Desafio “Todos em cena” – Criando um monstro

Este é o primeiro post do desafio “Todos em cena”.

Cada dia será uma proposta, para encontrarmos maneiras criativas de lidar com essa pandemia que está deixando todo mundo de ponta cabeça!

Passarmos o tempo todo pensando no risco do corona vírus vai deixar cada um de nós com menos forças para nos protegermos. Então, vamos tomar todos os cuidados e colocar a cabeça e o corpo para imaginar!

Já que estamos com medo deste vírus-monstro, que tal brincar de monstro para driblar esse medo?

A proposta de hoje é imaginar um monstro e representá-lo.

Você não vai imaginar ficando parado, só pensando, você vai imaginar com o corpo em movimento. Por isso, abre espaço na sala, no quarto ou mesmo na cozinha e imagina:

  • Começa a andar investigando como esse monstro anda;
  • Senta e levanta várias vezes e descobre como ele senta. Será que este monstro tem duas bundas ou várias pernas?
  • Dança uma música que você adora e descobre como este monstro dança! Será que é uma monstra?
  • Fala um pouco, dá uns gritos e pesquisa qual a voz da sua monstra. Será que ele/ela falam grosso ou fino? Alto ou baixo? Como se tivesse a boca cheia de água?

Se você achou difícil imaginar um monstro, dá uma olhada no livro “Onde vivem os monstros” que muitas ideias virão na tua cabeça! Os bichos da natureza também são uma ótima fonte de inspiração.

Dá uma olhada na proposta do site Ler o mundo https://leromundo.com.br/ e veja todos os desenhos que você pode fazer! Lá tem desafio de desenhos de monstroooos. 

Todo dia uma cena nova!

Sons e sensações

Para quem?

Todas as idades.

Condições necessárias:

Uma sala que permita movimento.

Materiais necessários:

Um aparelho de som.

 

Imagem disponível em https://www.clausvonoertzen.com/works/

Como acontece?

Inicie esta proposta com todos os participantes deitados de forma relaxada. Informe que colocará diferentes sons e que eles devem imaginar uma cena para cada som colocado. É importante que sejam escolhidas músicas diferentes e também sons variados, como do fundo do mar ou de uma britadeira furando o chão. Depois deste momento de escuta imaginativa, faça uma roda e peça que compartilhem as imagens provocadas pelos sons. Esta conversa é muito interessante para que o grupo possa perceber que os estímulos sonoros não causam as mesmas imagens mentais, nem as mesmas sensações.

Depois desta primeira proposta, forme grupos e dê uma mesma orientação para uma cena improvisada, que pode ser cotidiana ou fantástica, o que importa é a possibilidade de perceberem a maneira pela qual o som interfere na cena.

Alguns exemplos de cenas possíveis são: um jantar em família, uma viagem em um foguete, uma caminhada na floresta, uma reunião de trabalho etc.

Cada grupo irá definir quem é quem na cena e algumas referências espaciais. Lembre-se que será a mesma cena para todos, o que vai mudar é o som que será tocado em cada uma delas.

Depois de feitas todas as improvisações, converse novamente com todos questionando quais as interferências decorrentes do som.

Para continuar

Uma possibilidade de desdobramento desta proposta é de que seja dado um sentimento predominante para a cena e cada grupo escolha a música ou o som que será utilizado para auxiliar na composição da cena e na caracterização do sentimento proposto.

Como criar uma sonoplastia?

A sonoplastia é o som da cena, caso você tenha uma ideia muito vaga sobre este assunto, pode ler o post “O som da cena”, publicado neste blog em 26/07/2017, lá você irá encontrar algumas dicas sobre onde pesquisar mais sobre este assunto.

Imagem disponível em https://lugaresdoinvisivel.github.io/objetossonoros.html

Mas se você está no meio de uma montagem e não sabe bem por onde começar para a criação da sua sonoplastia, aqui vão algumas dicas:

A primeira questão a se colocar é qual a função do som na sua cena? Você quer que o som crie um clima ou que cause um estranhamento? Você quer que o som seja uma vinheta de algo que irá ocorrer diversas vezes? Quer incluir músicas temas dos personagens?

Pode ser que a cada uma destas perguntas você tenha tido uma resposta positiva, então talvez seja necessário fazer algumas escolhas para que sua peça não fique uma colcha de retalhos sem qualquer harmonia.

Outro aspecto a definir é sobre quem irá escolher as músicas ou os sons a serem incorporados nas cenas. Uma opção possível é a de contratar um sonoplasta. É possível, mas incomum em montagens escolares. Embora um sonoplasta possa dar contribuições riquíssimas ao trabalho educativo, no caso de não contar com um, você também poderá fazer uma parceria com o/a professor/a de música da escola. Supondo que a escola na qual você trabalhe não tenha ninguém com formação em música, ficamos com o ditado “se não tem tu, vai tu mesma!”. E ainda daremos uma de Polyana e vamos observar as vantagens da sonoplastia ser feita por quem dirige a peça, e quase sempre é responsável também pelo figurino, cenário, iluminação…

A primeira vantagem desta possibilidade é que será uma ótima oportunidade de ampliação do teu repertório musical, que ficará arquivado como mais um recurso a ser usado também em outros trabalhos. A outra vantagem é que você acompanha todo o percurso e poderá saber detalhes que outros desconhecem.

Outra possibilidade é que a sonoplastia seja criada juntamente com os alunos/atores. Eles podem trazer sugestões de músicas para além das suas e a melhor forma de escolher costuma ser realizando a cena com as diferentes sugestões e observar qual ajuda melhor em sua construção.

O uso de instrumentos, objetos sonoros também deve ser considerado, dentre as múltiplas possibilidades. Não seja econômica na experimentação, tente soluções variadas, inclusive aquelas que possam lhe parecer pouco prováveis, pois esta será a melhor maneira de descobrir qual o som que contribui mais para o trabalho dos alunos/atores e também para o diálogo com a plateia.

Não esqueça que o silêncio também é uma escolha possível!

Manifesto Inapropriado

Assisti ao espetáculo “Manifesto Inapropriado” da Cia Histriônica de Teatro no dia 29 de setembro deste ano, no SESC Jundiaí. Havia saído de uma manifestação de Ele Não, que tinha, dentre outras pautas, a recusa por um candidato à presidência que se declarou homofóbico em diferentes momentos de sua carreira política.

O espetáculo começou e tive receio de que se estruturasse como uma ação política (o que seria válido pela necessidade de luta permanente para a aceitação das escolhas de cada um de nós, sejam elas quais forem), porém sem poesia.

Mas a beleza do texto, da encenação e das músicas possibilitou que a plateia se aproximasse das diferentes nuances de uma questão permeada de sofrimento para muitos e muitas que padecem da agressão diária de serem desrespeitados, sem perder o humor, que perpassa diferentes momentos da peça.

Para conhecer mais sobre o trabalho da companhia, você pode acessar o link: https://www.ciahistrionica.com.br/ onde encontrará as informações abaixo e outras mais:

“Manifesto Inapropriado” une lirismo, humor, denúncia e história, partindo de fragmentos da vida e obra de figuras como Mário de Andrade, Roberto Piva, Oscar Wilde e Federico García Lorca. O espetáculo é um compilado cênico-musical de poemas, canções, cartas e depoimentos, que se propõem a apresentar a complexidade da definição do que é ser homossexual hoje em dia.

As fotos deste post são de Maycon Soldan e estão disponíveis no site do grupo.

Ficha Técnica

Direção: Rodrigo Mercadante  | Direção musical: Paulo Ohana  | Elenco: Lucas Sequinato e Ton Ribeiro  |  Dramaturgia coletiva  |Músicos: Paulo Ohana e Theo Yepez  |  Figurino e cenografia: Ângela Sauerbrounn de Andrade  |  Iluminação: Ton Ribeiro  |  Direção de movimento: Gabriel Küster  |  Maquiagem: Bruna Sequinato  |  Duração: 90 minutos  |  Classificação indicativa: 16 anos

Mudando de personagem

Para quem?

De 11 a 14 anos.

Condições necessárias:

Uma sala que permita movimento.

Materiais necessários:

Nenhum.

Imagem disponível em http://www.fashionbubbles.com/arte-e-cultura/relquias-teatro-grego/

Como acontece?

A proposta deste jogo é que uma mesma pessoa possa representar diferentes personagens.

Comece com um aquecimento no qual todos terão que caminhar e conforme é feito um sinal, que pode ser uma palma, eles devem alterar sua forma de caminhar para o personagem solicitado. Este personagem será indicado por você, alguns exemplos são: um pai, uma criança pequena, um velho, um palhaço, um DJ, uma bailarina, uma tia gorda, um cego…

Depois do aquecimento, divida o grupo em dois ou três de maneira que se crie pequenos grupos de sete a dez pessoas, e entregue para cada um desses grupos uma cena parcialmente definida.

Um exemplo possível é: a cena ocorre em uma balada, nela está presente um barman, um faxineiro, um porteiro, cinco adolescentes, um pai e uma mãe. O conflito é de um dos adolescentes ter ido à balada sem a autorização dos pais e estes chegam no meio do programa e levam ele/ela embora.

Proponha para o grupo que cada integrante mude de personagem três vezes no meio da encenação, com um sinal que será dado por você. O ideal é que cada personagem tenha um adereço que o caracterize, desta maneira ao mudar de personagem, o adereço também será trocado. O que deve ser ressaltado neste jogo é que cada um deve buscar os gestos e fala do personagem que passa a representar, sempre que mude de personagem.

Alguns exemplos de adereço podem ser: um bigode para o pai, uma echarpe para a mãe, uma vassoura para o faxineiro, um copo para o barman, um boné ou um fone de ouvido para os adolescentes. A escolha dos adereços pode ser feita juntamente com os alunos, conversando sobre qual o objeto que melhor caracterizará o personagem.

Este jogo pode ser confuso nas primeiras vezes que for jogado, mas com a experimentação os alunos perceberão as diferentes possibilidades de representação que esta proposta oferece, além de notarem que um pai pode ser representado de muitas maneiras, já que pais, adolescentes ou faxineiros são pessoas com múltiplas variações.

Sistema Coringa

O sistema Coringa proposto por Augusto Boal pode ser explicado, de forma simplificada, como uma proposta de encenação na qual diferentes atores podem assumir um mesmo personagem.

Esta maneira de ver a atuação propõe um distanciamento do ator em relação ao personagem, já que ao poder assumir diferentes personagens, o ator não se identificaria com nenhum deles em específico.

A proposta de Boal se refere à visão teatral de Bertold Brecht, mas ambas possuem uma complexidade que não cabe neste post e não é a intenção deste blog aprofundar em teorias teatrais.

Na enciclopédia Itaú Cultural, podemos ler sobre a atualidade deste sistema de encenação: “Ao longo das décadas seguintes, no Brasil, algumas das técnicas teatrais nascidas ou criadas no sistema coringa acabam por ser empregadas em outros contextos, utilizadas como recursos de linguagem, sem obedecer, todavia, às suas determinações ideológicas. São exemplos: o rodízio de personagens do elenco por meio da substituição de adereços; o amálgama de gêneros diversos numa mesma cena ou peça; o emprego de recursos narrativos mesclados com cenas dramáticas etc., tornando o sistema algo assimilado e diluído, mais uma prática do que um modelo, no cotidiano do fazer teatral”.

Ao refletirmos sobre o uso deste sistema no espaço educativo, podemos perceber a possibilidade de explorar diferentes conceitos, como a caracterização de um personagem, o uso de símbolos ou adereços que caracterizem um personagem, a possibilidade de um mesmo ator representar muitos personagens em uma mesma peça, a diversidade de soluções para a representação, dentre outros.

Este sistema, que no teatro profissional permite a realização de uma montagem teatral sem um grupo de atores tão grande, em escolas, nas quais, de maneira geral, sobram atores para os poucos personagens, é possível explorar esta solução dando a oportunidade para que mais de uma pessoa represente o personagem principal, quando existe um.

Esta maneira de olhar para a representação rompe com a hierarquia presente em muitas peças, nas quais há um número pequeno de personagens principais. O que interessa, no entanto, não é termos peças nas quais todos os personagens tenham a mesma relevância, mas sim, ao utilizar deste sistema, dar oportunidade de representação para todos os alunos que estão aprendendo teatro, além de questionar os aspectos já apontados.

Billy Elliot

Assisti o musical Billy Elliot, na cidade de Budapest, em uma montagem feita pela Hungarian Sate Opera, em julho passado.

A peça é baseada no filme de mesmo nome, que conta a história de um garoto talentoso nascido em uma família pobre que é contra seu desejo de se tornar um dançarino de balé. Se passa em 1984, nas cidades mineradoras da Inglaterra. O enredo apresenta os conflitos dos trabalhadores, dos quais seu irmão e seu pai fazem parte em contraponto com o interesse do menino por dançar, quando deveria estar aprendendo boxe.

Esta montagem foi produzida pela primeira vez na Ópera Húngara, no verão de 2016, dirigido por Tamás Szirtes e coreografado por Ákos Tihanyi. O elenco triplo incluía atores do teatro popular húngaro como Judit Ladinek, Nikolett Gallusz, Éva Auksz, András Stohl, Sándor Tóth, Kristóf Németh, Eszter Csákányi, Ilona Bencze e Ildikó Hűvösvölgyi que participaram da montagem desde o princípio.

Neste ano, novos atores foram selecionados para os personagens das crianças. O papel de Billy é extremamente difícil, pois exige que os atores infantis possam dizer em prosa, cantar e dançar, incluindo passos de balé.

A sequência do Lago dos Cisnes foi realizada por bailarinos do Ballet Nacional Húngaro e a música ao vivo foi executada pela Orquestra da Ópera Estatal da Hungria, regida por Géza Köteles e István Silló.

De maneira geral, não sou fã de musicais. Não é o gênero que mais me interessa, mas foi uma experiência interessantíssima, tanto pela qualidade da montagem, como pela possibilidade de assistir a um espetáculo em uma língua tão diversa da nossa. Não há dúvida de que ouvir uma peça falada e cantada em um idíoma do qual não consigo compreender nenhuma palavra foi um ótima oportunidade para aguçar um novo olhar para a cena. Recomendo!

Teatro de arena

Teatro de Arena no CCSP, São Paulo.

O formato do teatro de arena é possivelmente a estrutura mais antiga que conhecemos na história do teatro ocidental.

Na Grécia Antiga, as arenas não se destinavam apenas a representações teatrais, mas acolhiam outras formas de diversão social, como os jogos de gladiadores.

Tais teatros, além de serem conhecidos por sua importância histórica, possuem um formato bastante específico e vale a pena conhecê-lo um pouco mais, já que ele propõe um determinado tipo de encenação que se diferencia do Palco Italiano em variados aspectos. Para quem não sabe o que é um Palco Italiano, aqui vai uma explicação brevíssima: é o teatro no qual o palco fica de um lado e a plateia do outro, sendo que a abertura do palco fica em apenas um dos lados, o que faz com que ator e espectador fiquem frente a frente.

O que mais me interessa no formato do Teatro de Arena é exatamente a relação que ele propicia entre a encenação e a plateia, já que esta fica em volta de toda a cena — ou praticamente toda —, como pode ser visto na imagem abaixo.

TEATRO DE ARENA. Imagem disponível em https://slideplayer.com.br/

O fato de ter plateia em diferentes direções, propõe para a cena uma elaboração que inclui todo o corpo do ator, além de um possível diálogo com os espectadores, mesmo que seja apenas pelo olhar.

A concepção da cena deve levar em conta esta característica e a movimentação dos atores precisa ter em mente a diversidade de pontos de vista, mesmo quando a arena não é de 360 graus.

Teatro de arena “Eugênio Kusnet”

Ao pensarmos no trabalho com alunos, neste formato de cena, com toda certeza rompemos com a ideia de que o que importa é a frente do corpo ou a fala. A cena na arena precisa incorporar o todo do ator, sua presença total, o que a torna um ótimo instrumento para explorar a importância de estar com o corpo todo enquanto atuamos.

Um ano de blog!

Um ano de blog! 48 postagens! 

Neste ano pude escolher sobre o que escrever, pensando nas possíveis leitoras, que acredito serem, em sua maior parte, professoras.

Consegui abordar parte das muitas conversas sobre ensino de teatro que quero ter com meus leitores. Ainda teremos muitas conversas pela frente.

Continuo, como blogueira, sendo professora! O que mais sei é pensar sobre o ensino de Arte e de Teatro. Ainda sei pouco sobre divulgar este blog, tornar ele mais atrativo, fazer as muitas coisas possíveis para que chegue em muitos outros professores e apaixonados por teatro.

Aos poucos aprenderei. Tenho alunos sabidos, que um dia vão me ensinar!

Gosto de festa, de comemorar e de acreditar que estes textos podem ajudar outras professoras a tornarem a escola melhor, fazermos juntos o teatro estar mais presente na formação das crianças.

Que venha mais um ano!