Sons que criam clima

Uma cena é criada com muitos elementos e o som é um deles!

A ideia de clima, termo usado para as variações do tempo, se relacionam também às sensações, aos sentimentos. São muitos os elementos que criam um clima, além do som, na vida e na cena: o clima que se evidencia na luminosidade é um deles, um dia de chuva provoca sentimentos diferentes de um dia ensolarado. Nosso humor e nossos sentimentos são afetados pelos climas.

Se pensarmos em cenas da vida cotidiana, veremos quanta mudança de clima uma música pode promover.

Você facilmente consegue imaginar uma cena romântica com uma música de fundo, igualmente romântica! Dificilmente o romantismo permanece com um barulho de furadeira para criar o clima.

Já se você quer criar uma sensação de perturbação, poderá escolher uma música dissonante.

Um tango do Astor Piazzolla é uma ótima maneira de criarmos um clima de angústia, ou talvez de paixão!

O melhor exemplo de todos é o clima criado pelas músicas de suspense, sem as quais é muito difícil criar a sensação de expectativa que o suspense pede.

Criar climas nas cenas por meio de músicas ou sons é um recurso importante não apenas para a cena final, que será vista pelo público, mas também nos ensaios, para que os atores e atrizes encontrem o tom da cena.

Aproveite dos ruídos e das músicas para a criação de cenas com climas diversos!

O som da cena

Talvez seja estranho pensar no som da cena! Cena teatral tem som? O som não é apenas a fala dos personagens? O som da cena também pode ser chamado de sonoplastia, e podemos compreender o que é a sonoplastia a partir da escuta dos sons que existem nas nossas “cenas” cotidianas.

Vivemos rodeados de sons. Se você escutar o lugar onde está neste momento,  perceberá que, por mais silencioso que seja, está repleto de sons. Murray Schafer denominou esta situação de “paisagem sonora”. Quem se interessar por este assunto encontrará diversas publicações a respeito – há muito material a pesquisar.

Jean-Jacques Roubine, em seu livro A linguagem da encenação teatral (1998, Editora Zahar), afirma:

Os naturalistas foram os primeiros a se interrogar sobre a sonorização do espaço cênico. E se a tradicional música de cena habitualmente usada para manter um certo clima durante as pausas impostas pelas mudanças de cenários lhes aparecia como um artifício parasitário do qual era necessário se livrar, a sonoplastia, pelo contrário, era capaz, na sua opinião, de interferir com eficiência para reforçar a ilusão visual através de sua verdadeira paisagem sonora.

Os recursos para compor o ambiente sonoro são muitos e vão variar conforme a proposta da peça: pode existir a intenção de que a sonoplastia leve a plateia a se sentir no espaço no qual a cena ocorre, mas também se pode desejar que a sonoplastia traduza as emoções dos personagens, recurso bastante utilizado nas novelas. Ou, ainda, a sonoplastia pode buscar um contraponto, causando um estranhamento entre o que se vê e o que se ouve – tudo dependerá, como eu já disse, da proposta da montagem.

O uso de músicas, ruídos, canto, sejam eles executados ao vivo, pelos atores, sejam gravações reproduzidas durante a apresentação, é possível e bastante comum. Porém, é importante pensarmos que existe, inclusive, a escolha por não utilizar nenhuma sonoplastia, também como parte da concepção da cena. Seja o som pensado e escolhido ou o som do espaço no qual a apresentação ocorre, ele fará parte da cena.

Para saber mais:

Se você quer conhecer mais sobre o assunto, pode pesquisar no livro A sonoplastia no teatro, de Roberto Gil Camargo, ou na tese de Fabio Cintra, A musicalidade como arcabouço da cena: caminhos para uma educação musical no teatro, que estabelece relações entre a música e a cena teatral, enfocando a improvisação como espaço comum (Disponível aqui.)