por Caroline Ungaro – série TEATRO: HISTÓRIA ATRAVÉS DOS PALCOS DA CIDADE
Olhar ao redor e perceber o que o mundo nos oferece não é uma tarefa óbvia.
A parte boa: a tarefa não é óbvia, é bastante trabalhosa, mas acaba por ser muito recompensadora.
Neste artigo, convido todos a olhar ao redor, observar a sua rua, o seu bairro, a sua escola, até mesmo a sua casa, e buscar, nesses lugares tão comuns a cada um de nós, possíveis palcos.
Por exemplo: eu moro no setor Oeste de Jundiaí. Nesse setor há muitos bairros. Olhando para a minha rua, que é sem saída, sempre imagino um grande palco, tipo um picadeiro de circo idílico, uma semi-arena com uma mata verde ao fundo. Imagino belas cenas acontecendo ao pôr do sol enquanto os proprietários dos últimos terrenos da rua ainda não decidiram construir casas e emparedar o fundo do meu palco de rua.
Andando mais um pouco, há uma rotatória esquisita, bem pouco redonda, mas que imagino como um palco urbano, com performances contemporâneas, trazendo poesia para os carros e pedestres que passam por lá.
A 3 ou 4 quadras de distância, tem um Centro Esportivo e Cultural, pleno de cultura do esporte e ainda com pouco de cultura artística. Nele, dentro do ginásio, atrás da trave do gol, com ecos de bolas e disputas, há um palco com piso de madeira (é lindo quando os pisos são de madeira) repleto de histórias possíveis. Ao lado desse primeiro ginásio tem outro ginásio, amplo, com o piso coberto por um enorme quadrado de tapetes de e.v.a., no qual acontecem os treinamentos de ginástica artística e também poderiam acontecer aulas de teatro. O espaço me parece perfeito para isso: de um lado uma sala de ensaio; do outro, o palco.
Andando mais duas quadras, tem um terreno público vazio, que há muitos anos é usado como palco para a celebração da Páscoa com a encenação da Paixão de Cristo pela comunidade católica da região. Um terreno precioso, tornado sagrado uma vez por ano, através de uma encenação teatral!
Pouco depois, temos uma Associação da comunidade japonesa, com uma sede enorme que tem um… palco! Um palco alto que abriga um grupo de taikô. E que poderia receber uma peça, junto do taikô. Leques. Tabis. Nô. Poderia também ter um belíssimo palco de teatro Nô. Pronto. Viu? Comecei a desejar o que não existe.
Fiz o caminho para o norte. Fazendo o caminho para o sul, encontramos um pitoresco espaço à margem de um lago cercado por árvores que parecem cenográficas. Imagino ali performances de dança e de tecidos acrobáticos. Ai, que palco lindo.
E esse mesmo lago é tão, tão cênico, que, dando a volta nele, num bosque, tem um piso arredondado, com uma figueira sagrada ao fundo, perfeito para qualquer tipo de ideia artística. Poderia chamar-se… eu não sou muito boa em dar nomes, mas você pode dar. Nesse palco, o da figueira sagrada, eu imaginei tantas vezes a peça teatral SER TÃO DE ORIGEM acontecendo, mas não fiz acontecer. Se você quiser, pode ouvir o áudio drama desta peça e imaginá-la acontecendo nesse lugar, ou em qualquer outro.
Voltando para o oeste, para a avenida que leva para outro canto da cidade, tem o Clube, com um palco dentro do salão de festas; e o Anfiteatro da Escola Técnica Estadual, com um espaço multiuso ladeado por janelas amplas com vista para a mata.
Mais pra frente ainda, quando a gente pensa que não tem mais rua e o asfalto vira terra, encontramos um auditório lindo, muito bem cuidado, uma jóia, dentro da fazenda histórica da Fundação. O lugar em si já é uma viagem cultural. Uma beleza!
No caminho que eu percorri para escrever esse artigo, encontrei e imaginei esses palcos.
Devem existir outros. E podemos imaginar tantos outros.
E você? Você conhece algum palco aqui da cidade de Jundiaí?
E da sua cidade?
E no seu mundo, quais palcos existem?
Se conhecer algum palco, tira uma foto e me manda no instagram @palcos.da.cidade, ou marca a sua foto com a #palcosdejundiai e #palcosaomeuredor. Não usa redes sociais? Mande um e-mail: umnucleodeteatro@gmail.com
Vamos dar luz a esses espaços lindos, dentro e fora de nós.
*Este artigo faz parte do projeto “Teatro: história através dos palcos da cidade”, de Caroline Ungaro, realizado com recurso do Edital de Fomento Direto a Profissionais do Setor Cultural e Criativo no Estado de São Paulo – ProAC2021, e apoiado por Circularte Educação, UM núcleo de teatro e Atuará escola de teatro. Ao longo do projeto, será publicada uma série de artigos sobre alguns dos principais tipos de espaços para apresentações cênicas que a humanidade criou, trazendo, como exemplos dessas construções, palcos que existem na cidade de Jundiaí hoje, buscando mostrar a diversidade de palcos que existem na região central e nas periferias da cidade, e incentivar as pessoas a procurarem os palcos que existem ao seu redor. Também será lançada uma videoaula que ficará disponível no canal do YouTube da Atuará escola de teatro. A videoaula será um convite para conhecermos e ocuparmos os espaços da cidade, em especial os possíveis palcos, fazendo com que sejamos espectadores e/ou fazedores de arte; será também um chamado ao fato de que a criação artística acontece através da pesquisa, do estudo, do conhecimento e que ela pode estar bem próxima de nós; por fim, será um incentivo para olharmos as estruturas arquitetônicas como um caminho para compreender a arte cênica, essa ação humana tão potente. #ProAC2021