Interações no teatro e na escola

Foto de Kat Jayne no Pexels

Dentro da escola ocorrem muitas formas de interação entre alunos, entre alunos e professores, entre alunos e funcionários e entre professores e funcionários. E nem falamos nas interações que ocorrem com toda a comunidade escolar, pais, irmãos, família expandida.

De que maneira o teatro se relaciona com tudo isso?

O teatro é uma linguagem que se estabelece essencialmente na relação interpessoal. Na experiência teatral nos colocamos no lugar do outro, experimentamos um olhar para o mundo de diferentes lugares, com diferentes papeis.

O fato de vivenciarmos personagens variados permite o exercício da alteridade, percebo maneiras de sentir que não estão fundadas na minha experiência pessoal, compreendo valores e conceitos que fazem parte de uma história de vida que não é a vivida por mim pessoalmente. Esta possibilidade me gera empatia para com outros que não são iguais.

Não há dúvida de que a sociedade e as diferentes instituições, dentre elas a escolar, necessitam de uma pratica inclusiva, na qual todos sejam vistos com os mesmos direitos, com as mesmas possibilidades.

Este é um dos aspectos que evidenciam as relações entre o teatro e as interações escolares. Em um próximo post abordaremos esta mesma temática partindo da percepção corporal.

Fantasia ou figurino?

Carnaval chegando e muita gente escolhendo a fantasia! E qual a diferença de fantasia para figurino? Por que no teatro falamos em figurino e quando vamos para o carnaval ou a uma festa chamamos de festa a fantasia?

Se você parar para pensar nos bailes de carnaval ou nos blocos na rua, em quais fantasias pensará?

Possivelmente virá à tua cabeça uma fantasia de pirata, de colombina, de odalisca, de médico ou muitas outras não tão tradicionais, como as dos personagens famosos de quadrinhos ou filmes, como Homem-Aranha, Batman, Mulher-maravilha. É possível que vejamos nas ruas fantasias sobre personagens do momento, no ano passado uma das mais concorridas foi a usada na série “A casa de papel”.

O que podemos observar nas fantasias que se diferenciam de um figurino é o fato de que elas buscam representar, muitas vezes da forma mais parecida possível, um personagem que é um tipo, que traz estereótipos relacionados, que não se caracteriza por suas particularidades, mas que se apresenta de forma generalizada.

Se utilizamos o pirata como exemplo, podemos imaginar que será alguém com um chapéu característico, possivelmente com um tapa-olho, com camisa branca e calça preta, também pode ser vermelha, provavelmente com um colete. E, ainda que no carnaval isto não se confirme, com cara de mau!

Nos personagens teatrais temos alguns piratas famosos, como o do Peter Pan, que embora mantenha boa parte das características estereotipadas de um pirata, tem também as suas especificidades e poderá ser reconhecido como tal, mesmo que não esteja com um figurino igual ao dos piratas estereotipados.

Foto de Denys Flores, disponível em cialeplatdujour.com

A construção de um figurino ocorre junto com toda a construção de um personagem, ou ao menos assim deveria ser. Mesmo que o figurino seja elaborado por um figurinista, sem a colaboração do ator ou atriz que representa a personagem, este figurinista deverá estar a par da concepção do espetáculo, para que a roupa utilizada colabore na composição feita por quem a representa.

A fantasia dispensa tanta elaboração, nos vestimos com uma roupa que já traz em si as características estereotipadas deste personagem e pode ser a mesma fantasia para um grupo de pessoas, que não há nenhum problema nisto, muito pelo contrário, quase sempre é diversão garantida.

E como o carnaval já está para começar, escolha tua fantasia e divirta-se!

Imagens das fantasias disponíveis em modafantasia.com

Apresentações teatrais na Educação Infantil

As apresentações teatrais são muito frequentes na Educação Infantil. Possivelmente pela idade das crianças e sua condição de, por vezes, não saber relatar oralmente o que faz na escola, ou ainda, por não existirem provas de verificação de aprendizagem nesta faixa etária (ainda bem!). O fato é que muitas escolas de Educação Infantil estão buscando maneiras de apresentar para os pais o trabalho feito no decorrer do ano.

“Amantes no céu azul” de Marc Chagall

As apresentações artísticas costumam ser escolhidas para que as crianças possam demonstrar o quanto dominam melhor seus movimentos e sua fala, para que possam demonstrar a capacidade de aprender uma música ou uma sequência coreográfica. Já falei sobre este tema no post “É preciso apresentar uma peça para os pais?”, que você pode acessar em http://teatronasaladeaula.com.br/e-preciso-apresentar-uma-peca-para-os-pais/ .

Na Educação Infantil precisamos entender inicialmente que as crianças estão na fase de vivenciar o faz-de-conta e que o brincar de fazer-de-conta que é alguém que ela não é, é fundamental para sua compreensão do mundo, para sua elaboração sobre o que acontece em sua vida, para vivenciar, em um espaço protegido, as muitas situações que ela precisa compreender para saber como vive-las na realidade.

O sentido do faz-de-conta para a criança pequena denota que a presença de plateia não é uma necessidade, ao contrário, pode ser uma grande limitação para o ato de brincar. Quem já viu uma criança interromper sua brincadeira quando nota que está sendo observada?

Floresta de Paul Cézanne

Então, como apresentar uma peça para pais de crianças da Educação Infantil?

Tornando-os parte da brincadeira!

Fazer com que os pais interajam e desta forma possam observar o desenvolvimento de seus filhos é uma ótima solução para apresentar “uma peça teatral” nesta fase da vida.

Isto parece muito sem graça para você?

Então transforme a brincadeira propondo um espaço ficcional, permitindo o uso de figurinos e adereços, incluindo uma trilha sonora. Crie um ambiente ficcional no qual alunos e pais possam interagir e demonstre tudo o que as crianças puderam aprender e se desenvolver desta maneira. Junto ao aprendizado, os pais poderão observar o quanto seus filhos podem criar e se divertir dentro da escola!

A máscara

A máscara é um elemento presente no teatro desde tempos longínquos! No “Dicionário do Teatro Brasileiro” (SESCSP e Ed. Perspectiva) encontramos a seguinte definição: É aquilo que encobre o rosto, o corpo, ou partes do rosto e do corpo. Transforma o mascarado em outro ser, tornando-o um arquétipo. Representa uma ideia, um tipo ou os anseios de uma comunidade ou de indivíduos. Está presente em todas as culturas, utilizada em rituais ou festas populares. Marca o início do teatro.”

Algo que identificamos em todas as culturas, desde quase sempre, certamente é algo para ser observado com mais atenção. Por que será que a confecção de máscaras é tão significativa para a humanidade?

Certamente podemos responder esta pergunta com considerações psicológicas, sociológicas ou circunscrita no campo da cena, mas o fato é que a confecção de uma máscara é algo que pode solicitar de quem a faz diferentes questionamentos sobre o que ele pretende representar, sobre como representar, sobre quais materiais utilizar.

Disponível em https://www.facebook.com/R.IbericaMascara/photos/mascaras-do-teatro-grego-muitas-com-mais-de-2100-anos/1718245368241456/

A máscara pode ser escolhida em uma cena como forma de uniformizar um grupo. Os coros no Teatro Grego faziam uso de máscaras que davam esta unidade, tendo a função de estilizar ou caricaturizar o rosto. No post no qual comento sobre a peça “A trágica história de Édipo Rei” (em http://teatronasaladeaula.com.br/a-tragica-historia-do-rei-edipo/) é possível ver imagens das máscaras utilizadas nesta representação atual deste texto de Sófocles.

Na Comédia dell’Arte as máscaras definem as características de cada um dos personagens, o que permite que possamos identificar o personagem pela máscara.

 

Disponível em http://portaldoprofessor.mec.gov.br/

Ao escolhermos o trabalho com máscaras em sala de aula é importante definirmos com precisão qual será sua função, pois poderemos lançar mão de uma máscara para padronizar e esconder o rosto e as expressões de todos, mas também podemos utilizar este elemento cênico como uma maneira de potencializar emoções e características da personagem.

Vale sempre lembrar que a construção de uma máscara poderá ser um processo potente, seja de conhecimento de si ou do personagem que cada um irá representar.

Qual a importância do texto na minha montagem?

Pensar na importância do texto teatral em uma montagem de uma peça nos leva imediatamente para outra pergunta: Quem está participando desta montagem?

Se estamos falando de teatro profissional ou amador, mas de um grupo no qual o intuito é representar um determinado texto por sua qualidade dramatúrgica, a importância do texto será grande, afinal a definição por fazer este espetáculo partiu dele. Mas se estamos falando de um grupo de alunos em uma montagem escolar, que decidiram fazer teatro e que a escolha do texto surge como consequência do desejo de se apresentar, teremos que relativizar esta importância.

Novas perguntas surgem! Qual a idade dos alunos? São leitores fluentes? Escolheram fazer teatro ou faz parte do currículo escolar? É uma montagem da aula de teatro ou da aula de literatura?

As respostas que surgirão vão alterar significativamente a maneira pela qual o texto será parte da montagem, mas como aqui escrevo para situações hipotéticas, farei algumas considerações para que diferentes respostas possam ser atendidas.

A primeira delas diz respeito à fluência na leitura. Só faz sentido trabalhar com um texto, se os atores são leitores, portanto se o teu grupo de alunos é da educação infantil ou dos anos iniciais do fundamental e ainda estão em processo de alfabetização, ou ainda, se o grupo é de analfabetos, utilizar um texto é colocar uma dificuldade desnecessária ao trabalho.

Se a montagem for uma maneira de que os alunos conheçam um movimento literário, o que é comum no ensino de línguas, evidentemente o texto deve ser bem trabalhado e o respeito ao seu estilo é necessário para que sejam compreendidas as características literárias. Mas neste caso, o teatro está a serviço da literatura e não há uma preocupação tão grande com a qualidade teatral ou com a experiência teatral.

Quando estamos com um grupo de pessoas interessadas em fazer teatro e na experiência de apresentar uma peça, a importância do texto passa a ser outra. Embora eu adore dramaturgia e reconheça que algumas obras dramatúrgicas são de uma beleza tal que merecem ser encenadas sem nenhuma alteração textual, o aprendizado teatral não pode ficar restrito a conseguir aprender um texto.

O texto pode ser um estímulo importante em uma montagem, pode oferecer um caminho para que o grupo se expresse sobre um determinado tema ou situação, mas ele precisa deixar espaço para o corpo, para os gestos, para a experiência de se expressar com este todo, que não se resume a saber fazer uma boa leitura.

Teatro não é literatura, a literatura se basta em tudo o que ela nos possibilita. Teatro é outra linguagem e o texto pode ser uma parte significativa em uma montagem, mas ele será sempre uma parte e não a mais importante. O trabalho gestual, o trabalho de voz, as expressões faciais, a interação entre os atores e atrizes, a ocupação do espaço, tudo isso faz o teatro. O texto pode ser um grande aliado, mas não pode roubar a cena.

Nasce uma estrela

O título deste post nos remete ao filme homônimo, estreado recentemente, mas já filmado outras três vezes, do qual eu assisti apenas a versão de 1976 e os 40 anos que me separam deste feito, me impedem de lembrar algo significativo sobre a trama. Mas gosto do título!

No teatro a ideia de uma estrela em cena é recorrente. Ser uma estrela, ser famosa, ter destaque em uma montagem teatral, dar autógrafos. Glamour mais associado ao cinema, porém presente não apenas na história recente do teatro, mas no imaginário de muitos aspirantes a esta profissão.

Vale a pena pensarmos o motivo deste desejo, para além da obsessão pelo sucesso, da nossa sociedade atual.

A perspectiva de ser uma estrela que brilha mais do que as demais em cena, está fundada em uma visão do trabalho de ator no qual o desenvolvimento pessoal é o caminho para o próprio aperfeiçoamento, onde cada um precisa trabalhar seu corpo, sua voz, sua capacidade expressiva. Uma sequência de “eus” sob o foco. Evidentemente, somos únicos nesta vida e há sempre um caminho pessoal que vamos traçando, mas o trabalho teatral é essencialmente um trabalho de grupo.

No caso específico do teatro-educação, para o qual este blog se dedica, estamos sempre falando de grupo e desta forma pouco nos serve a perspectiva de uma estrela, de alguém que se destaca, de alguém que será o primeiro ator ou a primeira atriz, ainda que esta denominação não seja dada.

Trabalhar a criação coletiva é, certamente, o percurso de maior aprendizagem, seja para as possibilidades expressivas, seja para a vivência da troca, do ser junto, do compartilhar. Não há dúvida de que existem saberes e práticas conceituais do campo do teatro importantes de serem aprendidas, mas serão mais significativas quando este aprendizado reafirmar o respeito ao humano de cada um e dos grupos com os quais convivemos.

Como criar uma sonoplastia?

A sonoplastia é o som da cena, caso você tenha uma ideia muito vaga sobre este assunto, pode ler o post “O som da cena”, publicado neste blog em 26/07/2017, lá você irá encontrar algumas dicas sobre onde pesquisar mais sobre este assunto.

Imagem disponível em https://lugaresdoinvisivel.github.io/objetossonoros.html

Mas se você está no meio de uma montagem e não sabe bem por onde começar para a criação da sua sonoplastia, aqui vão algumas dicas:

A primeira questão a se colocar é qual a função do som na sua cena? Você quer que o som crie um clima ou que cause um estranhamento? Você quer que o som seja uma vinheta de algo que irá ocorrer diversas vezes? Quer incluir músicas temas dos personagens?

Pode ser que a cada uma destas perguntas você tenha tido uma resposta positiva, então talvez seja necessário fazer algumas escolhas para que sua peça não fique uma colcha de retalhos sem qualquer harmonia.

Outro aspecto a definir é sobre quem irá escolher as músicas ou os sons a serem incorporados nas cenas. Uma opção possível é a de contratar um sonoplasta. É possível, mas incomum em montagens escolares. Embora um sonoplasta possa dar contribuições riquíssimas ao trabalho educativo, no caso de não contar com um, você também poderá fazer uma parceria com o/a professor/a de música da escola. Supondo que a escola na qual você trabalhe não tenha ninguém com formação em música, ficamos com o ditado “se não tem tu, vai tu mesma!”. E ainda daremos uma de Polyana e vamos observar as vantagens da sonoplastia ser feita por quem dirige a peça, e quase sempre é responsável também pelo figurino, cenário, iluminação…

A primeira vantagem desta possibilidade é que será uma ótima oportunidade de ampliação do teu repertório musical, que ficará arquivado como mais um recurso a ser usado também em outros trabalhos. A outra vantagem é que você acompanha todo o percurso e poderá saber detalhes que outros desconhecem.

Outra possibilidade é que a sonoplastia seja criada juntamente com os alunos/atores. Eles podem trazer sugestões de músicas para além das suas e a melhor forma de escolher costuma ser realizando a cena com as diferentes sugestões e observar qual ajuda melhor em sua construção.

O uso de instrumentos, objetos sonoros também deve ser considerado, dentre as múltiplas possibilidades. Não seja econômica na experimentação, tente soluções variadas, inclusive aquelas que possam lhe parecer pouco prováveis, pois esta será a melhor maneira de descobrir qual o som que contribui mais para o trabalho dos alunos/atores e também para o diálogo com a plateia.

Não esqueça que o silêncio também é uma escolha possível!

O silêncio na cena

Ao pensarmos em uma cena teatral é comum imaginarmos que será permeada pela fala dos personagens, é possível que também nos venha à mente a possibilidade de momentos nos quais a música predomine, mas é pouco comum no nosso imaginário situações nas quais o silêncio tome conta da cena.

Obra de Oswaldo Goeldi, disponível em https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/04/110412_goeldi_exposicao_londres_fn.shtml

O silêncio é algo pouco frequente não apenas no teatro. No nosso cotidiano somos rodeados de sons e para algumas pessoas o silêncio causa incomodo. Existe até uma frase popular que diz: “Este silêncio ensurdecedor!”. Evidentemente esta frase se refere a dificuldade de estar em uma situação de silêncio, que pode causar um desconforto por inúmeras razões.

Imaginemos uma situação hipotética na qual alguém espera a resposta sobre uma possível doença, ou o momento que antecede a confirmação de que um ente querido está na lista de um acidente fatal. Podemos pensar também em situações menos trágicas, porém intensas, como uma pessoa apaixonada que aguarda a resposta sobre o pedido de casamento, ou um filho que espera a permissão de sua mãe para ir ou não a uma viagem com amigos.

Nestas situações, o silêncio é nosso cúmplice para gerar tensão e expectativa, elementos que fazem parte de muitas cenas teatrais.

O silêncio também poderá ser utilizado como forma de deixar um sentimento ressoando. Há momentos nos quais a fala não consegue exprimir esse eco interior e fazer uso do silêncio é um ótimo recurso teatral para gerar esse efeito.

É importante ressaltarmos que o silêncio sonoro não significa necessariamente a ausência de gestos e de expressões. Muitas ações dramáticas podem ganhar sentido e destaque em uma cena silenciosa. Vale a pena experimentar!

Tocar

     A pele de nosso corpo é o que nos contêm e nos separa do restante do mundo. Muito do que sentimos é através da pele. A pele nos informa a temperatura, a textura, se é molhado ou seco… a pele também causa sensações de desejo, de prazer e de muitos outros sentimentos que nos visitam o corpo e a alma no decorrer de um dia.

               Tocar e ser tocado é uma experiência necessária não apenas para os humanos. Precisamos de abraços, de dar as mãos, de sentar ao lado. Precisamos do contato pele com pele desde pequeninos. Quando crescemos este contato vai se transformando, vai ganhando contornos e permissões na nossa sociedade. Mas também proibições!

               Trabalhar com teatro é trabalhar com o corpo, assim como são os esportes. Ninguém imagina um jogo de basquete no qual os jogadores não se toquem. Neste caso é permitido. Brincar de roda sem dar as mãos é impensável. Aí também é permitido. Mas quantas são as situações nas quais podemos tocar as pessoas com as quais convivemos? Passada a adolescência, são poucas as mulheres que andam de mãos dadas com suas amigas pela rua. Os homens soltam as mãos antes mesmo da adolescência.

               O quanto será que é permitido tocar no teatro? Como chegar a esta condição de confiança no grupo na qual o toque possa fazer parte da construção da cena, sem que seja visto como um excesso de sexualização? Este limite não está previamente definido.

               Dependendo do grupo com o qual trabalhamos, a possibilidade de tocar e ser tocado será maior ou menor, pois os valores variam e os costumes também. Respeitar os limites do outro é necessário, mas isto não significa que não devemos fazer nada que a pessoa já não tenha feito. Esta afirmação pode parecer contraditória, mas me volto para o corpo para explicar. Quando queremos aumentar a nossa flexibilidade muscular é necessário nos colocarmos em posturas que vão além da flexibilidade confortável, pois assim vamos criando mais espaço na musculatura, mas se forçamos demais de uma vez, teremos uma ruptura, uma lesão que só irá machucar e não provocar o alongamento desejado.

               Uso esta metáfora do alongamento para termos em mente as possibilidades de explorar o toque, o corpo a corpo necessário para a cena teatral. É preciso fazer exercícios que promovam o contato, que gerem confiança, que façam com que o diálogo entre os participantes de um grupo seja também pelo corpo, pois será pelo corpo que seremos grupo teatral.

O grupo

  Quando pensamos em teatro quase sempre pensamos em grupo teatral. Algumas montagens são realizadas por um único ator ou atriz, mas mesmo neste caso é comum ter uma equipe de apoio e de criação que trabalha para sua realização.

Quando pensamos em escola, quase sempre pensamos em grupo, em classe, em turma, ainda que boa parte do trabalho seja realizado individualmente, por um único aluno ou aluna, mas mesmo neste caso existe uma equipe que propõe, dá suporte, acompanha.

Muitos de nós aprendemos a viver em grupo na escola, ainda que tenhamos outros grupos com os quais convivemos, como a família, a rua, a igreja, o clube… Mas apesar da escola ter tanta importância para este aprendizado fundamental na sociedade atual, será que ela se dedica como poderia neste ensinamento?

A possibilidade de vivenciar o teatro dentro da escola oferece para os alunos uma maneira diferente de viver o grupo por algumas razões. A primeira delas é que na criação teatral todos trabalham para uma produção comum, não há disputa; e ter alguém que seja reconhecido como muito melhor não ajuda na montagem teatral. De maneira geral, uma boa peça é aquela na qual todo o elenco atua bem, onde não percebemos alguém que não representa da melhor maneira porque uma boa peça não nos dá tempo de “olhar de fora”, já que estamos envolvidos com a cena.

A segunda razão que diferencia o trabalho teatral é o fato de que ele é corporal. O corpo participa pouco das aulas escolares. Desde muito pequenas, as crianças aprendem a controlar seus corpos para conseguir suportar horas em uma mesma posição, com atividades que solicitam o uso dos olhos e das mãos, além do pensamento. O trabalho teatral pede corpo! E ao pedir que os alunos se expressem corporalmente, também pede que eles se relacionem corporalmente. Ao encenar fazemos gestos, movimentos, tocamos os corpos de nossos colegas, vivemos gestos junto com o outro que ampliam as possibilidades de conhecê-lo a partir de outra percepção.

A terceira razão é que o teatro explora emoções e sentimentos. Muitas áreas de conhecimento podem lidar com emoções e sentimentos, mas poucas vezes o fazem, e ainda assim conseguem explorar conceitos variados, mesmo que de maneira mais pobre do que poderiam. Mas fazer teatro sem se emocionar não dá. Podemos pensar que a emoção é do personagem e algumas vezes é, mas mesmo assim, o ator precisa senti-la para poder expressá-la.

Viver coletivamente experimentando sentimentos com o corpo possibilita uma confiança que transforma uma classe em grupo. Se juntamos isso à alegria da criação coletiva, podemos entender o motivo de depois de uma apresentação teatral os alunos comemorarem com tantos abraços e beijos.