No livro “O ator invisível”, Yoshi Oida conta
“no teatro kabuqui, há um gesto que indica ‘olhar para a lua’, quando o ator aponta o dedo indicador para o céu. Certa vez, um ator, que era muito talentoso, interpretou tal gesto com graça e elegância. O público pensou: ‘Oh, ele fez um belo movimento’. Apreciaram a beleza de sua interpretação e a exibição de seu virtuosismo técnico.
Um outro ator fez o mesmo gesto: apontou para a lua. O público não percebeu se ele tinha ou não realizado um movimento elegante; simplesmente viu a lua”
O que será que faz com que um dos atores atue com tanta beleza que ficamos atentos aos seus gestos, a seu corpo, a suas expressões?
A princípio, uma atuação assim pode parecer a mais desejada de todas, afinal, quem não quer conseguir essa beleza gestual? Mas será essa a principal função do teatro? Será para ver a virtuose da artista que vamos ao teatro? Ou vamos para ver a lua?
Oida termina sua frase dizendo: “Eu prefiro este tipo de ator: o que mostra a lua ao público. O ator capaz de se tornar invisível.”
Eu concordo com ele, vou ao teatro para ver a lua, ainda que possa me encantar com a beleza de um gesto. Quando uma montagem teatral me leva para além do real, vivo algo que minha vida não me dá sem a arte.