Muita gente que não trabalha com teatro pode pensar que o ator precisa aprender o texto do personagem e encontrar a maneira correta de dizer aquela frase!
E qual será a maneira correta de dizer uma frase? Será que existe uma?
Claro que podemos imaginar que existe uma maneira adequada de uma determinada frase ser dita por um certo personagem em uma situação particular que a peça está se referindo. Mas mesmo com tudo isso decidido, existirá uma única melhor maneira?
Vamos imaginar uma cena: A peça é Romeu e Julieta, Julieta está em seu famoso balcão e Romeu está escondido, vendo-a, sem que ela saiba ainda que ele está lá, até que escuta um barulho ou vê um vulto e diz:
Julieta: Quem és tu, que encoberto pela noite, entras em meu segredo?
Qual será a forma correta desta frase ser dita? Estará Julieta curiosa? Ou esperançosa de que fosse ele, logo após tê-lo conhecido no baile? Quem sabe está assustada por não esperar a presença de ninguém?
Poderíamos definir uma destas opções, escolhamos: Está curiosa!
Muito bem, e como fala alguém curioso? Será que fala de maneira dura, quase dando uma bronca? Ou um curioso também pode falar com um tom de cumplicidade, para que o outro não se espante e fuja? É um curioso amedrontado e fala gaguejando?
E como se movimenta o corpo de Julieta enquanto diz esta frase? Se debruça no balcão para enxergar mais longe ou se esconde para ver sem ser vista?
Podemos passar horas explorando possibilidades e normalmente é isto que fazem os atores quando estão no processo de elaboração de um espetáculo.
As opções são muitas e esta única frase, dita por diferentes atrizes representando a mesma Julieta, pode encontrar muitas soluções seja no gesto ou na maneira de falar. E todas elas poderão ser boas maneiras, a depender de muitos outros fatores.
Esta característica do fazer teatral é, com certeza, um dos aspectos mais atraentes desta linguagem, exatamente por podermos experimentar diferentes possibilidades para nos expressarmos.
E você, se fosse a Julieta, como diria esta frase?
Quando pensamos no ensino de teatro, é comum relacionarmos com uma apresentação para os pais. Algumas escolas só fazem mesmo as apresentações, isto é, o teatro só é trabalhado com a função de apresentar o trabalho dos alunos para os pais.
Para entendermos melhor esta questão, é importante refletirmos sobre qual o sentido de nos apresentarmos dentro da situação escolar.
Fazer uma apresentação sobre o aprendizado dos alunos é sempre uma oportunidade de compartilhar com os pais aquilo que seus filhos estão vivenciando e criando. Se pensarmos sobre este ponto de vista, a apresentação é uma experiência que pode ser riquíssima dentro deste processo de permitir que os pais e a comunidade escolar participem da vida escolar dos alunos.
Ao refletirmos sobre o teatro, suas características como Arte, também chegaremos à conclusão de que fazer apresentações é algo muito positivo, já que o teatro só acontece com a presença do público!
Mas então, por que estamos colocando em dúvida a prática de apresentar peças aos pais?
Porque precisamos pensar sobre como apresentar!
A primeira reflexão é: Estamos fazendo uma apresentação de um processo de aprendizagem teatral ou estamos fazendo teatro para ter o que apresentar? Se a apresentação é decorrente de um aprendizado, ela poderá ser um ótimo momento de compartilhar o vivido e a realização de uma etapa importante no aprendizado teatral. Mas se fazemos a peça só para ter o que apresentar, não estaremos compartilhando nada da aprendizagem, pois ela não ocorreu. A prática teatral não teve um fim em si, ela só ocorreu para que houvesse uma apresentação.
Considerando que seja um momento de compartilhar o que foi aprendido pelos alunos, precisamos refletir sobre como compartilhar. Para definir a forma de apresentar precisamos responder algumas perguntas:
Os alunos querem fazer a apresentação?
Para quem eles gostariam de se apresentar?
Qual o espaço mais adequado para as cenas que montamos?
Qual a proximidade necessária com a plateia para que as falas possam ser ouvidas?
Estou dando mais importância para o cenário e figurino do que para a atuação?
A faixa etária dos meus alunos foi pensada quando elaborei a apresentação?
A prática de se apresentar é algo presente no ensino de teatro que eu proponho ou nunca ocorre nenhuma apresentação até o grande dia?
São muitos os aspectos sobre o qual precisamos refletir para fazer uma apresentação e algumas características se modificam bastante quando estamos trabalhando com crianças pequeninas, da Educação Infantil ou quando são jovens do Ensino Médio.
Este post não comporta tudo o que precisamos falar sobre este tema, mas em breve retomaremos este assunto, pensando como pode ser uma apresentação nos diferentes ciclos educacionais.
A palavra diretor está bastante associada a ideia de mandar. Existem diretores em muitos campos de trabalho e os professores costumam conviver com as diretoras de escolas, cotidianamente.
Desta forma, qual a especificidade do diretor teatral?
Acho a função do diretor muito parecida com a do professor. Sou professora há muitos anos e já dirigi algumas montagens teatrais, seja no teatro-educação ou no teatro-amador. Também já fui assistente de direção do teatro profissional e digo com tranquilidade que são funções que se assemelham.
O diretor teatral tem duas principais funções: ajudar os atores a encontrarem a melhor forma de atuar e terem uma visão do todo do espetáculo.
Para ajudar o ator nesta construção teatral é fundamental ter em mente que o ator possui capacidade de criar, portanto, compete ao diretor encontrar propostas que potencializem esta criação. Dizer a um ator tudo o que ele deve fazer é tirar dele o que existe de mais fascinante no teatro, que é a experiência criativa.
Ter a visão do todo significa fazer costuras entre as necessidades dos atores e as possibilidades para cenário, figurino, iluminação e sonoplastia. O diretor é quem estabelece costuras entre estes diferentes aspectos que compõem uma peça.
Talvez você esteja pensando que em sala de aula, em montagens feitas nas escolas, você, professora assume todas estas funções, fazendo tudo o que for necessário, sem a ajuda de ninguém. É a condição de trabalho de grande parte dos professores e não vejo nenhum problema nisto, embora acredite que uma ajuda é sempre bem vinda!
Trabalhe com seus alunos, possibilite a criação deles, escute as ideias, incorpore as sugestões e faça com que cada um se sinta autor-criador do que será apresentado.
Lembre-se: os alunos não vão para a escola para realizar o teu sonho! Não é a peça que você imaginou que deve ser montada, ainda que isto possa parecer decepcionante para você. Dirigir uma peça que é de todos, observar a felicidade de cada um por ter criado algo é o que há de melhor na vida de uma diretora ou de uma professora.
A foto deste post é de Augusto Boal em 1975, está disponível em http://www.funarte.gov.br.
No ensino de teatro é muito difícil escolher um texto para montar uma peça com os alunos, sejam da idade que forem!
Talvez a principal dificuldade seja do número de alunos em contraposição ao número de personagens. Quase todas as peças tem poucos personagens e quase todas as salas de aula tem muitos alunos. É uma conta que não fecha!
A situação só piora quando observamos o número de personagens que tem alguma importância no enredo. Dois exemplos clássicos de montagens feitas na Educação Infantil e nos primeiros anos do Fundamental: Os três porquinhos – 4 personagens e Chapeuzinho Vermelho – 5 personagens.
Os poucos alunos considerados capazes irão fazer alguns destes personagens. Para os demais sobram as árvores, os pássaros, os bichinhos da floresta ou alguma invenção humana feita pela professora.
A tentativa de encaixar uma turma de 25 alunos em uma apresentação com 5 personagens, quase nunca funciona. Alunos chateados, irrequietos e que chegam a conclusão de que fazer teatro é muito chato!
Como fazer? Mudar a forma de pensar texto para alunos pequenos. Buscar personagens coletivos. Buscar histórias nas quais muitos personagens interajam. Fazer com que várias crianças interpretem o mesmo personagem.
É possível encontrar diferentes soluções, o que fundamenta a busca é ter claro que o mais importante na apresentação é possibilitar a criação cênica com o corpo e com a voz, portanto a escolha do texto e as opções sobre como apresentar não podem colocar o texto na frente das crianças.
Legalmente esta resposta é simples, pois a pessoa formada em Pedagogia pode lecionar qualquer disciplina, seja na Educação Infantil ou no Fundamental 1 e no Fundamental 2 e no Ensino Médio será somente quem é Licenciado em Artes.
Mas como alguém que nunca fez ou estudou teatro poderá ensinar para alguém?
O meu trabalho como professora para o curso de Pedagogia ou para pedagogos já formados me faz ter a impressão de que a maior parte deste grupo de professoras não teve qualquer formação nesta linguagem. E então passamos para outra pergunta: como resolver este buraco? Como fazer com que a ausência de experiências com a linguagem teatral, por parte dos professores, não gere novas gerações nas mesmas condições?
Este blog tenta, ainda que considerando os limites que um blog pode ter, preencher parte desta lacuna.
Tenho certeza absoluta que a experiência de fazer teatro é insubstituível. Também tenho certeza que qualquer professor de teatro que tenha estudado seja pela prática realizada, seja pela leitura que fundamenta o ensino de teatro, será um professor muito melhor. Mas acredito que se você é uma professora que deseja incluir o teatro na sua prática pedagógica com alunos do Infantil e Fundamental 1 e ainda não teve uma formação específica na área, comece agora este caminho.
Ir ao teatro, assistir espetáculos, ler peças teatrais, estudar teóricos que discutem o tema e experimentar algumas propostas com seus alunos é um bom começo. Fazer cursos que são oferecidos na tua cidade, podendo vivenciar coletivamente esta prática é uma forma feliz e responsável de continuar a descobrir possibilidades.
Se você é professor do Fundamental 2, Médio, EJA ou outros espaços educativos, procure também o professor de Artes e troque ideias, talvez vocês façam um projeto juntos. Nos muitos relatos que já ouvi, os professores de português e de história foram os responsáveis pela pouca experiência teatral vivida. É o ideal? Não! Mas é melhor do que nada.
A relação entre palco e plateia é com certeza fonte de diversas reflexões sobre a cena teatral. Há quem diga que no ensino de teatro não importa a apresentação, o que importa é o processo vivido pelos alunos/atores.
Como não importar algo que faz parte da cena?
Muitas confusões neste meio de campo são decorrentes de uma concepção de peça teatral como um grande espetáculo, como algo pronto para ser mostrado a uma plateia que vê a cena distante da mesma. A imagem do palco italiano, com luzes sobre os atores, que ofuscam seu olhar, impedindo-o de ver o público, que por sua vez está lá, longe, sentado nas cadeiras da plateia, quase como uma massa de gente.
Bocas, quantas bocas
A cidade vai abrir
Pruma alma de artista se entregar
Neste pequeno trecho da música Na carreira, Chico Buarque apresenta uma imagem de plateia que pode tanto ser assustadora, pensando em bocas abertas e devoradoras, mas também pode ser uma imagem de entrega, de encontro, de almas que se juntam neste momento da criação.
Vejo a plateia nesta segunda opção, como pessoas com as quais os alunos/atores se encontram, trocam, criam juntos, na proposição de uns e na leitura de outros.
Talvez este encontro seja o que há de mais encantador na Arte, este encontro que acontece entre o artista, sua obra e seu público, encontro do qual todos saem transformados.
Você pode estar pensando que isto talvez ocorra com atores profissionais, mas não com crianças em apresentações escolares. Será que não? Não digo que seja o mesmo, mas há algo de essencial que perpassa a todas as apresentações, que é vivenciar juntos um processo criativo. Quando o que se apresenta é o resultado de um processo criativo, ainda que com os limites decorrentes da pouca idade ou do pequeno domínio desta linguagem, vivemos o encanto de compartilhar um processo criativo, uma descoberta, o conhecer.
Mas para que este encanto ocorra é necessário adequar a plateia, seu tamanho, seu formato, a proximidade com a cena, ao grupo que se apresenta. Nem sempre precisamos de um palco italiano, com luzes e distância. Algumas plateias precisam ficar pertinho, perto o suficiente para serem tocadas pelas crianças. Como fazer isto? Volto a este assunto em um próximo post!
Como fazer que o público escute o que está sendo dito em cena?
Esta preocupação é bastante frequente no trabalho com não atores e quando são crianças, ainda mais.
Podemos pensar uma resposta para esta questão que vai em dois sentidos, que podem parecer opostos, mas são complementares.
A primeira resposta para esta questão está em dimensionar o tamanho do espaço e o número de pessoas da plateia. Isto significa que se queremos que as crianças se apresentem em público sem o uso de amplificação por meio de microfones, não podemos esperar que o alcance de suas vozes será semelhante ao de um adulto e muito menos de um ator ou atriz.
A dificuldade desta amplificação natural se deve ao fato de que o corpo das crianças não tem o mesmo tamanho do que o dos adultos e que a dificuldade em projetar a voz, em ampliá-la é muito maior nestas condições.
Você pode pensar: mas elas gritam tanto e tão alto! Sim, elas gritam alto, porém uma cena não é feita com personagens gritando, o que significa que não é possível resolver este problema no grito!
Consequentemente, aqui vai a primeira dica: adeque o espaço ao potencial das crianças! Apresentações em lugares menores, com um público menos numeroso e mais próximo da cena garante a possibilidade de que as crianças sejam ouvidas.
O segundo aspecto a ser considerado é o trabalho que precisa ser feito para que as crianças e adolescentes saibam projetar a voz e torná-la mais audível. Este trabalho será composto de diferentes exercícios de percepção e de uso da voz no qual cada um descubrirá as variáveis possíveis e a altura (me refiro ao mais grave ou mais agudo) adequada ao seu timbre.
Conhecer a própria voz é condição para poder projetá-la mais e ser mais audível.
Até aqui falamos de apenas um aspecto do trabalho com a voz, que explora possibilidades de ser ouvido em cena. Ainda falta falar sobre maneiras de trabalhar a expressão da voz, mas isto ficará para outro post.
E como este blog é voltado, principalmente, para professores e professoras, lembrem-se que mesmo não trabalhando no palco, a tua voz é um dos principais instrumentos de trabalho. Você conhece a tua? Sabe como projetá-la? Caso nunca tenha estudado tua voz, não perca tempo! Não deixe que ela se acabe!
Muita gente pode se perguntar o que é consciência corporal, embora estas duas palavras juntas já expliquem um pouco do sentido dessa expressão. Todos sabem alguma coisa sobre o próprio corpo e neste sentido, todos têm alguma consciência corporal. Então qual é a importância de trabalhar a consciência corporal e qual sua relação com o teatro?
O teatro é uma linguagem artística que ocorre por meio do corpo. Precisamos do corpo para nos expressar teatralmente! Neste sentido, não basta sabermos coisas básicas, como reconhecer quando sentimos fome ou quando temos sono.
A consciência corporal irá explorar as possibilidades de movimento, controle e expressão do corpo. Para tanto é importante que neste trabalho seja oferecida informações sobre a estrutura óssea, a musculatura e os órgãos, pois compreender conceitualmente, além de sensorialmente ajuda neste processo.
Mas, é na exploração das possibilidades corporais que iremos conhecer nosso corpo. Um dos aspectos importantes a ser ressaltado é que não existe um modelo perfeito onde devemos chegar. Os corpos são tão variados como o número de pessoas existentes na Terra. Conhecer esta diversidade e reconhecer suas especificidades é parte desta proposta.
Vale a pena lembrar que o corpo não é apenas força ou alongamento, estas duas qualidades são características da musculatura corporal e irão interferir nas possibilidades de realização de alguns movimentos, de alguns gestos, mas a expressão não está vinculada a potência muscular! A expressão acontece muito mais pelo quanto nos conhecemos, pela consciência que temos de nossas possibilidades do que pelo exercício muscular.
O corpo é pele, olhos, boca, voz, dedos do pé… Nosso corpo irá se expressar com cada cantinho, assim como com o todo. As emoções que sentimos interferem na forma pela qual nos expressamos e conseguir controlar as emoções é parte do trabalho de consciência corporal. Saber até onde podemos controlar, também é parte da consciência sobre nossas possibilidades.
São inúmeros os campos de atuação para que possamos saber mais sobre o funcionamento corporal e sobre nosso potencial expressivo. Na próxima proposta dos Alunos em cena iremos apresentar uma sugestão. Enquanto isso, vá sentindo seu corpo e descobrindo um pouco mais sobre você!
A cena teatral pode ocorrer em qualquer espaço. Muitas vezes ocorre na rua, sob a luz do sol, que é uma luz tão poderosa que dificilmente podemos concorrer com ela! Mas quando estamos fechados entre quatro paredes e cobertos por um teto, ter uma luz que ilumine o espaço é condição para que possamos ver o que ocorre nele.
Até 1879 a luz elétrica não existia, o que significa que as apresentações teatrais eram feitas com a iluminação solar ou com a luz proveniente do fogo e de outras maneiras de manter um lampião aceso, como querosene ou gás, por exemplo. Muitos teatros pegaram fogo por esta condição.
A dificuldade em acender e apagar os lampiões ou semelhantes fez com que por muito tempo todo o espaço teatral permanecesse iluminado, não havendo distinção entre palco e plateia, no que diz respeito a iluminação.
Nestes quase cento e cinquenta anos, desde a descoberta da luz elétrica, muitos recursos foram inventados, criando múltiplas possibilidades para a cena. Entretanto, apesar da grande diversidade tecnológica, a pergunta sobre o que vou iluminar permanece.
Se não queremos fazer da montagem teatral um show de luzes, precisaremos escolher onde colocar luz conforme as necessidades que a cena pede.
Não há dúvida de que ter um teatro com muitos recursos é a delícia da maior parte dos encenadores. Poder experimentar qual luz se adequa mais a cada cena, com as variedades de cores, as multiplicidades de recortes e de focos é algo que enriquece a cena. Se além do equipamento o grupo contar também com um bom iluminador, que irá se debruçar na análise das necessidades, tendo já um conhecimento sobre as possibilidades técnicas, e criando soluções para a cena. Aí então, chegamos aos céus e com um foco de luz iluminando o caminho.
Mas se teu trabalho é em uma escola na qual teu único recurso é a luz branca do teto, lembre-se que existem abajures e lanternas para darem graça à nossa vida e à nossa cena.
O mais importante ao pensarmos a luz da cena é explorarmos as necessidades que a cena pede. Se a cena pede escuro, mas só pode ser feita em uma sala iluminadíssima, você terá que descobrir outros recursos para que o escuro chegue neste espaço cheio de luz.
Só não deixe que a falta de recursos se transforme em pobreza para a tua imaginação. Veja quais as cores e os tons que a cena pede; quais os recortes de luz, o enquadramento necessário e se ponha a explorar possibilidades, sem abandonar este campo da cena porque te falta equipamentos. Afinal, só vale apagar a luz do interruptor da escola, quando tivermos uma chama acesa!
Para respondermos a esta pergunta, vamos antes entender o que é o figurino.
Figurino é a roupa, o adereço, o enfeite de cabeça ou de corpo que é utilizado pelos atores quando fazem teatro. Ele pode ter sido escolhido, criado por algum figurinista ou apenas ser a roupa que o ator usava no momento da cena. Mesmo que seja a roupa de ensaio, quando utilizada em cena, passa a ser o figurino escolhido.
Ao pensarmos desta forma, sempre haverá um figurino em cena, mesmo que seja o uniforme utilizado por alunos em uma sala de aula. Fausto Viana fala sobre figurinos em sua dissertação de mestrado:
“O figurino é qualquer peça que será portada pelo corpo do ator em cena, fazendo parte do conjunto visual que ele apresenta, independente do espaço cênico. A roupa é fundamental e interage com todos os elementos que compões o espetáculo: a iluminação pode alterar a sua cor, a coreografia pode ser prejudicada, o cenário pode apagar seu efeito. Até mesmo uma marcação de cena pode tornar o figurino inútil ou desnecessário, se o ator não aparecer.
E o oposto também é verdadeiro: todas as funções citadas acima podem ser realçadas pelo figurino. Da interação surge um trabalho harmonioso. A luz pode transformá-lo, aumentando ou diminuindo-o! O cenário ganha nova vida com peças de vestuário adequadas. Uma coreografia torna-se mais graciosa com tecidos leves sugerindo múltiplos efeitos aéreos…
Tudo isso para compor o espetáculo teatral.”
O figurino conta muito sobre o personagem, ele possibilita que saibamos mais sobre diversas características como a idade, a classe social ou o estilo de vida, mas não é o figurino que compõe um personagem e sim a interpretação. Por mais incrível que seja um figurino, ele não sustenta um personagem se o trabalho do ator for ruim.
Mas como pensarmos o figurino para o ensino de teatro? Será que ele é sempre necessário?
Eu acho que não!
O trabalho realizado com alunos pode ser feito sem qualquer figurino, pois o que nos interessa primordialmente é a descoberta das possibilidades expressivas. O que mais queremos é que os alunos descubram maneiras de se expressarem corporalmente, explorando gestos que nos contem sobre seus personagens, mesmo sem nenhuma roupa para ajudá-los nesta composição.
Isto significa que não devemos usar figurinos?
Claro que podemos usar figurinos, mas não é uma obrigação! Não deve ser usado em qualquer situação, em qualquer improvisação. E mais importante, não pode chamar mais a atenção que os gestos do ator.
O figurino precisa sem pensado como parte da composição do personagem, portanto ele não pode chegar à cena somente no dia da apresentação, ele tampouco pode ser algo que atrapalhe os alunos nos seus movimentos ou na projeção de sua voz.
Uma das possibilidades é que os alunos construam seus figurinos, seja com o uso de diferentes roupas disponíveis para tal, seja com a ajuda de uma costureira.
Existem figurinos maravilhosos e figurinistas que fazem um trabalho incrível! Vale a pena conhecer um pouco para que você se inspire, mostre para seus alunos e descubra as muitas maneiras possíveis de criar um personagem.
Para saber mais:
Rosane Muniz em Vestindo os Nus (Rio de Janeiro: Editora SENAC, 2004) conta a história do figurino de teatro no Brasil. Relaciona o figurino ao trabalho do ator, à crítica e à direção, analisa o trabalho de Gianni Ratto e de Kalma Murtinho, além de entrevistar diversos figurinistas brasileiros.
Figurino Teatral e as renovações do século XX (São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2010) é um livro que investiga as raízes dos processos contemporâneos da criação de trajes teatrais. Fausto Viana analisa a evolução histórica do figurino no teatro ocidental, pela pesquisa de sete encenadores: Adolphe Appia, Edward Gordon Craig, Konstantin Stanislavski, Max Reinhardt, Antonin Artaud, Bertold Brecht e Ariane Mnouchkine.