Sabe uma história na qual as tramas vão sendo criadas por meio de confusões? Pois é, essa é uma delas.
Para quem nunca leu uma peça de Shakespeare pode ser que no começo tenha alguma dificuldade com o texto, que é escrito em uma linguagem pouco usual, afinal foi escrito há vários séculos, o que faz com que sejam outras as palavras e as composições das frases. Mas quando você passa deste momento de incomodo e se propõe a imaginar e observar a beleza do que é proposto, é puro deleite!
Com direito a personagens do mundo das fadas e muitos amores que provocam dor e alegria, essa peça é leve e divertida. Leia um trecho do início da peça e aproveite para imaginar como ela poderia ser encenada. Para ler toda a peça, acesse este link
“LISANDRO – Então, minha querida, por que as faces tão pálidas assim? Qual o motivo de murcharem tão rápido essas rosas?
HÉRMIA – Talvez por falta da água que lhes viesse da tempestade dos meus próprios olhos.
LISANDRO – Oh Deus! Por tudo quanto tenho lido ou das lendas e histórias escutado, em tempo algum teve um tranquilo curso o verdadeiro amor. Ou era grande do sangue a diferença…
HÉRMIA – Oh sofrimento! Nascer no alto e aceitar o cativeiro!
LISANDRO – … ou mui disparatadas as idades…
HÉRMIA – Oh dor! Unir-se a mocidade às cãs!
LISANDRO – … ou tudo os pais, sozinhos, decidiam…
HÉRMIA – Não há maior inferno: estranhos olhos para escolher o amor!
LISANDRO – … ou, quando havia simpatia na escolha, a guerra, as doenças, e a morte, conjuradas, o assaltavam, qual simples som deixando-o, transitório, tão curto corno um sonho, movediço como uma sombra instável, tão ligeiro como raio de noite tempestuosa que, de súbito, rasga o céu e a terra, mas que antes de podermos dizer “Vede!” pelas fauces das trevas é tragado. Tudo o que brilha, assim, em ruína acaba.
HÉRMIA – Se sempre contrariados foram todos os amantes sinceros, é que o próprio destino o determina desse modo. Que nos ensine, pois, a ser pacientes a nossa provação, já que é desdita fatal dos namorados, como os sonhos, pensamentos, suspiros, dores, lágrimas, do pobre amor são companheiros certos.
LISANDRO – Isso consola. Porém, Hérmia, escuta-me: a sete léguas, só, de Atenas mora minha tia, uma viúva muito rica que, por filhos não ter, me considera seu herdeiro exclusivo. Em casa dela, minha Hérmia encantadora, poderemos casar-nos, por ficarmos, então, fora das rigorosas leis dos atenienses. Se me amas, foge da mansão paterna na noite de amanhã. No bosquezinho a uma légua distante da cidade deverás encontrar-me, justamente onde uma vez te vi em companhia de Helena a realizar os sacros ritos de uma manhã de maio.
HÉRMIA – Meu bondoso Lisandro, eu juro pelo mais potente arco do deus Cupido, por sua seta melhor de penas de ouro, pelas meigas pombas de Vênus, pelo que une as almas e confere ao amor virentes palmas, pelas chamas em que se abrasou Dido após abandoná-la o Teucro infido, pelas juras que a todos os instantes violado têm os homens inconstantes, mais do que numerosas, infinitas, do que as que foram por mulheres ditas: amanhã, sem faltar, no grato abrigo de que falamos, estarei contigo.
LISANDRO – Não faltes à palavra. Aí vem Helena.”