O som da cena

Talvez seja estranho pensar no som da cena! Cena teatral tem som? O som não é apenas a fala dos personagens? O som da cena também pode ser chamado de sonoplastia, e podemos compreender o que é a sonoplastia a partir da escuta dos sons que existem nas nossas “cenas” cotidianas.

Vivemos rodeados de sons. Se você escutar o lugar onde está neste momento,  perceberá que, por mais silencioso que seja, está repleto de sons. Murray Schafer denominou esta situação de “paisagem sonora”. Quem se interessar por este assunto encontrará diversas publicações a respeito – há muito material a pesquisar.

Jean-Jacques Roubine, em seu livro A linguagem da encenação teatral (1998, Editora Zahar), afirma:

Os naturalistas foram os primeiros a se interrogar sobre a sonorização do espaço cênico. E se a tradicional música de cena habitualmente usada para manter um certo clima durante as pausas impostas pelas mudanças de cenários lhes aparecia como um artifício parasitário do qual era necessário se livrar, a sonoplastia, pelo contrário, era capaz, na sua opinião, de interferir com eficiência para reforçar a ilusão visual através de sua verdadeira paisagem sonora.

Os recursos para compor o ambiente sonoro são muitos e vão variar conforme a proposta da peça: pode existir a intenção de que a sonoplastia leve a plateia a se sentir no espaço no qual a cena ocorre, mas também se pode desejar que a sonoplastia traduza as emoções dos personagens, recurso bastante utilizado nas novelas. Ou, ainda, a sonoplastia pode buscar um contraponto, causando um estranhamento entre o que se vê e o que se ouve – tudo dependerá, como eu já disse, da proposta da montagem.

O uso de músicas, ruídos, canto, sejam eles executados ao vivo, pelos atores, sejam gravações reproduzidas durante a apresentação, é possível e bastante comum. Porém, é importante pensarmos que existe, inclusive, a escolha por não utilizar nenhuma sonoplastia, também como parte da concepção da cena. Seja o som pensado e escolhido ou o som do espaço no qual a apresentação ocorre, ele fará parte da cena.

Para saber mais:

Se você quer conhecer mais sobre o assunto, pode pesquisar no livro A sonoplastia no teatro, de Roberto Gil Camargo, ou na tese de Fabio Cintra, A musicalidade como arcabouço da cena: caminhos para uma educação musical no teatro, que estabelece relações entre a música e a cena teatral, enfocando a improvisação como espaço comum (Disponível aqui.)

Qual o papel do cenário?

Para podermos pensar em como criar um cenário teatral, precisamos entender o que é um cenário e qual sua função na montagem de uma peça ou na prática teatral.

O cenário é composto pelos objetos e pelos elementos visuais que irão compor a cena. Precisamos diferenciar o cenário do espaço da cena, que pode ser um palco de um teatro, a rua, um barco ou uma sala de aula. O espaço onde a cena ocorre, com toda certeza, define parte das características da cena, e falaremos disso em uma outra postagem.

O cenário é o que colocamos em um espaço de cena já definido e que irá dialogar com o trabalho dos atores para a construção da cena.

Imagem retirada de http://www.funarte.gov.br/

Gianni Ratto apresenta diferentes definições de cenografia em seu livro Antitratado de cenografia: variações sobre o mesmo tema. E eu escolhi uma delas para entendermos um pouco mais sobre o assunto:

Cenografia é o espaço eleito para que nele aconteça o drama ao qual queremos assistir. Portanto, falando de cenografia, podemos entender tanto o que está contido num espaço quanto o próprio espaço. […] Cenografia é a identificação de um espaço único e irrepetível capaz de receber sem inúteis interferências as personagens propostas e os atores que as interpretam. A verdadeira cenografia é determinada pela presença do ator e de seu traje; a personagem que se movimenta nas áreas que lhe são atribuídas cria constantemente novos espaços alterados, consequentemente, pelo movimento dos outros atores: a soma dessas ações cria uma arquitetura cenográfica invisível para os olhos, mas claramente perceptível, no plano sensorial, pelo desenho e pela estrutura dramatúrgica do texto apresentado.

Nesta definição fica clara a relação entre todos os elementos da cena e a importância de que os objetos escolhidos não sejam um enfeite do palco, mas, sim, que dialoguem com todos os demais elementos da montagem.

 

 

 

Para quem quiser descobrir um pouco mais do trabalho de cenário, veja a seguir algumas dicas.

  • Uma recomendação comum, quando falamos de ensino de teatro, é que o cenário só apareça quando ocorrem apresentações e, em geral, bem perto do dia de apresentar – de preferência, na hora de apresentar. Esta visão de cenário está pautada na ideia de que o cenário tem como função embelezar a cena. No entanto, ainda que possamos mesmo deixar a cena mais bonita, o cenário precisa ser vivido como elemento que irá compô-la e, portanto, ele precisa aparecer no decorrer de todo o trabalho de experimentação, no jogo, nas brincadeiras.
  • Dentro da escola, o cenário pode ser montado como motivador para a cena. Se estamos falando de crianças bem pequenas, de zero a 3 anos, o mais indicado é que os professores organizem o espaço para que elas brinquem nele. Para as demais idades, também podemos ter momentos nos quais os alunos serão surpreendidos com o espaço transformado.
  • Mas outra forma de criar cenários é com a participação dos alunos, com uma elaboração que pode ocorrer com todos juntos ou com pequenos grupos. Evidentemente, depois de montar, as crianças irão experimentar cenas neste novo espaço!

Para saber mais:

Você pode conhecer mais sobre o trabalho de Gianni Ratto no site da FUNARTE: http://www.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/acervo/cenario-e-figurino/biografia-de-gianni-ratto/

Ou no Instituto Gianni Ratto: http://gianniratto.org.br/

O que se aprende improvisando?

Improvisar é um termo cotidianamente utilizado quando se quer expressar que não nos preparamos para algo e precisamos resolver um problema de última hora. Nesta concepção, a ideia de improvisar está bastante associada à falta de preparo e à provável falta de qualidade. Mas também traz a ideia de algo que será feito sem um roteiro prévio e, neste aspecto, se aproxima do conceito de improvisação teatral.

Improvisação do grupo que pesquisei no meu mestrado

A improvisação pode acontecer em diferentes áreas do conhecimento e é bastante frequente na Arte. Os músicos ou os dançarinos improvisam em muitas de suas apresentações, o que significa que nem tudo o que fazem foi previamente ensaiado.
No teatro, a improvisação pode ocorrer no momento da apresentação, e alguns espetáculos são estruturados de forma a que a improvisação ocorra permanentemente.

Foto retirada do site do grupo.

Um grupo teatral que tem como base a improvisação é a Cia. do Quintal. Em seus espetáculos, eles unem a improvisação e o palhaço, e as cenas são criadas com a participação do público. No espetáculo Jogando no quintal, os atores são palhaços e a cena é ambientada como um jogo de futebol.
Os palhaços-atletas são divididos em times. Além deles, há um árbitro-palhaço e uma banda de músicos-palhaços, que cria sons e melodias ao vivo. As cenas são criadas com as sugestões de temas dadas pelo público.
Esse é um exemplo de espetáculo que tem a improvisação em sua estrutura, mas pela descrição é possível perceber que os atores não entram em cena sem ter nenhuma ideia do que ocorrerá. Existe uma proposta que sustenta a cena, que dá um caminho por onde a peça se desenvolverá, mas cada cena é criada no momento em que ocorre.
Você pode conhecer um pouco mais sobre a Cia. do Quintal passeando pelo site http://www.ciadoquintal.com.br.

O uso improvisação em cena não é algo novo e num outro post falarei sobre esta história, mas quero comentar sobre a improvisação antes da apresentação, a apresentação como uma forma de se expressar.
Alguns autores escreveram sobre diferentes formas de representar. Existe muita pesquisa sobre o trabalho do ator. Você pode saber mais sobre esse assunto pesquisando alguns dos encenadores que apresentaram propostas e perceber a diferença entre eles. Dois nomes muito conhecidos entre os vários existentes são o do russo Constantin Stanislavski (1863-1938) e o do inglês Peter Brook (1925).
Alguns autores escreveram sobre diferentes formas de representar. Existe muita pesquisa sobre o trabalho do ator. Você pode saber mais sobre esse assunto pesquisando alguns dos encenadores que apresentaram propostas e perceber a diferença entre eles. Dois nomes muito conhecidos entre os vários existentes são o do russo Constantin Stanislavski (1863-1938) e o do inglês Peter Brook (1925).
Uma autora que escreveu muitas propostas de jogos teatrais tendo a improvisação como base foi a norte-americana Viola Spolin (1906-1994). Nos seus livros é possível encontrar muitos jogos e descobrir maneiras de explorar essa forma teatral, essa forma de criação que pode ocorrer para a criação das cenas ou, como na Cia. do Quintal, ser uma proposta que permanece até o final da apresentação.
Na proposta de Spolin, a improvisação irá ocorrer por meio dos Jogos, claramente sintetizados por Ingrid D. Koudela:
Spolin sugere que o processo de atuação no teatro deve ser baseado na participação em jogos. Por meio do envolvimento criado pela relação de jogo, o participante desenvolve liberdade pessoal dentro do limite de regras estabelecidas e cria técnicas e habilidades pessoais necessárias para o jogo. À medida que interioriza essas habilidades e essa liberdade ou espontaneidade, ele se transforma em um jogador criativo. Os jogos são sociais, baseados em problemas a serem solucionados. O problema a ser solucionado é o objeto do jogo. As regras do jogo incluem a estrutura (Onde, Quem, O Que) e o objeto (Foco) mais o acordo de grupo (Koudela: 1990:43).
Esta não é a única maneira de improvisar, outros autores e encenadores trabalham a improvisação tendo diferentes perspectivas e diferentes maneiras de propor. Vale a pena conhecer um pouco para poder escolher o que é mais adequado para você e para seu grupo de alunos.

Improvisação do grupo que pesquisei no meu mestrado

Por que a improvisação é uma forma importante de ensinar teatro?
Da mesma forma que acontece na cena teatral, quando criamos este espaço de improvisação na escola, possibilitamos aos alunos que encontrem soluções pessoais para a elaboração de cenas, para a criação de personagens, para que encontrem os gestos necessários. Se não ofereço uma definição prévia sobre como a cena deve ocorrer, possibilito que muitas soluções sejam exploradas, levando à criação.
Outro aspecto significativo na improvisação é a prontidão. Quando não temos um roteiro prévio, precisamos encontrar soluções à partir dos recursos que temos e que muitas vezes nem sabemos que estavam ali. Neste sentido, improvisar é um exercício que exige a capacidade de me virar, de encontrar nos cantos do meu corpo soluções para o que é necessário fazer.
Por fim, a presença é outro conceito que será explorado na improvisação. Se não estamos presentes, atentos ao espaço, a si mesmo e às pessoas com quem estou improvisando, nada irá acontecer.
Nesse sentido, a improvisação pode ser interessante quando o objetivo da atividade com os alunos é o desenvolvimento da criatividade, a busca de soluções para um problema, o desenvolvimento da prontidão e da presença. Essas habilidades são importantíssimas para a realização de várias ações cotidianas, nas quais precisamos encontrar soluções para quando a vida não ocorre conforme o planejado, ou para a criação em outras áreas de conhecimento, como a produção de texto ou ainda, a capacidade de trabalhar em grupo, ouvindo o outro.Muito mais poderíamos falar sobre este tema, que é vasto, mas paro por aqui e volto a ele em outros momentos!