Qual a escolha que faço?

Quando vamos montar uma peça de teatro precisamos fazer várias escolhas.

Sobre o que queremos falar?

Vamos escolher uma peça pronta ou criar?

Como vamos criar o espetáculo?

Para quem será apresentado?

Como será o cenário, o figurino, a iluminação, a sonoplastia?

São muitas as perguntas que vamos respondendo conforme fazemos escolhas e as escolhas feitas podem ser feitas por muitos motivos, desde razões práticas, como por exemplo a verba disponível para elaboração dos elementos da cena ou o espaço disponível para a apresentação, como escolhas estéticas.

Um grupo de teatro pode existir, independentemente da montagem que fará e a montagem ser resultado de um processo de vivências criativas, mas também pode existir com o objetivo de montar um espetáculo pré-definido, seja pela direção, seja por parte do elenco.

A forma de apresentar, quando decorrente de uma concepção estética estará embasada em visões sobre o sentido do teatro, sobre um determinado entendimento de sua relação com a plateia ou uma visão de qual deve ser o processo de criação do personagem.

A estética teatral resultante de todas estas escolhas pode ser clara, pode ser o que guia as escolhas feitas, mas também pode ser um pouco misturada, já que a definição de todos os aspectos poderá estar pautada não em uma escolha prévia, com uma linha bem delimitada, mas como resultado de diferentes escolhas, que encontram uma coerência para esta obra, podendo carregar um certo hibridismo.

Seja qual for seu percurso, uma coisa é certa: é sempre bom conhecer o que você está escolhendo e não correr o risco de apresentar um espetáculo que diga coisas que você não gostaria de dizer, mas que ignora o sentido e por isso acaba se expressando de maneira contrária ao que você mesma acredita.

Teatro para bebês

Nas vezes que assisti uma peça de teatro para bebês foi difícil saber para onde olhar, se para a cena ou para os bebês!

Como diz Luiz André Cherubini no documentário do Grupo Sobrevento – A Bailarina, que você pode acessar neste link, é incrível a capacidade dos bebês de se maravilharem e se encantarem com coisas bem simples.

Esse maravilhamento, tão característico dos bebês, que estão permanentemente descobrindo o mundo onde estão, se evidencia na maneira pela qual se relacionam com um espetáculo teatral que consegue criar uma forma que se comunique com eles. É muito emocionante ver a intensidade deste encontro!

Grupo Sobrevento

E o que é teatro para bebês?

Uma resposta para essa pergunta seria no mínimo uma demonstração de presunção deste blog, afinal, como qualquer forma teatral, é muito difícil criar definições que não sejam visões limitadoras de uma criação artística, mas vamos tentar dar alguns contornos que ajudem a compreender.

Um aspecto fundamental para saber o que pode ser um bom espetáculo para bebês é saber mais sobre os bebês, sobre seus interesses e as diferentes maneiras com que se relacionam no mundo.

Ter como premissa que o bebê é uma pessoa com um enorme potencial poético, que se emociona de forma estética, que é sensível e que entende emoções é um bom início de caminho.

Reconhecer que os bebês estão no mundo há pouco tempo e que os sentidos são um potente canal de exploração do mundo também é parte da compreensão desta linguagem.

Scaratujas, Cia. Catarsis

Por fim, respeitar a delicadeza desta fase da vida, sem que se ofereça uma explosão de sons e cores, como se o bebê precisasse do excesso é um reconhecimento de suas características. Bebês precisam de muito no sentido de que qualquer espetáculo precisa ter muito o que dizer, ser poético e conhecer o seu público, mas precisa de pouco se pensamos em quantidade de estímulos. São seres sensíveis, mas muito atentos ao que estão vivendo!

Você pode ler neste blog comentários sobre as peças Achadouros, do Grupo Sobrevento e Scaratuja, da Catarsis. E assim que puder, leve um bebê ao teatro e se encante junto com ele!

O que se aprende ensaiando?

Para a maior parte das pessoas que não trabalha com teatro, a concepção a respeito do ensaio teatral é de ser uma ação que permite a elaboração de uma peça, a criação das cenas e culmina na apresentação do espetáculo pronto.

Sim, o ensaio é tudo isso mesmo!

Mas, quando pensamos em teatro nos espaços educativos, será que é a mesma coisa que no teatro profissional?

A primeira pergunta a nos fazermos é se na educação, o teatro precisa sempre resultar em uma apresentação? A resposta para essa pergunta não é uma só, pois depende da faixa etária, do propósito, do contexto no qual o teatro foi inserido. Nem sempre precisa resultar em uma apresentação, mas é muito interessante que resulte, principalmente quando estamos falando de crianças e jovens de mais de 10 anos.

Foto de Cottonbro no Pexels

Então o ensaio, nesta situação, terá como propósito criar a apresentação e fazer com que os alunos não fiquem perdidos no momento que estão em frente a uma plateia?

Sim e não! Sim porque o ensaio será o momento para a elaboração da peça e para que todos tenham segurança de poder apresentar seu trabalho para uma plateia. Não porque o ensaio é também o momento de criação e de aprendizagem.

Precisamos lembrar que nos espaços educativos o foco principal é a aprendizagem e que a apresentação será o resultado do que foi possível aprender.

Isso não significa que não devemos nos preocupar com a apresentação, pois a apresentação faz parte das aprendizagens da linguagem teatral, mas o ensaio não pode estar somente preocupado com a apresentação, pois desta maneira estaríamos invertendo as prioridades.

O ensaio nos ensina a relação com o público, ensina a repetir sem ficar sem graça, a descobrir a melhor maneira de encenar, justamente pela busca dentro da repetição que vai recriando e aperfeiçoando. É no ensaio também que o grupo se fortalece como tal e fica pronto para mostrar seus aprendizados em forma de cena teatral.

Teatro na Educação Infantil

Entender o que é fazer teatro pode ser difícil, mas quando juntamos a isso a compreensão do que pode ser teatro na Educação Infantil, o meio de campo acaba de embolar!

Aproveito para este post um trecho do texto da Marina Marcondes Machado, que você pode ler na íntegra acessando este link e abrindo o livro Percursos de Aprendizagem: Práticas Teatrais.

Neste texto Marina irá relacionar o teatro para esta faixa etária com o teatro pós-dramático. Ela diz:

“Quando a criança está brincando de faz de conta, ela é dissimulada? Mentirosa? Ilusionista? O leitor atento, que acompanhou os capítulos anteriores, responderá: “não”. Mas o que está acontecendo, então, com a criança no momento em que brinca de faz de conta? Há quem diga, como Sarmento, que a expressão “faz de conta” é inadequada para essa conduta da criança, uma vez que todo observador mais cuidadoso sabe quão verdadeira é aquela narrativa, cena do cotidiano, drama ou conflito. Existe, sim, algo no faz de conta que Artaud defendeu em sua estética, a mesma energia/sinergia que os encenadores contemporâneos pretendem, inclusive, resgatar no corpo do ator-performer.

O professor leigo não precisa ocupar-se das minúcias deste debate, mas deve estar atento para uma nova forma de teatro que surgiu a partir das décadas de 60 e 70, onde a linearidade aristotélica, do tempo do começo-meio-e-fim, não se faz mais presente ou necessária. Isso aconteceu também no cinema: quem não assistiu ao menos a um filme que se recusou a acabar, ou seja, que deixou “em aberto” o final da história que contava?

E se artistas profissionais estão praticando um tipo de linguagem mais “caótica”, desorganizada do ponto de vista realista, com cenas sobrepostas, ou ainda, apresentando músicas e ruídos concomitantes, interposto a um silêncio cortante, como e por que um professor de crianças precisaria ater-se a um teatro que representasse “Chapeuzinho Vermelho”, “Os Três Porquinhos”, ou “Os Três Reis Magos” com a proximidade do final do ano? E o que seria trabalhar de “outro modo”, na chave do teatro pós-dramático?”

Neste texto, Marina nos dá uma pista sobre um dos aspectos do teatro da primeira infância: ele não precisa contar uma história de forma linear! Os pequenos e pequenas podem brincar com idas e vindas no tempo, sem uma narrativa que parta de um ponto definido e que tenha uma sequência de ações, uma consequência da outra para chegar ao final.

O teatro da educação infantil pode ser caótico, pode não ter fim, pode ter muitas vezes a mesma experimentação, como uma cena em looping que se repete de várias maneiras ou da mesma incontáveis vezes.

Quem nunca contou a mesma história para uma criança e ao terminar ouviu: de novo! Dar oportunidade para este de novo na experiência teatral é um dos aspectos a ser garantido na Educação Infantil.

Criando um teatro de objetos – parte 2

Esta proposta pode ser feita com diferentes faixas etárias, porém para as crianças de Educação Infantil esta prática estará em diálogo com o faz-de-conta que a criança já faz com objetos. Neste sentido a proposição de uma montagem teatral faz mais sentido para as crianças maiores de 5/6 anos.

As imagens deste post foram retiradas da página do Festival Internacional de Teatro de Objetos

Para quem?

Qualquer pessoa com mais de 6 anos

Condições necessárias

Uma sala com espaço para que todos se movimentem.

Materiais necessários

Objetos variados, que podem ser trazidos pelos participantes ou pelos professores que irão propor a experimentação.

Equipamentos de som e de luz, que podem ser um celular com uma caixa acoplada para o som e lanternas e abajures para a luz, mas caso você tenha uma mesa de luz disponível, use-a!

Como acontece?

Esta proposta é continuidade da parte 1 da criação de um teatro de objetos, na qual foi feita uma experimentação individual com bonecos. Leia aqui este post.

Agora iremos criar uma apresentação coletiva, que pode ser feita com seu grupo de alunos dividido em grupos menores ou uma única apresentação de toda a turma.

Neste momento vocês poderão optar por dois caminhos: fazer uma criação coletiva partindo das cenas individuais ou utilizar um texto ou uma história já escrita como base para a apresentação.

Primeiro caminho – criação coletiva

Ao optar pela criação coletiva partindo das cenas, o primeiro trabalho é estabelecer uma narrativa que estabeleça relação entre as cenas. Esta relação pode ser estabelecida por uma temática que surja das cenas individuais ou por um fio condutor, por uma sequência narrativa que buscará contar uma história que relacione as cenas criadas anteriormente.

É importante que todos entendam que as cenas individuais são a base desta nova montagem, mas que todas elas irão se transformar em novas cenas, que misturam personagens e situações.

Depois de definida a estrutura central da peça, volte a improvisar, criando as novas cenas e montando a apresentação da peça.

Segundo caminho – partir de um texto ou história já escritos

Neste caso vocês irão buscar quais as possíveis relações entre as apresentações individuais e a história já criada. Depois de encontradas estas relações, devem partir para novas improvisações que possibilitem a utilização de outros objetos e de novas combinações.

Luz e som

Nos dois caminhos a luz e o som chegarão como complemento às improvisações e às cenas, quando definidas.

Um som ou uma luz pode transformar o que está sendo criado, por isso devem fazer parte das improvisações, dialogando com as cenas e dando novas ideias sobre como elas serão criadas.

Apresentação

A apresentação desta peça poderá ser feita em etapas, isto é, inicialmente para um grupo de colegas, que pode ser outra sala de aula e alguns professores, depois para outro grupo de colegas e para a comunidade escolar – pais e amigos. É sempre interessante fazer mais do que uma apresentação, pois a compreensão sobre o fazer teatral se modifica a cada apresentação feita.

Anjo de Pedra

Um bom texto e boas atuações quase sempre já garantem diversão em uma peça de teatro. Anjo de Pedra tem os dois, mas tem mais!

Começo falando sobre o texto, que para quem não conhece, vale a pena! É lindo, poético e embora tenha sido escrito em 1948 por Tennessee Williams, continua atual. A adaptação foi feita pelo Nelson Baskerville e por Luis Marcio Arnaut e no programa do espetáculo é possível saber mais sobre o processo de construção do texto usado na peça.

A Sinopse da obra, divulgada no programa diz:

“Verão de 1916.

John está em férias da faculdade de medicina. Alma, sua vizinha, apaixonada desde criança, tenta se aproximar. Ela é filha de um pastor anglicano, educada na rigorosa tradição do Sul dos Estados Unidos. Para a mulher, tudo é pecado, proibido ou imoral.

Ele é uma espécie de playboy, ateu, não apegado a regras e moral, mulherengo e desleixado.

O romance entre eles é impossível. Com base no romance A virgem e o cigano [1922] de D. H. Lawrence, Tennessee Williams revive o mito da Fênix ao figurar em John as mudanças comportamentais exigidas para um “homem de bem”; e em Alma, da mulher sufocada, pela tradição e pela sociedade, àquela que busca viver sua subjetividade em plenitude.”

Foto de Ronaldo Gutierrez

Nenhum ator sobra, nem atrapalha, o que nem sempre é possível em uma montagem com 8 em cena. Há uma justeza, um pertencimento de cada personagem reconhecível nos gestos, na precisão dos movimentos, na intensidade das expressões.

Os dois protagonistas, representados por Sara Antunes e Ricardo Gelli emocionam, provocam aquele estado tão desejado quando vamos ao teatro, que é de ficar com a atenção plena no que está passando, a torcida pelo que virá, o desejo de que eles encontrem alguma maneira de viver as emoções tão pulsantes em sua plenitude. Se encontram, não direi, seria um spoiler desnecessário.

Para além da beleza do texto e da atuação, a proposta de encenação também delicia. Assisti na estreia, no Tuca Arena e a montagem faz da arena um cúmplice. A direção consegue o que se espera dela, uma integração do elenco e um espetáculo no qual nenhum elemento rouba a cena, todos dialogam, criam a trama, nos colocam em conexão.

Espetáculo de duas horas no qual em nenhum momento olhei para o relógio. Vale a pena! Vai lá!!!

Para saber mais informações, entre no instagram da peça @anjodepedra_

Direção: Nelson Baskerville

PRODUÇÃO Rodrigo Velloni

ADAPTAÇÃO Nelson Baskerville e Luis Marcio Arnaut

TRADUÇÃO Luis Marcio Arnaut e David Medeiros

ELENCO

Sara Antunes

Ricardo Gelli

Carolina Borelli

Luiza Porto

Thomas Huszar

Atrizes Convidadas: Chris Couto e Selma Luchesi

Ator Convidado: Kiko Marques

 

Assistente de Direção: Anna Zêpa

Música Original e Direção Musical: Marcelo Pellegrini

Cenografia: Chris Aizner

Iluminação: Wagner Freire

Figurino: Marichilene Artisevskis

Direção de Imagem: André Grynwask e Pri Argoud (Um Cafofo)

Designer Gráfico: Ricardo Cammarota

Fotografia: Ronaldo Gutierrez

 

Teatro de objetos

O teatro de objetos é uma proposta teatral que parte de objetos e no qual os objetos são os protagonistas. O termo “Teatro de objetos” foi criado em 1978, na França

Os objetos utilizados podem ser de qualquer tipo, objetos industrializados, objetos da natureza ou feitos artesanalmente. Também podem ser utilizados diferentes pedaços de um objeto.

A criação das cenas e dos personagens parte do diálogo estabelecido com os objetos, com a observação e a interação criada com eles.

O teatro de objetos é um dentre as formas teatrais de teatro de animação, que é assim chamado por ser feito com a animação de formas que não o corpo do ator/atriz. Outras formas de teatro de animação é o teatro de bonecos.

Para quem trabalha com crianças pequenas este formato teatral é muito fácil de reconhecer, já que as crianças brincam com objetos, dando diferentes significados para eles.

Para que você conheça um pouco mais sobre esta forma de fazer teatro, pode assistir este vídeo, no qual o Grupo Sobrevento fala sobre esta maneira de fazer teatro ou assistir esta apresentação da Cia Noz de Teatro.

Como fazer um cenário

Esta proposta é para um grupo de adolescentes que já estejam montando uma peça teatral e queiram fazer seu cenário.

Para quem?

Adolescentes

Condições necessárias

Uma sala com espaço para que todos se movimentem

Materiais necessários

Objetos que farão parte do cenário, que só serão definidos conforme a peça e a proposta da montagem

Cia Arthur Arnaldo

Como acontece?

É comum iniciarmos a montagem de uma peça teatral dentro de espaços educativos, sem que tenhamos definido como será feito o cenário ou os demais elementos constitutivos da cena.

Dificilmente conta-se com um cenógrafo e esta condição pode ser uma ótima maneira de que os alunos experimentem a confecção de todos os elementos de uma montagem teatral, podendo compreender muito melhor suas funções no espetáculo.

A primeira definição é estética, isto é, qual a escolha que será feita. Para isso é necessário que os alunos já tenham visto diferentes soluções possíveis. Caso não tenham a experiência de ir ao teatro, você poderá mostrar fotos de diferentes montagens de uma mesma peça e explicar as diferentes opções estéticas. Você pode ver o curso oferecido pelo Circularte sobre os Elementos da Cena e utilizá-lo com os alunos. Acesse aqui.

Depois de escolhida a forma que se deseja, é necessário fazer um levantamento dos objetos e materiais necessários, para então colocar a mão na massa, seja na confecção dos elementos que irão compor o cenário, seja arrecadando o mobiliário necessário.

Um aspecto importante para as escolhas feitas é a adequação dos objetos para a cena e neste sentido, nada melhor do que ensaiar com os objetos antes mesmo de transformá-los.

Um exemplo para que seja possível compreender melhor: Se o grupo decide que quer um painel para caracterizar o jardim no qual se passam algumas cenas, mas na peça existem muitas trocas de cana, precisam ser encontradas outras soluções, pois não há público que suporte a troca de um painel diversas vezes em uma mesma peça. Uma solução possível seria usar um biombo que é colocado nas cenas do jardim e pode ser retirado com facilidade.

 Para quem mais?

Esta proposta de confecção de cenários pode ser feita com crianças, mas neste caso será interessante ajuda-las nas escolhas estéticas, lembrando que para as crianças é menos importante esta definição tão clara, mas sim que o cenário seja significativo e representativo do que elas imaginaram, mesmo que não mantenha uma coerência estética tão grande.

As diferentes partes do corpo

Somos uma pessoa única e separamos nosso corpo em partes porque foi assim que nossa sociedade aprendeu a pensar, compartimentando. Não sou uma estudiosa de diferentes povos, mas sei que existem concepções nas quais a unidade é muito mais valorizada do que a compartimentação.

Mas, sendo alguém que nasceu nesta sociedade, aprendi a pensar que tenho uma perna, um braço, uma mão, um pé – todos estes em dobro, um de cada lado do corpo – tenho também costas, barriga, peito, pescoço, cabeça, rosto.

 

Foto de Hamza Nouasria no Pexels

 

Qual o sentido de explorar as partes do corpo?

O motivo é ampliarmos a capacidade expressiva de cada parte, sem que percamos de vista que continuamos sendo um todo, unido pela pele, pelo sangue que corre no corpo todo, pelas veias e pelas emoções.

Explorar as diferentes partes é uma maneira de dar visibilidade ao detalhe, descobrir, por exemplo, como meu joelho pode expressar medo ou ansiedade ou como a posição da minha cabeça poderá demonstrar um personagem inseguro ou vaidoso.

 

 

 

 

Foto de ROCKETMANN TEAM no Pexels

Colocar foco em uma parte é uma estratégia, uma metodologia para ampliarmos a capacidade expressiva, mas não deve se cristalizar como uma solução para a cena, embora possa ser muito divertido fazer cenas nas quais somente uma parte do corpo atue!

Diretor e ator: um trabalho colaborativo

Este post é continuação do último, no qual falo sobre o trabalho do diretor. Desta vez falarei sobre a ação do diretor no trabalho do ator.

Quando o diretor escuta o grupo sobre a escolha sobre o que apresentar e como apresentar, precisará escutar também sobre a definição dos personagens.

Esta questão não é muito simples, pois é comum que dentro de um grupo muitas pessoas queiram fazer o mesmo personagem e entendo que a melhor opção para esta situação é a experimentação de vários personagens por várias pessoas, em diferentes improvisações.

No caso de teatro-educação, precisamos ter em mente que nosso objetivo central é o aprendizado e a vivência teatral, o que certamente resultará em uma apresentação potente. Dessa maneira não vale a pena termos como preocupação central se a pessoa que irá representar um determinado personagem se parece fisicamente com ele ou ela.

Qualquer pessoa pode representar qualquer personagem, exatamente porque é uma representação e não uma tentativa de viver a realidade. Portanto a primeira preocupação a ser deixada de lado é a da semelhança física.

Foto de cottonbro no Pexels

Outro aspecto importante a ser considerado após a escolha dos personagens é o percurso para que esse personagem passe a existir.

A pergunta central de quem está dirigindo deve ser: quais as proposições que posso fazer para que estas pessoas encontrem a melhor maneira de representar estes personagens?

Existem muitos caminhos possíveis. Eu acredito que a improvisação é o mais potente dentre eles, já que possibilita a experimentação para se chegar a uma forma, que será sempre mutável, mesmo quando o espetáculo está pronto, ainda que em pequenas proporções.

Vale a pensa pensar em propostas que explorem os diferentes aspectos do trabalho do ator, tendo em vista:

  • Os gestos e movimentos do personagem
  • As expressões faciais
  • A fala, que engloba tanto a compreensão do texto, quanto a maneira de falar
  • A ocupação do espaço, que dialoga com o cenário e com os demais atores

O que compreendo como fundamental é a visão de que o diretor irá criar propostas para que os atores criem os personagens e irá dialogar com estas criações, dando seu ponto de vista, propondo novas soluções, integrando o trabalho de toda a equipe, mas não irá agir como se os atores fossem suas marionetes e como se a criação do personagem fosse atribuição do diretor, tendo o ator somente a função de colocar em prática aquilo que já foi criado.