Escola de Mulheres

 

Assisti a montagem de “Escola de Mulheres” escrita por Molière no teatro Polytheama, em uma direção de Clara Carvalho.

No Instagram da diretora, onde você pode saber mais sobre o espetáculo e as próximas apresentações, podemos encontrar o seguinte texto sobre a peça:

“Arnolfo sempre fora o terror dos maridos traídos de Paris, porém decide casar-se. Para ele, a pior coisa que pode lhe acontecer é um dia ser traído. Por isso, educa a jovem Inês para que se torne a esposa “ideal”.
Vivendo num convento desde os quatro anos de idade, Arnolfo garantiu que criassem a jovem na mais absoluta ignorância.
Assim, ao sair do convento, Inês seria a mulher perfeita para ele: burra, obediente e honesta.
No entanto, mesmo ele tendo conseguido moldar a personalidade da jovem da forma como sempre desejou não significa que a vida tomaria o mesmo rumo que ele estava imaginando, afinal, certos acontecimentos são impremeditáveis.
Como em muitas das peças de Molière, as personagens femininas são perspicazes, inteligentes e descobrem como se empoderar mesmo numa circunstância a princípio desfavorável o que torna o plano de Arnolfo muito difícil de implementar.
Num gesto de transgressão ao patriarcado e ao conservadorismo, Molière (1622 – 1673) traz à tona, com muita ironia, leveza e elegância, a sagacidade feminina em Escola de Mulheres.”

O texto é bom demais, o que explica o fato de um autor que viveu há 400 anos continuar sendo lido e suas peças serem montadas. É divertido e leve!

Eu gostei da montagem! Os atores são bons, existe uma dinâmica, um ritmo que faz com que a gente permaneça envolvido todo o tempo.

O cenário e a iluminação têm a qualidade de estarem em harmonia, possibilitam boas soluções e não roubam a cena. O figurino tem a qualidade de fazer referências à época, mas trazer elementos atuais que nos aproximam da trama.

Não sei se gosto da solução escolhida para a personagem da Inês, acho um pouco sem vitalidade, o que pode ser uma referência a maneira pela qual ela vai se apoderando da situação, discreta, mas certeira.

Os dois personagens masculinos centrais são muito bem interpretados. Não há dúvida de que vale seu tempo!

 

 

Ficha Técnica

Texto
Molière

Direção / Tradução / Adaptação
@claracarvalhoarte

Elenco
@ArielCannal (Horácio)
@brianpenido (Arnolfo)
@felpoh (Cupido)
@fulvio_filho (Crisaldo)
@gabwestphal (Inês)
@leandrotadeureal (Oronte)
@luizluccas21 (Henrique)
@rogeriopercore (Alain)
@veraespuny (Georgette)

 

As fotos deste post foram retiradas so Instagram de Clara Carvalho

O doente imaginário

Esta peça foi escrita por Molière e a primeira encenação ocorreu em 10 de fevereiro de 1673. Você pode estar se perguntando qual a razão em ler um texto tão antigo e não há dúvida de que é uma boa pergunta. A minha resposta para tal pergunta é de que, apesar dos 344 anos que separam sua primeira apresentação deste post, o texto continua atual!

É incrível como existem questões que permanecem nas relações humanas por tanto tempo.

Cacá Rosset em O doente imaginário, disponível em http://tc.batepapo.uol.com.br

Molière é um clássico da dramaturgia mundial e um dos maiores comediógrafos de todos os tempos. Possivelmente por ter sido ator e diretor, seu texto demonstra a noção do efeito cômico, do que pode funcionar no palco.

Molière usou as suas obras para criticar os costumes da época. É possível observar a influência da Comédia Del’Arte, porém suas peças ultrapassaram a comédia de costumes unindo entretenimento e reflexão, com críticas aos burgueses, nobres, ao poder político e as regras da sociedade em geral.

Em “O doente imaginário”, Molière critica a classe médica, com seus palavrórios, escritos e fórmulas ininteligíveis. Os médicos são seu principal alvo, demonstrando a maneira pela qual se relacionam com seus pacientes fazendo uso do poder sobre quem está doente ou assim acredita estar.

Argan é o personagem central, hipocondríaco, sovina, carente e solitário. A sua volta veremos os diferentes personagens interessados em seu dinheiro e em obter proveito desta condição. Outros tentam alertá-lo e nesta situação vemos tramada uma história de poder, interesse e manipulação.

Vale a pena se divertir e conhecer um pouco deste autor. Se você gostar desta, pode ler um pouco mais, algumas de suas peças são: Escola de mulheres, Tartufo e O Misantropo.

Aí vai um pouco do texto para dar vontade de mais.

Foto disponível em: https://repositorio.unesp.br

CENA II

Nieta:(entrando) Já vai.

Argon: Sua cachorra. Sua malandra!

Nieta: (fingindo ter batido a cabeça) Puxa vida, que impaciência. O senhor apressa tanto a gente que eu acabei batendo com a cabeça, com toda a força, na porta.

Argon: Traidora.

Nieta: (Fica se lamentando para interrompê-lo e impedi-lo de gritar) Ai… Ai…

Argon: Faz…

Nieta: Ai.

Argon: Faz uma hora…

Nieta: Ai.

Argon: …que você me deixou…

Nieta: Ai.

Argon: Cale a boca, fingida, que eu estou te repreendendo.

Nieta: Ainda mais essa, depois de tudo o que me aconteceu.

Argon: Você me obrigou a grita, cretina.

Nieta: E eu, por sua causa quase quebro a cabeça. Estamos quites, então.

Argon: Sua bandida.

Nieta: Se continuar xingando, vou chorar.

Argon: Me largar sozinho…

Nieta: (Para interrompê-lo) Ai.

Argon: Cachorra. Você quer…

Nieta: Ai.

Argon: Será que eu não posso nem ter o prazer de brigar?

Nieta: Brigue o quanto quiser, eu não ligo.

Argon: Você me impede, sua imbecil, me interrompendo a toda hora.

Nieta: Se o senhor tem prazer em brigar, eu tenho prazer em chorar. Cada um faz o que gosta. Não há nada demais.

Argon: Está bem. Desisto. Tire isso daqui, tire. (Ele se levanta da cadeira) Veja se minha lavagem, de hoje, fez efeito.

Nieta: Sua lavagem?

Argon: É. Saiu minha bílis?

Nieta: Ah, não. Não tenho nada a ver com essa coisa. O Sr. Flores que meta o nariz aí. Ele ganha para isso.

Argon: Que mantenham a água fervendo para a próxima.

Nieta: Esse Sr. Flores e esse Dr. Purgan se divertem bem como o seu corpo. Têm no senhor uma vaca leiteira e eu adoraria perguntar a eles o motivo de tantos remédios.

Argon: Fique quieta, ignorante. Não é você que vai controlar minhas receitas médicas. Chame Angélica. Quero falar com ela.

Nieta: Parece que adivinhou seu pensamento, pois já está aqui.