Pluft, o fantasminha.

Esta peça é, com certeza, uma das mais conhecidas peças infantis brasileiras. Escrita por Maria Clara Machado, foi ao palco pela primeira vez no Tablado no Rio de Janeiro, em setembro de 1955, com cenário de Napoleão Moniz Freire, figurinos de Kalma Murtinho, sonoplastia de Edelvira Fernandes e Martha Rosman e direção de Maria Clara Machado.

Vale a pena conhecer a obra desta autora, que tem quase 30 peças infantis!

Neste texto é possível observar o conhecimento do teatro de Maria Clara Machado, pelas indicações feitas seja para o cenário, figurino ou para a atuação. Enquanto lemos é possível imaginar a cena dentro do sótão e se divertir com o fato inusitado de um fantasminha que tem medo de gente.

Leia um trecho da peça neste post e termine a leitura no link: http://www.pilha.vrc.puc-rio.br/pilha6/pdf/pluft.pdf

 

As duas imagens deste posta são montagens do Tablado , a primeira de 1955 e a segunda de 2014.

ATO ÚNICO

Cenário: Um sótão. À direita uma janela dando para fora de onde se avista o céu. No meio, encostado à parede do fundo, um baú. Uma cadeira de balanço. Cabides onde se vêem, pendurados, velhas roupas e chapéus. Coisas de marinha. Cordas, redes. O retrato velado do capitão Bonança. À esquerda, a entrada do sótão. Ao abrir o pano, a Senhora Fantasma faz tricô, balançando-se na cadeira, que range compassadamente. Pluft, o fantasminha, brinca com um barco. Depois larga o barco e pega uma velha boneca de pano. Observa-a por algum tempo.

PLUFT: Mamãe!

MÃE: O que é, Pluft?

PLUFT: (Sempre com a boneca de pano) Mamãe, gente existe?

MÃE: Claro, Pluft. Claro que gente existe.

PLUFT: Mamãe, tenho tanto medo de gente! (Larga a boneca.)

MÃE: Bobagem, Pluft.

PLUFT: Ontem passou lá embaixo, perto do mar, e eu vi.

MÃE: Viu o que, Pluft?

PLUFT: Vi gente, mamãe. Só pode ser. Três.

MÃE: E você teve medo?

PLUFT: Muito, mamãe.

MÃE: Você é bobo, Pluft. Gente é que tem medo de fantasma e não fantasma que tem medo de gente.

PLUFT: Mas eu tenho.

MÃE: Se seu pai fosse vivo, Pluft, você apanharia uma surra com esse medo bobo. Qualquer dia destes eu vou te levar ao mundo para vê-los de perto.

PLUFT: Ao mundo, mamãe?!!

MÃE: É, ao mundo. Lá embaixo, na cidade…

PLUFT: (Muito agitado vai até a janela. Pausa.) Não, não, não. Eu não acredito em gente, pronto…

MÃE: Vai sim, e acabará com estas bobagens. São histórias demais que o tio Gerúndio conta para você. (Pluft corre até um canto e apanha um chapéu de almirante.)

PLUFT: Olha, mamãe, olha o que eu descobri! O que é isto?!

MÃE: Isto tio Gerúndio trouxe do mar. (Pluft fora de cena continua a descobrir coisas, que vai jogando em cena: panos, roupas, chapéus etc.)

PLUFT: Por que tio Gerúndio não trabalha mais no mar, hem, mamã?

MÃE: Porque o mar perdeu a graça para ele…

PLUFT: (Sempre remexendo, descobre um espartilho de mulher) E isto, mamãe, (aparecendo) que é isso? Ele trouxe isto também do mar? (Coloca o espartilho na cabeça e passeia em volta da mãe.)