Teatro de sombras

Acredita-se que o teatro de sombras surgiu ainda quando os seres humanos viviam nas cavernas, com suas sombras projetadas pelo fogo que os aquecia. Possivelmente uma das primeiras formas teatrais, a sombra nos acompanha permanentemente, sempre que uma luz incide nos nossos corpos.

Brincar com as sombras é algo permanente no cotidiano de muita gente, esteja ou não fazendo teatro. A exploração da própria sombra permite que qualquer pessoa conheça mais sobre seu corpo. Esta experimentação faz com que ela explore diferentes movimentos e gestos corporais, muitas vezes ampliando seu repertório de possibilidades, por estar “escondido” pela sombra, o que é um recurso positivo para quem que tem muita vergonha em expor seu corpo perante o grupo.

As formas teatrais se modificaram muito no decorrer do tempo e da história do teatro, do uso de bonecos recortados, com varetas de manipulação, temos hoje diferentes soluções de projeção dos corpos e de transparências que possibilitam narrativas diversas.

Seja qual for a solução a ser utilizada, a sombra nos coloca diante do mistério e incluir o mistério em nossas criações é algo necessário para sabermos que o desconhecido faz sempre parte do criativo.

Para conhecer mais sobre esta linguagem, você pode acessar o Clube da Sombra neste link ou conhecer o Grupo Fios de Sombra.

Maquiagem teatral para crianças

Criança deve usar maquiagem?

Esta resposta não é simples, afinal crianças tem muitas idades e são diferentes entre si, assim como os adultos.

É muito importante ter em mente que a maioria das maquiagens são feitas com produtos químicos que podem ser danosos para a pele e para a saúde de crianças e quanto menores, pior o efeito.

Então a primeira resposta para esta pergunta é, só devem usar alguma maquiagem as crianças que tem certeza de não ter nenhuma reação alérgica.

Outro aspecto a ser considerado é a razão pela qual a maquiagem poderá ser utilizada.

Neste caso, vou elencar três possibilidades:

A primeira é a maquiagem como função embelezadora, bastante usada por mulheres adultas. Neste caso, entendo ser desnecessário o uso da maquiagem, já que é improvável que uma criança precise disfarçar uma ruga ou uma pela machucada pelo tempo. Outro motivo para o não uso com esta função é o fato de não adultizarmos as crianças. Crianças não precisam ter cílios alongados ou um blush para ficar rosadas. Quase sempre elas são rosadas! E não há motivo para utilizarmos maquiagens que deixem seus rostos parecidos com o de adultos.

A segunda função é de transformação em personagens, isto é, maquiagens que busquem modificar o rosto para parecer alguém diferente da criança, como um animal, uma pessoa velha, um elemento da natureza, como uma árvore ou uma pedra. A maquiagem neste caso pode ser um grande aliado na criação de personagens e poderá ajudar a criança em uma encenação.

A terceira função é de exploração do próprio rosto, possivelmente utilizado em jogos exploratórios, quando a criança pode perceber como a intervenção de uma maquiagem pode transformar o rosto e as expressões feitas. Este trabalho com a maquiagem pode ser usado na construção de um personagem ou apenas como um exercício cênico.

A maquiagem é um recurso que oferece muitas possibilidades e vale a pena ser explorado. Para as peles mais sensíveis e os bebês, uma opção é o uso de tintas feitas com alimentos, pois estas são menos agressivas e permitem a exploração pelos pequenos que costumam levar tudo à boca.

A maquiagem na cena

A maquiagem é um dos elementos da cena teatral menos considerado e pode fazer uma mudança muito grande na criação de um personagem.

Estamos acostumadas a fazer maquiagem em situações cotidianas, principalmente as mulheres e esta maquiagem tem uma função muito diferente da maquiagem teatral, já que, de maneira geral, a maquiagem utilizada cotidianamente tem a função de corrigir defeitos da pele e ressaltar características, sempre buscando a beleza. Ainda que os padrões de beleza possam variar no tempo e no espaço, a função da maquiagem cotidiana permanece esta, responder a um padrão estético.

Foto de Laura Garcia no Pexels

A maquiagem teatral busca algo muito diferente disso, já que o que se pretende com a maquiagem é a criação do personagem, a definição de suas características e uma melhor composição de sua apresentação.

A maquiagem é uma forte aliada no trabalho do ator/atriz para que estes possam entender melhor as possibilidades de sua atuação.

Uma forma de entender este conceito é pensar em situações nas quais você faz uma maquiagem especial e se sente melhor preparada para ir a um evento, uma festa ou um baile de carnaval. Para os homens que não usam maquiagem, é possível que fazer a barba ou arrumar o cabelo deem esta mesma sensação.

Mas como usar a maquiagem no trabalho com crianças? Esta resposta você vai receber no próximo post!

Mudar cenários

A mudança de um cenário no meio de uma montagem pode ser um problema grande para ser resolvido, pois se não temos um palco giratório que usa do intervalo para trazer para diante do público um novo cenário, certamente esta mudança pode ser algo bem cansativo.

Não conheço nenhum espaço educativo que tenha um palco giratório. São poucos os teatros no mundo que possuem palcos giratórios, com a opção de mais de um cenário! Mas esta imagem abaixo é de um pequeno palco giratório, em uma apresentação da Companhia Le Plat du Jour.

Dificilmente precisaremos de uma condição tão complexa como esta para alterar um cenário de uma peça, portanto vamos pensar nos diferentes tipos de cenário e como estas modificações podem ser feitas.

O que é necessário ter como princípio é que tudo o que é feito de forma a interromper a cena, faz com que a apresentação se torne mais cansativa, portanto, o melhor é que a mudança de cenário seja feita pelos próprios atores e atrizes que poderão levar e trazer objetos ou mobiliários como parte da própria cena.

Evidentemente se a tua opção é um cenário realista, cheio de detalhe, o ideal é que você divida o palco em dois e cada cenário fique permanentemente montado, fazendo uso da iluminação para a mudança da cena.

Cenários feitos com painéis

No caso de cenários nos quais apenas um painel situa o local da cena, na ausência de um sistema de roldanas que troque um painel por outro, o painel pode ser trocado pro pessoas de apoio ou pelos próprios atores. E no formato de biombo, como desta apresentação da Cia Le Plat du Jour, o cenário pode ser montado e desmontado em qualquer espaço.

Cenários com objetos de múltiplos significados

Se você tiver um cenário feito de cubos ou de objetos que podem ganhar diferentes significados, como uma mesa, os atores podem alterar a disposição dos móveis ou alterar algum objeto que simbolize a mudança de cenário, por exemplo:

  • No caso de cubos, eles podem ser empilhados de forma a criarem um muro em cena ou dispostos de forma horizontal para se transformarem em cama ou mesa.
  • Uma mesa poderá ser a mesa de um escritório com um computador sobre ela e de uma casa, com um vaso de flor ou uma fruteira.

São muitas as maneiras de transformar o palco e adequar os cenários, mas em todas elas é necessário ter clareza de que o cenário existe para compor a cena e que a peça não poderá ser interrompida a todo momento para a modificação do cenário.

Música da personagem

Você tem uma música tema para você? Pergunta difícil, né?

Talvez você tenha uma música tema para uma fase de tua vida, quem sabe uma música que te acompanha em muitos momentos.

Foto de VisionPic .net no Pexels

A música tema de um personagem pode ser utilizada com diferentes propostas. Pode ser uma maneira de caracterizar a personagem, então se é uma personagem romântica, terá uma música tema romântica nos momentos que ela aparece em cena.

Também pode ser uma música para marcar um tipo de ação. Esta escolha é bastante comum no teatro infantil, utilizando-se de repetições sonoras ou musicais para marcar a repetição da entrada de uma personagem, por exemplo: sempre que o lobo aparece, uma mesma música é tocada.

A música tema também poderá ser usada somente em alguns momentos de atuação da personagem, já que se espera que qualquer personagem passe por diferentes emoções no decorrer de uma peça, neste caso, a música tema pode ter relação com a principal característica da personagem, por exemplo:

  • A personagem é uma moça gentil e delicada, então a música escolhida como música tema remete a estas características. Porém no momento que ela está brigando com sua irmã, a música não tocará.
  • O personagem é um coelho muito ligeiro e sua música tema é em um ritmo bem veloz, porém no momento que ele dorme e não vê suas roupas serem roubadas, não tocará a música tema.

A escolha de música tema é uma possibilidade, mas está longe de ser uma obrigatoriedade. Muitas montagens não se utilizam deste recurso e muitas sonoplastias são feitas inclusive sem música.

Vale a pena utilizar este recurso quando a peça pede por isso e, também pode ser utilizado como parte da caracterização da personagem, mesmo que depois não se utilize na apresentação.

Sons que criam clima

Uma cena é criada com muitos elementos e o som é um deles!

A ideia de clima, termo usado para as variações do tempo, se relacionam também às sensações, aos sentimentos. São muitos os elementos que criam um clima, além do som, na vida e na cena: o clima que se evidencia na luminosidade é um deles, um dia de chuva provoca sentimentos diferentes de um dia ensolarado. Nosso humor e nossos sentimentos são afetados pelos climas.

Se pensarmos em cenas da vida cotidiana, veremos quanta mudança de clima uma música pode promover.

Você facilmente consegue imaginar uma cena romântica com uma música de fundo, igualmente romântica! Dificilmente o romantismo permanece com um barulho de furadeira para criar o clima.

Já se você quer criar uma sensação de perturbação, poderá escolher uma música dissonante.

Um tango do Astor Piazzolla é uma ótima maneira de criarmos um clima de angústia, ou talvez de paixão!

O melhor exemplo de todos é o clima criado pelas músicas de suspense, sem as quais é muito difícil criar a sensação de expectativa que o suspense pede.

Criar climas nas cenas por meio de músicas ou sons é um recurso importante não apenas para a cena final, que será vista pelo público, mas também nos ensaios, para que os atores e atrizes encontrem o tom da cena.

Aproveite dos ruídos e das músicas para a criação de cenas com climas diversos!

Apropriação do texto pelos alunos-atores

Como um ator, uma atriz ou um aluno de teatro aprende um texto para que seja dito em cena?

Assim como quase tudo na vida, não existe uma única maneira.

Foto de Ike louie Natividad no Pexels

A forma que muita gente deve ter feito em suas aulas de teatro e principalmente, em suas apresentações teatrais feitas na escola, sem que para isso houvesse aulas de teatro, foi decorando o texto e depois torcendo para não esquecer.

O termo decorar segundo alguns dicionários etimológicos significa passar pelo coração, porém o Blog do Fernando atribui tal termo a origem fenícia e não latina, na qual a relação está com saber de memória.

Ainda que a origem da ação de decorar possa estar fundamentada no passar pelo coração, a prática de decorar é muitas vezes vivida como um memorizar sem sentido. E não há nada mais distante do trabalho do ator, do que falar um texto sem sentido.

Tendo isto em mente, podemos pensar diferentes estratégias para que o texto faça sentido para quem irá representá-lo.

É possível fazer uma abordagem mais teórica, na qual o texto é lido e estudado tendo em vista os conceitos e conflitos apresentados.

Por exemplo, se eu escolho representar uma peça de Bertold Brecht, poderei estudar o momento no qual ela foi escrita, o que ocorria na época, os valores de Brecht sobre a sociedade, a política, o papel do teatro e as relações sociais, dentre outros aspectos que podem ser considerados em seu trabalho.

Também é possível fazer uma apropriação do texto que se dê pela sonoridade das palavras, de tal maneira que vou experimentar o som das frases, as diferentes formas de dizê-las e buscar na experimentação sonora relacionada ao gestual, identificar o sentido e fazer escolhas sobre como encenar o texto escolhido.

A apropriação pode ser feita em um movimento de aproximações diversificadas, no qual faço improvisações sobre o texto, em paralelo a conversas sobre o sentido que o texto teve, tanto por quem o escreveu, como para o grupo que irá representa-lo e desta maneira serão feitas escolhas sobre a maneira de que o texto se torne cena e fala.

Seja qual for a escolha feita, é fundamental que o texto seja aprendido ou decorado, como algo que tenha passado pelo coração, algo que faça sentido para as pessoas que o representam e possa, no momento da apresentação, ganhar sentido também para o público que o assiste.

Escrita coletiva

Foto de Sadman Chowdhury no Pexels

Escrever coletivamente é uma proposta presente dentro do universo escolar e no mundo de diferentes maneiras.

Na escola, escrevemos coletivamente como parte do processo de alfabetização e a escrita coletiva possibilita que os alunos façam trocas entre si e também contém com o apoio da professora para avançar no domínio da linguagem formal e escrita.

Os trabalhos em grupo também são oportunidades nas quais todos sugerem os conceitos que estarão presentes e constroem o texto com as frases ditas pelos vários componentes da equipe.

Em muitos espaços nos quais a sociedade se organiza coletivamente, observamos a criação de um mesmo texto feita por várias mãos. As inúmeras possibilidades que a informática nos deu, faz com que um mesmo texto possa se modificar de maneira a que cada integrante de um grupo possa alterá-lo até chegar a um formato no qual todos estejam satisfeitos.

A escrita coletiva de uma peça teatral é bastante frequente como decorrência de um processo de improvisações de cenas, partindo de um tema comum.

A escrita, quase sempre, surgem das cenas representadas, que vão em um movimento de troca entre o texto escrito e a cena representado, em uma construção na qual a ação dramática alimenta a dramaturgia, que passa a alimentar novas ações, de forma permanente e cíclica.

Alguns grupos escolhem manter esta condição de permanente alteração textual e mesmo depois que a peça começa a ser apresentada, o texto transforma-se permanentemente. Outros definem um formato final, mesmo que ele sofra pequenas alterações no decorrer das apresentações. Existe ainda a possibilidade de que um dramaturgo ou dramaturga seja chamado pelo grupo para dar uma unidade textual ao que foi criado cenicamente.

Caso você queira compreender melhor a história desta forma criativa, acesse o site do Núcleo de Dramaturgia do SESI, onde você verá parte deste caminho. A definição sobre criação coletiva presente no Dicionário do teatro brasileiro: temas, formas e conceitos também irá te ajudar a compreender um pouco mais sobre esta temática no teatro brasileiro, acesse aqui.

Como um personagem é criado?

Uma das ideias sobre a criação de personagens está pautada no texto teatral. Acredita-se que as personagens são criadas pelos dramaturgos e se foram, o que fazem os atores?

As encenações teatrais são criadas partindo de textos dramatúrgicos, mas não só. Muitos outros gêneros são motivadores de montagens e também criações coletivas.

Foto de Suzy Hazelwood no Pexels

Mas será que os textos, sejam eles dramatúrgicos ou não, dão todas as informações necessárias para a criação do personagem, o que incluí o gesto do ator e da atriz, sua forma de se movimentar, sua forma de falar.

Quando eu leio a seguinte frase: “Roberta entra na sala, leva um susto e diz: – Como você entrou aqui?”, que pode ser parte de um texto teatral, a atriz que representará a Roberta já tem todos os seus gestos e tom de voz definidos? Existe uma única maneira de levar um susto? O ritmo da fala, a entonação ou a expressão facial estão claras?

Evidentemente, qualquer texto, por mais detalhado que seja, não fornece todos os detalhes para a composição de uma personagem.

O trabalho de interpretação e de criação é o que fará com que esta descrição feita em palavras, torne-se alguém em movimento e fala.

Os procedimentos para a criação de um personagem são muitos e estão fundamentados em diferentes visões sobre o sentido e a função teatral. Eles podem partir de uma perspectiva mais psicológica, como propôs Stanislavski ou partir, essencialmente da ação, como propôs Eugênio Barba.

No próximo post falarei sobre uma proposta criada por Sérgio de Azevedo, baseada no trabalho do Eugênio Kusnet, que usa cartas em seu processo criativo.

O ator mente?

A mentira é algo bastante mal visto em nossa sociedade. Mentir está associado a ideia de traição, de enganar alguém, de tirar proveito de alguma situação, alterando informações.

E os atores e atrizes mentem?

Foto de Pixabay no Pexels

Quando estamos representando um personagem que não somos nós mesmos, estamos falando inverdades?

Claro que se partirmos do ponto de vista que ao representarmos um personagem continuamos a ser nós mesmos, afinal a pessoa não deixa de existir apenas porque está representando outra, poderíamos dizer que atores e atrizes mentem.

Mas, ao estarmos em cena, existe um combinado entre atores e público de que estamos todos dentro de um mesmo faz-de-conta. De um lado, alguns representam ser pessoas que não são, de outro lado, outros fazem de conta que acreditam que aqueles e aquelas que estão ali são os que demonstram ser, isto é, os personagens que representam.

Desta forma, poderíamos dizer que todos mentem, ou melhor dizendo, podemos entender que todos estão no mesmo campo do imaginário e que este mundo ficcional é vivido como um simulacro, por diferentes motivos e um deles é que por meio destas cenas e destas representações do não real, podemos compreender melhor o que é real.

Ficou meio confuso? A vida é meio confusa mesmo!