Sistema Coringa

O sistema Coringa proposto por Augusto Boal pode ser explicado, de forma simplificada, como uma proposta de encenação na qual diferentes atores podem assumir um mesmo personagem.

Esta maneira de ver a atuação propõe um distanciamento do ator em relação ao personagem, já que ao poder assumir diferentes personagens, o ator não se identificaria com nenhum deles em específico.

A proposta de Boal se refere à visão teatral de Bertold Brecht, mas ambas possuem uma complexidade que não cabe neste post e não é a intenção deste blog aprofundar em teorias teatrais.

Na enciclopédia Itaú Cultural, podemos ler sobre a atualidade deste sistema de encenação: “Ao longo das décadas seguintes, no Brasil, algumas das técnicas teatrais nascidas ou criadas no sistema coringa acabam por ser empregadas em outros contextos, utilizadas como recursos de linguagem, sem obedecer, todavia, às suas determinações ideológicas. São exemplos: o rodízio de personagens do elenco por meio da substituição de adereços; o amálgama de gêneros diversos numa mesma cena ou peça; o emprego de recursos narrativos mesclados com cenas dramáticas etc., tornando o sistema algo assimilado e diluído, mais uma prática do que um modelo, no cotidiano do fazer teatral”.

Ao refletirmos sobre o uso deste sistema no espaço educativo, podemos perceber a possibilidade de explorar diferentes conceitos, como a caracterização de um personagem, o uso de símbolos ou adereços que caracterizem um personagem, a possibilidade de um mesmo ator representar muitos personagens em uma mesma peça, a diversidade de soluções para a representação, dentre outros.

Este sistema, que no teatro profissional permite a realização de uma montagem teatral sem um grupo de atores tão grande, em escolas, nas quais, de maneira geral, sobram atores para os poucos personagens, é possível explorar esta solução dando a oportunidade para que mais de uma pessoa represente o personagem principal, quando existe um.

Esta maneira de olhar para a representação rompe com a hierarquia presente em muitas peças, nas quais há um número pequeno de personagens principais. O que interessa, no entanto, não é termos peças nas quais todos os personagens tenham a mesma relevância, mas sim, ao utilizar deste sistema, dar oportunidade de representação para todos os alunos que estão aprendendo teatro, além de questionar os aspectos já apontados.

Teatro de arena

Teatro de Arena no CCSP, São Paulo.

O formato do teatro de arena é possivelmente a estrutura mais antiga que conhecemos na história do teatro ocidental.

Na Grécia Antiga, as arenas não se destinavam apenas a representações teatrais, mas acolhiam outras formas de diversão social, como os jogos de gladiadores.

Tais teatros, além de serem conhecidos por sua importância histórica, possuem um formato bastante específico e vale a pena conhecê-lo um pouco mais, já que ele propõe um determinado tipo de encenação que se diferencia do Palco Italiano em variados aspectos. Para quem não sabe o que é um Palco Italiano, aqui vai uma explicação brevíssima: é o teatro no qual o palco fica de um lado e a plateia do outro, sendo que a abertura do palco fica em apenas um dos lados, o que faz com que ator e espectador fiquem frente a frente.

O que mais me interessa no formato do Teatro de Arena é exatamente a relação que ele propicia entre a encenação e a plateia, já que esta fica em volta de toda a cena — ou praticamente toda —, como pode ser visto na imagem abaixo.

TEATRO DE ARENA. Imagem disponível em https://slideplayer.com.br/

O fato de ter plateia em diferentes direções, propõe para a cena uma elaboração que inclui todo o corpo do ator, além de um possível diálogo com os espectadores, mesmo que seja apenas pelo olhar.

A concepção da cena deve levar em conta esta característica e a movimentação dos atores precisa ter em mente a diversidade de pontos de vista, mesmo quando a arena não é de 360 graus.

Teatro de arena “Eugênio Kusnet”

Ao pensarmos no trabalho com alunos, neste formato de cena, com toda certeza rompemos com a ideia de que o que importa é a frente do corpo ou a fala. A cena na arena precisa incorporar o todo do ator, sua presença total, o que a torna um ótimo instrumento para explorar a importância de estar com o corpo todo enquanto atuamos.

Teatro romano de Plovdiv

As férias já terminaram, mas a vontade de continuar passeando ainda não me abandonou, por isso este post é sobre um teatro que conheci em julho.

Plovdiv é a segunda maior cidade da Bulgária, próxima de Sófia, a capital deste país que pouco conhecemos por aqui, não apenas pela distância, mas porque a Bulgária fez parte do bloco comunista do Leste Europeu, e em decorrência disso, passou muitos anos sem que o acesso fosse tão fácil, diferentemente das cidades mais conhecidas da Europa.

Esta charmosa cidade, uma das mais antigas do continente europeu, passou pelas mãos dos Romanos e dos Otomanos, povos que deixaram marcas importantes nesta região. Uma delas é o teatro de arena, construído na Roma Antiga. No site da cidade, é possível saber que:

“O antigo teatro de Philipoppol é um dos teatros antigos mais bem preservados do mundo. Ele está localizado na encosta sul das Três Colinas, no vale entre Taksim e Dzhambaz tepe. Descoberto por arqueólogos de Plovdiv e reconstruído no início dos anos 80 do século XX, o antigo teatro de Philipoppol está entre as descobertas mais significativas do período romano. Inscrições recentemente encontradas e decifradas em um pedestal monumental revelam que o teatro foi construído nos anos 90 do século I d.C., quando Filipolol estava sob o governo de Tito Flávio Cotis — herdeiro de uma dinastia real trácia, sumo sacerdote da província de Trácia, representante do Tribunal Metropolitano de Justiça e responsável pelos canteiros de obras.

A área do espectador ao ar livre inclui 28 fileiras concêntricas de assentos de mármore cuja forma de ferradura, em torno do palco-orquestra, possui 26,64m de diâmetro. Além de apresentações de teatro, o local foi usado para jogos de gladiadores e caça, bem como sede da Assembleia Geral da província romana da Trácia (Tracon koinon). Esteve em atividade até o final do século IV e chegou a ter capacidade para cerca de 6 mil espectadores. Costumava haver uma loja para o imperador e outros funcionários na segunda fila de cadeiras acima do arco.

Hoje em dia, o teatro antigo é simbólico para Plovdiv e ajustado para a vida cultural moderna da cidade. Está operando como um palco de ópera, música e drama. Alguns dos melhores eventos anuais são o Festival Internacional de Folclore, o Festival de Ópera “Opera Open”, o Festival de Rock “Sounds of Ages” e muitos outros.”

Estive lá em um dia de muito calor, no qual foi possível viver a experiência de estar em um lugar tão antigo que permanece vivo, o que era perceptível na desmontagem do cenário de uma apresentação que havia ocorrido um dia antes. Não foi possível ver um espetáculo, mas caminhar por um lugar onde tantas cenas já foram feitas é uma alegria que perdura.

No próximo post vou comentar um pouco mais sobre as características do teatro de arena.

Teatro é novela?

Montagem da peça “O Avarento” em 1999, disponível em http://centrotecnicotca.blogspot.com.br

O Brasil é um país que tem nas novelas um público cativo. É possível que essa característica esteja em plena transformação desde que as séries passaram a ser veiculadas em muitos canais televisivos, mas é comum encontrarmos um grande percentual de telespectadores que assistem novelas quando estamos em um grupo.

As novelas não são todas iguais, algumas possuem uma ambientação e caracterização de personagens que foge do realismo, mas a maioria é realista.

Podemos dizer o mesmo do teatro? Com certeza não!

O teatro realista surge na segunda metade do séc. XIX e ainda que seja contestado por outras estéticas importantes e de grande representatividade, continua existindo até hoje. O realismo busca a cópia da realidade, são montagens nas quais iremos observar a representação de espaços  e figurinos que tem o intuito de ser fiel ao real.

Independentemente da minha identificação com as diferentes soluções estéticas existentes, posso dizer que já assisti peças realistas maravilhosas, o que me permite dizer que esta escolha não impede a qualidade da cena.

O que impede que uma peça tenha qualidade é quando a única coisa que se espera é que ela seja uma cópia da realidade.

Montagem da peça “O Avarento” em 2006, disponível em http://www.gazetadopovo.com.br

 

Nas encenações escolares é comum encontrarmos a tentativa de fazer uma cena a mais parecida possível com a realidade. Como, em grande parte das vezes, o custo para ficar parecido com a realidade é muito alto, o que costumamos ver são cenários pobres tentando se parecer com os cenários novelísticos.

Além dos cenários e dos figurinos, a busca por uma gestualidade que imite o melhor possível a realidade termina de empobrecer a montagem.

É bom termos clareza de que o teatro é sempre uma representação, não é realidade e nunca será. A escolha sobre como faremos esta representação pode variar, podendo inclusive ser o mais próxima do real, mas desde que seja sempre uma escolha que faça sentido para o grupo de alunos ou de atores.

Se você não se lembra de ver nenhuma montagem que não seja realista, pesquise o teatro do absurdo. E vá mais ao teatro. Não há melhor maneira de entender este post do que assistindo peças com diferentes opções!

As diferentes maneiras de dizer a mesma coisa

 

Muita gente que não trabalha com teatro pode pensar que o ator precisa aprender o texto do personagem e encontrar a maneira correta de dizer aquela frase!

E qual será a maneira correta de dizer uma frase? Será que existe uma?

Claro que podemos imaginar que existe uma maneira adequada de uma determinada frase ser dita por um certo personagem em uma situação particular que a peça está se referindo. Mas mesmo com tudo isso decidido, existirá uma única melhor maneira?

Obra de Spencer Tunick, disponível em https://eplaya.burningman.org/viewtopic.php?t=65686&start=30

Vamos imaginar uma cena: A peça é Romeu e Julieta, Julieta está em seu famoso balcão e Romeu está escondido, vendo-a, sem que ela saiba ainda que ele está lá, até que escuta um barulho ou vê um vulto e diz:

Julieta: Quem és tu, que encoberto pela noite, entras em meu segredo?

Qual será a forma correta desta frase ser dita? Estará Julieta curiosa? Ou esperançosa de que fosse ele, logo após tê-lo conhecido no baile? Quem sabe está assustada por não esperar a presença de ninguém?

Poderíamos definir uma destas opções, escolhamos: Está curiosa!

Muito bem, e como fala alguém curioso? Será que fala de maneira dura, quase dando uma bronca? Ou um curioso também pode falar com um tom de cumplicidade, para que o outro não se espante e fuja? É um curioso amedrontado e fala gaguejando?

E como se movimenta o corpo de Julieta enquanto diz esta frase? Se debruça no balcão para enxergar mais longe ou se esconde para ver sem ser vista?

Podemos passar horas explorando possibilidades e normalmente é isto que fazem os atores quando estão no processo de elaboração de um espetáculo.

As opções são muitas e esta única frase, dita por diferentes atrizes representando a mesma Julieta, pode encontrar muitas soluções seja no gesto ou na maneira de falar. E todas elas poderão ser boas maneiras, a depender de muitos outros fatores.

Esta característica do fazer teatral é, com certeza, um dos aspectos mais atraentes desta linguagem, exatamente por podermos experimentar diferentes possibilidades para nos expressarmos.

E você, se fosse a Julieta, como diria esta frase?  

É preciso apresentar uma peça para os pais?

Quando pensamos no ensino de teatro, é comum relacionarmos com uma apresentação para os pais. Algumas escolas só fazem mesmo as apresentações, isto é, o teatro só é trabalhado com a função de apresentar o trabalho dos alunos para os pais.

Para entendermos melhor esta questão, é importante refletirmos sobre qual o sentido de nos apresentarmos dentro da situação escolar.

Fazer uma apresentação sobre o aprendizado dos alunos é sempre uma oportunidade de compartilhar com os pais aquilo que seus filhos estão vivenciando e criando. Se pensarmos sobre este ponto de vista, a apresentação é uma experiência que pode ser riquíssima dentro deste processo de permitir que os pais e a comunidade escolar participem da vida escolar dos alunos.

Ao refletirmos sobre o teatro, suas características como Arte, também chegaremos à conclusão de que fazer apresentações é algo muito positivo, já que o teatro só acontece com a presença do público!

Mas então, por que estamos colocando em dúvida a prática de apresentar peças aos pais?

Porque precisamos pensar sobre como apresentar!

A primeira reflexão é: Estamos fazendo uma apresentação de um processo de aprendizagem teatral ou estamos fazendo teatro para ter o que apresentar? Se a apresentação é decorrente de um aprendizado, ela poderá ser um ótimo momento de compartilhar o vivido e a realização de uma etapa importante no aprendizado teatral. Mas se fazemos a peça só para ter o que apresentar, não estaremos compartilhando nada da aprendizagem, pois ela não ocorreu. A prática teatral não teve um fim em si, ela só ocorreu para que houvesse uma apresentação.

Considerando que seja um momento de compartilhar o que foi aprendido pelos alunos, precisamos refletir sobre como compartilhar. Para definir a forma de apresentar precisamos responder algumas perguntas:

  • Os alunos querem fazer a apresentação?
  • Para quem eles gostariam de se apresentar?
  • Qual o espaço mais adequado para as cenas que montamos?
  • Qual a proximidade necessária com a plateia para que as falas possam ser ouvidas?
  • Estou dando mais importância para o cenário e figurino do que para a atuação?
  • A faixa etária dos meus alunos foi pensada quando elaborei a apresentação?
  • A prática de se apresentar é algo presente no ensino de teatro que eu proponho ou nunca ocorre nenhuma apresentação até o grande dia?

São muitos os aspectos sobre o qual precisamos refletir para fazer uma apresentação e algumas características se modificam bastante quando estamos trabalhando com crianças pequeninas, da Educação Infantil ou quando são jovens do Ensino Médio.

Este post não comporta tudo o que precisamos falar sobre este tema, mas em breve retomaremos este assunto, pensando como pode ser uma apresentação nos diferentes ciclos educacionais.

O que faz um diretor?

A palavra diretor está bastante associada a ideia de mandar. Existem diretores em muitos campos de trabalho e os  professores costumam conviver com as diretoras de escolas, cotidianamente.

Desta forma, qual a especificidade do diretor teatral?

Acho a função do diretor muito parecida com a do professor. Sou professora há muitos anos e já dirigi algumas montagens teatrais, seja no teatro-educação ou no teatro-amador. Também já fui assistente de direção do teatro profissional e digo com tranquilidade que são funções que se assemelham.

O diretor teatral tem duas principais funções: ajudar os atores a encontrarem a melhor forma de atuar e terem uma visão do todo do espetáculo.

Para ajudar o ator nesta construção teatral é fundamental ter em mente que o ator possui capacidade de criar, portanto, compete ao diretor encontrar propostas que potencializem esta criação. Dizer a um ator tudo o que ele deve fazer é tirar dele o que existe de mais fascinante no teatro, que é a experiência criativa.

Ter a visão do todo significa fazer costuras entre as necessidades dos atores e as possibilidades para cenário, figurino, iluminação e sonoplastia. O diretor é quem estabelece costuras entre estes diferentes aspectos que compõem uma peça.

Talvez você esteja pensando que em sala de aula, em montagens feitas nas escolas, você, professora assume todas estas funções, fazendo tudo o que for necessário, sem a ajuda de ninguém. É a condição de trabalho de grande parte dos professores e não vejo nenhum problema nisto, embora acredite que uma ajuda é sempre bem vinda!

Trabalhe com seus alunos, possibilite a criação deles, escute as ideias, incorpore as sugestões e faça com que cada um se sinta autor-criador do que será apresentado.

Lembre-se: os alunos não vão para a escola para realizar o teu sonho! Não é a peça que você imaginou que deve ser montada, ainda que isto possa parecer decepcionante para você. Dirigir uma peça que é de todos, observar a felicidade de cada um por ter criado algo é o que há de melhor na vida de uma diretora ou de uma professora.

A foto deste post é de Augusto Boal em 1975, está disponível em http://www.funarte.gov.br.

Como escolher um texto?

No ensino de teatro é muito difícil escolher um texto para montar uma peça com os alunos, sejam da idade que forem!

Talvez a principal dificuldade seja do número de alunos em contraposição ao número de personagens. Quase todas as peças tem poucos personagens e quase todas as salas de aula tem muitos alunos. É uma conta que não fecha!

A situação só piora quando observamos o número de personagens que tem alguma importância no enredo. Dois exemplos clássicos de montagens feitas na Educação Infantil e nos primeiros anos do Fundamental: Os três porquinhos – 4 personagens e Chapeuzinho Vermelho – 5 personagens.

Os poucos alunos considerados capazes irão fazer alguns destes personagens. Para os demais sobram as árvores, os pássaros, os bichinhos da floresta ou alguma invenção humana feita pela professora.

A tentativa de encaixar uma turma de 25 alunos em uma apresentação com 5 personagens, quase nunca funciona. Alunos chateados, irrequietos e que chegam a conclusão de que fazer teatro é muito chato!

Como fazer? Mudar a forma de pensar texto para alunos pequenos. Buscar personagens coletivos. Buscar histórias nas quais muitos personagens interajam. Fazer com que várias crianças interpretem o mesmo personagem.

É possível encontrar diferentes soluções, o que fundamenta a busca é ter claro que o mais importante na apresentação é possibilitar a criação cênica com o corpo e com a voz, portanto a escolha do texto e as opções sobre como apresentar não podem colocar o texto na frente das crianças.

Quem pode ensinar teatro?

Legalmente esta resposta é simples, pois a pessoa formada em Pedagogia pode lecionar qualquer disciplina, seja na Educação Infantil ou no Fundamental 1 e no Fundamental 2 e no Ensino Médio será somente quem é Licenciado em Artes.

Mas como alguém que nunca fez ou estudou teatro poderá ensinar para alguém?

O meu trabalho como professora para o curso de Pedagogia ou para pedagogos já formados me faz ter a impressão de que a maior parte deste grupo de professoras não teve qualquer formação nesta linguagem. E então passamos para outra pergunta: como resolver este buraco? Como fazer com que a ausência de experiências com a linguagem teatral, por parte dos professores, não gere novas gerações nas mesmas condições?

Este blog tenta, ainda que considerando os limites que um blog pode ter, preencher parte desta lacuna.

Tenho certeza absoluta que a experiência de fazer teatro é insubstituível. Também tenho certeza que qualquer professor de teatro que tenha estudado seja pela prática realizada, seja pela leitura que fundamenta o ensino de teatro, será um professor muito melhor. Mas acredito que se você é uma professora que deseja incluir o teatro na sua prática pedagógica com alunos do Infantil e Fundamental 1 e ainda não teve uma formação específica na área, comece agora este caminho.

Ir ao teatro, assistir espetáculos, ler peças teatrais, estudar teóricos que discutem o tema e experimentar algumas propostas com seus alunos é um bom começo. Fazer cursos que são oferecidos na tua cidade, podendo vivenciar coletivamente esta prática é uma forma feliz e responsável de continuar a descobrir possibilidades.

Se você é professor do Fundamental 2, Médio, EJA ou outros espaços educativos, procure também o professor de Artes e troque ideias, talvez vocês façam um projeto juntos. Nos muitos relatos que já ouvi, os professores de português e de história foram os responsáveis pela pouca experiência teatral vivida. É o ideal? Não! Mas é melhor do que nada.

Palmas para o artista

A relação entre palco e plateia é com certeza fonte de diversas reflexões sobre a cena teatral. Há quem diga que no ensino de teatro não importa a apresentação, o que importa é o processo vivido pelos alunos/atores.

Como não importar algo que faz parte da cena?

Imagem do Teatro Polytheama de Jundiaí

Muitas confusões neste meio de campo são decorrentes de uma concepção de peça teatral como um grande espetáculo, como algo pronto para ser mostrado a uma plateia que vê a cena distante da mesma. A imagem do palco italiano, com luzes sobre os atores, que ofuscam seu olhar, impedindo-o de ver o público, que por sua vez está lá, longe, sentado nas cadeiras da plateia, quase como uma massa de gente.

Bocas, quantas bocas
A cidade vai abrir
Pruma alma de artista se entregar

Neste pequeno trecho da música Na carreira, Chico Buarque apresenta uma imagem de plateia que pode tanto ser assustadora, pensando em bocas abertas e devoradoras, mas também pode ser uma imagem de entrega, de encontro, de almas que se juntam neste momento da criação.

Vejo a plateia nesta segunda opção, como pessoas com as quais os alunos/atores se encontram, trocam, criam juntos, na proposição de uns e na leitura de outros.

Talvez este encontro seja o que há de mais encantador na Arte, este encontro que acontece entre o artista, sua obra e seu público, encontro do qual todos saem transformados.

Você pode estar pensando que isto talvez ocorra com atores profissionais, mas não com crianças em apresentações escolares. Será que não? Não digo que seja o mesmo, mas há algo de essencial que perpassa a todas as apresentações, que é vivenciar juntos um processo criativo. Quando o que se apresenta é o resultado de um processo criativo, ainda que com os limites decorrentes da pouca idade ou do pequeno domínio desta linguagem, vivemos o encanto de compartilhar um processo criativo, uma descoberta, o conhecer.

Imagem de apresentação do Projeto Palco, disponível em www.projetopalco.com.br

Mas para que este encanto ocorra é necessário adequar a plateia, seu tamanho, seu formato, a proximidade com a cena, ao grupo que se apresenta. Nem sempre precisamos de um palco italiano, com luzes e distância. Algumas plateias precisam ficar pertinho, perto o suficiente para serem tocadas pelas crianças. Como fazer isto? Volto a este assunto em um próximo post!