaíde e a relação com sua irmã, perpassada pela paixão por um mesmo homem.

Se as tramas propostas são imbricadas, o texto é fluido, fácil de ler, de mergulharmos nestas relações. É um texto escrito para teatro que nos permite imaginar as cenas. São tantas as possibilidades de imaginarmos soluções para montagens, que sempre podemos ver mais uma!

 

Foto de João Caldas, disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br

Leia a seguir, neste post, um pequeno trecho desta peça e, se quiser ler a versão completa, vá para o link: http://semac.piracicaba.sp.gov.br/ceta/vestidodenoiva.pdf

 (2 mesas e 3 mulheres desaparecem. Duas mulheres – levam 2 cadeiras. As duas mesas são puxadas para cima. Surge na escada uma mulher. Espartilhada, chapéu de plumas. Uma elegância antiquada de 1905. Bela figura. Luz sobre ela.)

ALAÍDE (num sopro de admiração) – Oh!

MADAME CLESSI – Quer falar comigo?

ALAÍDE (aproximando-se, fascinada) – Quero, sim. Queria…

MADAME CLESSI – Vou botar um disco. (dirige-se para a invisível vitrola, com Alaíde atrás.)

ALAÍDE – A senhora não morreu?

MADAME CLESSI – Vou botar um samba. Esse aqui não é muito bom. Mas vai assim mesmo. (Samba surdinando.)

MADAME CLESSI – Está vendo como estou gorda, velha, cheia de varizes e de dinheiro?

ALAÍDE – Li o seu diário.

MADAME CLESSI (céptica) – Leu? Duvido! Onde?

ALAÍDE (afirmativa) – Li, sim. Quero morrer agora mesmo, se não é verdade!

MADAME CLESSI – Então diga como é que começa. (Clessi fala de costas para Alaíde)

ALAÍDE (recordando) – Quer ver? É assim… (ligeira pausa) “ontem, fui com Paulo a Paineiras”… (feliz) É assim que começa.

MADAME CLESSI (evocativa) Assim mesmo. É.

ALAÍDE (perturbada) – Não sei como a senhora pôde escrever aquilo! Como teve coragem! Eu não tinha!

MADAME CLESSI (à vontade) – Mas não é só aquilo. Tem outras coisas.

ALAÍDE (excitada) – Eu sei. Tem muito mais. Fiquei!… (inquieta) Meu Deus! Não sei o que é que eu tenho. É uma coisa – não sei. Por que é que eu estou aqui?

MADAME CLESSI – É a mim que você pergunta?

ALAÍDE (com volubilidade) – Aconteceu uma coisa, na minha vida, que me fez vir aqui. Quando foi que ouvi seu nome pela primeira vez? (pausa) Estou-me lembrando! (Entra o cliente anterior com guarda-chuva, chapéu e capa. Parece boiar.)

ALAÍDE – Aquele homem! Tem a mesma cara do meu noivo!

MADAME CLESSI – Deixa o homem! Como foi que você soube do meu nome?

ALAÍDE – Me lembrei agora! (noutro tom) Ele está-me olhando. (noutro tom, ainda) Foi uma conversa que eu ouvi quando a gente se mudou. No dia mesmo, entre papai e mamãe. Deixe eu me recordar como foi. Já sei! Papai estava dizendo: “O negócio acabava…” (Escurece o plano da alucinação. Luz no plano da memória. Aparecem pai e mãe de Alaíde.)

Ficou com vontade? Não deixe de ler!

 

Alunos em cena: criando cenários

Esta proposta une a improvisação com a criação de cenários, o que permitirá que as crianças compreendam melhor a função de um cenário e explorem como se relacionar com ele.

Para quem?

Crianças de 0 a 6 anos

Condições necessárias

Uma sala com espaço para que todos se movimentem

Materiais necessários

Objetos do cotidiano, caixas, panos, bolas e materiais da natureza

Foto de Jason de Caires, retirada do site http://www.underwatersculpture.com

Como acontece?

Conte uma história para as crianças, na qual o espaço seja bem caracterizado. A história pode ser inventada por você ou pode ter como referência alguma já conhecida. O mais importante é que as características do espaço estejam bem descritas; portanto, fale das cores, da temperatura, do cheiro, do tamanho do lugar, assim como dos objetos que o compõem. Ao contar a história, mergulhe nas sensações espaciais!

Depois de contar, convide os alunos para brincarem neste lugar. Por exemplo: se sua história se passou no fundo do mar, você irá convidá-los a brincar no fundo do mar; se foi em uma floresta, será nela; também pode ser um lugar imaginário, como o mundo das bolas ou das nuvens.

Leve, então, as crianças para outra sala na qual esse espaço já tenha sido montado por você e deixe-as explorando e criando as cenas que quiserem.

Não se preocupe em garantir que elas façam as mesmas ações narradas na história. O que importa neste momento é que as crianças interajam com o espaço, que o cenário seja um motivador para as cenas, e não que elas reproduzam a narrativa apresentada anteriormente.

Outro cuidado importante é que deixemos que elas transformem o cenário conforme se movimentam nele, o que significa que você, professora, terá que praticar o desapego. Não vale se chatear porque estava tão lindo e elas desmancharam! Brincadeira não deixa tudo no lugar – o movimento e a transformação fazem parte do brincar.

Para quem mais?

Esta proposta pode ser feita para qualquer idade, incluindo adultos, basta que a linguagem, na maneira de propor, se adéque ao grupo com quem você estiver trabalhando. Com crianças maiores é possível preparar o cenário ou propor que elas o construam – as duas formas dão resultados diferentes, mas ambos interessantes.

Dica

Se você trabalha em uma escola na qual existem várias salas de crianças de zero a 3 anos, será mais fácil organizar este espaço com a participação de várias professoras. Portanto, decidam juntas qual será o espaço ficcional a ser montado e todas poderão colaborar para sua construção, fazendo um revezamento do uso.

A foto utilizada neste post é de uma obra de Jason de Caires, utilizada como possibilidade de inspirar a criação de um cenário de fundo do mar.

 

A Vida

 

“Seis atores e seu diretor se propõem a investigar suas tragédias pessoais e fazer delas teatro. Um mergulho em questões viscerais que resistiram à passagem do tempo. Um jogo de combinações e subjetividades. Uma rede de encontros preciosos, em que cada cena emerge em mútua relação com as outras. Um espetáculo caótico e imponderável como a vida. A cada sessão, uma nova versão de si mesmo.” – Desta forma o grupo se apresenta no site do SESC Santo Amaro, onde a peça está em cartaz até dia 9 de julho.

Ao entrar na peça, entramos também em um jogo, já que sua estrutura é feita de tal maneira que a sequência de cenas que eu vi é bem provável que só seja vista pelas pessoas que estiveram comigo no dia 17 de junho. A razão pela qual cada apresentação é única está nas muitas combinações possíveis entre as cenas que são sorteadas em cada uma das 8 fases propostas. São 27 cenas, das quais veremos apenas 8.

O jogo presente na montagem é, sem dúvida, um aspecto instigante desta apresentação, mas o que mais impressiona é a coragem, de cada ator e do diretor, ao participar de uma montagem que apresente trechos biográficos com tanta vida! A apresentação pulsa, em alguns momentos esmurra e é doída. Mas em todos eles reflete a intensidade de um grupo que escolheu apresentar a vida em forma de arte, com a beleza da criação.

Para um blog que aborda a improvisação como este, vale ressaltar que as cenas apresentadas não são improvisadas! São todas elas resultado de uma investigação coletiva, mas definidas previamente. O que é mutável é a escolha de quais cenas serão feitas a cada apresentação, escolhidas no girar da roleta!

A indicação etária é para maiores de 16 anos. Vá até lá, confira. Vale a pena!!!

 

Ficha Técnica

Direção geral: Nelson Baskerville

Assistência de direção: Anna Zepa

Dramaturgia: Nelson Baskerville e Elenco

Colaboração dramatúrgica: Marcos Ferraz

Elenco: Camila Raffanti, Felipe Schermann, Hercules Moraes, Nuno Carvalho, Tamirys Ohanna e Thaís Medeiros

Cenografia: Amanda Vieira

Direção audiovisual: Laerte Késsimos

Direção de pesquisa corporal: Cristiano Karnas

Estudo de estruturas matemáticas: Carlos Vianna

Fotografia: Ligia Jardim

Produção executiva: Amanda Vieira e Thaís Medeiros

Idealização e Produção geral: AntiKatártiKa Teatral (AKK)

Qual o papel do cenário?

Para podermos pensar em como criar um cenário teatral, precisamos entender o que é um cenário e qual sua função na montagem de uma peça ou na prática teatral.

O cenário é composto pelos objetos e pelos elementos visuais que irão compor a cena. Precisamos diferenciar o cenário do espaço da cena, que pode ser um palco de um teatro, a rua, um barco ou uma sala de aula. O espaço onde a cena ocorre, com toda certeza, define parte das características da cena, e falaremos disso em uma outra postagem.

O cenário é o que colocamos em um espaço de cena já definido e que irá dialogar com o trabalho dos atores para a construção da cena.

Imagem retirada de http://www.funarte.gov.br/

Gianni Ratto apresenta diferentes definições de cenografia em seu livro Antitratado de cenografia: variações sobre o mesmo tema. E eu escolhi uma delas para entendermos um pouco mais sobre o assunto:

Cenografia é o espaço eleito para que nele aconteça o drama ao qual queremos assistir. Portanto, falando de cenografia, podemos entender tanto o que está contido num espaço quanto o próprio espaço. […] Cenografia é a identificação de um espaço único e irrepetível capaz de receber sem inúteis interferências as personagens propostas e os atores que as interpretam. A verdadeira cenografia é determinada pela presença do ator e de seu traje; a personagem que se movimenta nas áreas que lhe são atribuídas cria constantemente novos espaços alterados, consequentemente, pelo movimento dos outros atores: a soma dessas ações cria uma arquitetura cenográfica invisível para os olhos, mas claramente perceptível, no plano sensorial, pelo desenho e pela estrutura dramatúrgica do texto apresentado.

Nesta definição fica clara a relação entre todos os elementos da cena e a importância de que os objetos escolhidos não sejam um enfeite do palco, mas, sim, que dialoguem com todos os demais elementos da montagem.

 

 

 

Para quem quiser descobrir um pouco mais do trabalho de cenário, veja a seguir algumas dicas.

  • Uma recomendação comum, quando falamos de ensino de teatro, é que o cenário só apareça quando ocorrem apresentações e, em geral, bem perto do dia de apresentar – de preferência, na hora de apresentar. Esta visão de cenário está pautada na ideia de que o cenário tem como função embelezar a cena. No entanto, ainda que possamos mesmo deixar a cena mais bonita, o cenário precisa ser vivido como elemento que irá compô-la e, portanto, ele precisa aparecer no decorrer de todo o trabalho de experimentação, no jogo, nas brincadeiras.
  • Dentro da escola, o cenário pode ser montado como motivador para a cena. Se estamos falando de crianças bem pequenas, de zero a 3 anos, o mais indicado é que os professores organizem o espaço para que elas brinquem nele. Para as demais idades, também podemos ter momentos nos quais os alunos serão surpreendidos com o espaço transformado.
  • Mas outra forma de criar cenários é com a participação dos alunos, com uma elaboração que pode ocorrer com todos juntos ou com pequenos grupos. Evidentemente, depois de montar, as crianças irão experimentar cenas neste novo espaço!

Para saber mais:

Você pode conhecer mais sobre o trabalho de Gianni Ratto no site da FUNARTE: http://www.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/cenario-e-figurino/biografia-de-gianni-ratto/

Ou no Instituto Gianni Ratto: http://gianniratto.org.br/

Alunos em Cena: Virando Objetos

O teatro é uma arte que tem o corpo como principal caminho para expressão. Esta proposta irá oferecer recursos para que a criança descubra como o seu corpo pode dizer coisas para além da fala.

Para quem?

Crianças de 4 a 6 anos

Condições necessárias

Uma sala com espaço para que todos se movimentem. Também pode ser ao ar livre, preferencialmente com um piso limpo no qual seja possível se deitar.

Materiais necessários

Nenhum

Como acontece?

Embora as crianças se movimentem e se expressem muito corporalmente, podemos começar com um breve aquecimento, o “amassa pão”: diga às crianças que iremos amassar as diferentes partes do corpo, como se fosse uma massa de pão. Vá nomeando cada parte: pés, tornozelo, joelho, coxa, quadril, barriga, costas, braços, ombros, pescoço, cabeça e rosto. Vale a pena chamar atenção para partes que podem ficar esquecidas, como o dedo mindinho do pé esquerdo, a orelha direta ou a parte de trás do joelho. Também é importante dizer que em algumas partes a massa está mais dura e podemos apertar mais forte, mas em outras é um pão delicado e vamos amassar só com as pontinhas dos dedos. Cada criança irá amassar o próprio corpo, embora esta proposta também possa ser feita em dupla, com um massageando o corpo do outro.

Com o corpo já preparado, vamos começar a sua transformação!

Proponha para as crianças que elas se transformem em vários objetos de uma casa e vá nomeando as opções: cama, mesa, abajur, mesa, geladeira… e quantos mais a ideia. Todas as crianças farão todos os objetos. Como os objetos são inanimados, o mais provável é que elas fiquem paradas um tempo na posição que melhor representa o objeto, mas não espere muito tempo de imobilidade, pois é uma proposta de movimento.

Depois de feito por um tempo, você pode pedir sugestões das crianças para qual objeto será imitado e assim as crianças 

participarão também da escolha do que representar. Se o grupo começar a ficar muito agitado, escolha um objeto que leve a uma maior tranquilidade, como um colchão, e deixe que eles permaneçam por um tempo maior na imobilidade, ao invés de ficar pedindo que se acalmem ou fiquem quietos.

Qual é a hora de parar? Quando as crianças demonstram que perderam o interesse!

Para quem mais?

Esta proposta pode ser feita para qualquer idade, incluindo adultos, basta que a linguagem na maneira de propor se adeque ao grupo com quem você estiver trabalhando.

Proposta realizada com crianças da Educação Infantil na prefeitura de São Paulo, em 2016.

Dramaturgia: Édipo Rei

Escolhi como texto para este primeiro post uma peça pela qual me apaixonei enquanto lia. A história é bastante conhecida e muitas montagens já foram feitas dela, afinal, é um dos mais antigos registros de textos teatrais da história ocidental.

Édipo Rei foi escrito por Sófocles por volta de 427 a.C., na Grécia Antiga. É parte de uma trilogia, isto é, três peças que se relacionam, embora seja possível compreender cada uma delas em separado.

A linguagem utilizada pode soar estranha quando começamos a ler, mas conforme seguimos, a história nos envolve de tal forma, que a maneira pela qual foi escrita deixa de ser uma dificuldade. Mas quem nunca leu um texto antigo precisa insistir, pois demora um pouco para engrenar.

De forma muito resumida, podemos dizer que nesta história Édipo mata seu pai e se apaixona por sua mãe, Jocasta, casando-se com ela. Mas o que interessa, como sempre acontece com as boas histórias, é como isso aconteceu. Na leitura do texto podemos acompanhar todo o sofrimento de Édipo e de Jocasta na busca da verdade da história da vida deles, e após sua descoberta, o terror que sentem por terem cometido  ato tão pavoroso quanto o incesto de mãe e filho.

Um dos personagens centrais desta peça é Tirésias, o profeta que irá ajudá-los nesta descoberta avassaladora. Podemos ler um pequeno trecho do diálogo de Tirésias com Édipo.

O CORO: Acaba de chegar quem tudo nos vai descobrir! Trazem aqui o divino profeta, o único, entre todos os homens, que sabe desvendar a verdade!

Entra TIRÉSIAS, velho e cego, guiado por um menino. Escoltam-no dois servidores de ÉDIPO. EDIPO: Ó Tirésias, que conheceis todas as coisas, tudo o que se possa averiguar, e o que deve permanecer sob mistério; os signos do céu e os da terra… Embora não vejas, tu sabes do mal que a cidade sofre; para defendê-la, para salvá-la, só a ti podemos recorrer, ó Rei!” Apolo, conforme deves ter sabido por meus emissários, declarou a nossos mensageiros que só nos libertaremos do flagelo que nos maltrata se os assassinos de Laio forem descobertos nesta cidade, e mortos ou desterrados. Por tua vez, Tirésias, não nos recuses as revelações oraculares dos pássaros, nem quaisquer outros recursos de tua arte divinatória; salva a cidade, salva a ti próprio, a mim, e a todos, eliminando esse estigma que provém do homicídio. De ti nós dependemos agora! Ser útil, quando para isso temos os meios e poderes, ë a mais grata das tarefas!

TIRÉSIAS: Oh! Terrível coisa é a ciência, quando o saber se toma inútil! Eu bem assim pensava; mas creio que o esqueci, pois do contrário não teria consentido em vir até aqui.

ÉDIPO Que tens tu, Tirésias, que estás tão desalentado?

TIRÉSIAS Ordena que eu seja reconduzido a minha casa, ó rei. Se me atenderes, melhor será para ti, e para mim.

ÉDIPO Tais palavras, de tua parte, não são razoáveis, nem amistosas para com a cidade que te mantém, visto que lhe recusas a revelação que te solicita.

TIRÉSIAS Para teu benefício, eu bem sei, teu desejo é inoportuno. Logo, a fim de não agir imprudentemente…

ÉDIPO Pelos deuses! Visto que sabes, não nos ocultes a verdade! Todos nós, todos nós, de joelhos, te rogamos!

TIRÉSIAS Vós delirais, sem dúvida! Eu causaria a minha desgraça, e a tua!

ÉDIPO Que dizes?!… Conhecendo a verdade, não falarás? Por acaso tens o intuito de nos trair, causando a perda da cidade?

TIRÉSIAS Jamais causarei tamanha dor a ti, nem a mim! Por que me interrogas em vão? De mim nada ouvirás!

Para quem nunca leu teatro, vale observar as indicações das ações previstas para a cena. Estas indicações cênicas (também chamadas de rubricas ou didascálias) são informações que o dramaturgo escreve sobre as ações previstas para uma montagem teatral.

Outro aspecto que pode passar desapercebido é a existência do Coro, que neste pequeno trecho tem apenas uma fala. O Coro é uma presença constante nas peças gregas, com a função de comentar o que já ocorreu ou o que ainda está por vir. O Coro, que pode parecer pouco importante, é a origem do teatro grego, mas disso falarei em outro post.

Sendo uma tragédia, sabemos que final feliz não haverá! Mas o que interessa nesta leitura não é a alegria ou o perdão, já que nada disso ocorre, mas sim a dor vivida por este homem que se apaixona pela própria mãe, sem saber que era seu filho, colocando em desgraça não apenas a própria vida, mas a de sua mãe e dos  filhos gerados por esse casal incestuoso.

Se você se apaixonar, como eu, por este texto, poderá ler toda a trilogia, que continuará com Édipo em Colono e Antígona.

Para quem se interessou, o texto está disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000024.pdf

Teatro Para Bebês: Achadouros

Espetáculo feito para bebês, que propõe uma linguagem para esta faixa etária e que alcança seu objetivo, mantendo o interesse destes seres tão pequeninos.
Assisti a esta apresentação em um dia quente, no V Festival Internacional de Teatro para Bebês, promovido pelo grupo Sobrevento, em São Paulo. A sala estava cheia de bebês e seus pais e foi encantador observar a forma pela qual os bebês acompanharam a apresentação.

Foto de Diego Bressani retirada do site do grupo.

A peça é poesia pura e apresenta gestos e falas do universo dos bebês.
A sinopse, que pode ser conferida em www.achadouros.com, diz:
“O ser humano e sua chegada no mundo. Vestígios de degradação ou matéria prima para criação? Um universo a ser desvendado. A percepção de si, do outro, das diversas formas de vida. A construção das relações. O poder imaginativo que leva à transformação e à reorganização da realidade.
Duas personagens convidam o público a aventurar-se com elas em seu quintal imaginário. Através de encenação poético-teatral o espetáculo conduz a uma arqueologia das memórias da infância e convida o espectador a escrever sua própria história.”
A escolha de objetos simples, a inexistência de ruídos ou sons que assustam os bebês, assim como os figurinos delicados e tranquilos, nos faz sentir que estamos em uma proposta elaborada para bebês, feita por pessoas que conhecem seu público.
Neste espetáculo não colocamos os bebês na tensão do excesso, na exposição ao susto, ao ritmo acelerado permeado por músicas estridentes. Não! Não é um espetáculo que se aproxime de uma propaganda que berra para chamar a atenção das crianças
Ao contrário, toda sua poesia é oferecida com delicadeza, com calma, com repetições, tão presentes nesta fase da vida.

Foto de Diego Bressani retirada do site do grupo.

A simplicidade dos gestos e o tempo oferecido à fruição denotam o conhecimento deste grupo sobre o universo infantil!
Para quem quiser saber mais, acesse o site acima indicado e veja a equipe que elaborou este trabalho:

 

 

Elenco: Caísa Tibúrcio e Nara Faria
Direção: José Regino
Dramaturgia: Criação coletiva
Criação musical: Caísa Tibúrcio e Nara Faria
Figurino: José Regino
Cenografia: Chico Sassi
Iluminação: Marcelo Augusto
Produção geral: V4 Cultural
Produção executiva: Pedro Caroca
Assistente de Produção: Tiana Oliveira
Designer gráfico: Jana Ferreira
Fotografia: Débora Amorim e Diego Bresani
Registro Videográfico e Edição: Fabiano Morari