A Travessia de Maria e seu irmão João

A companhia Artur-Arnaldo conseguiu uma solução muito interessante e envolvente para este formato possível de fazer teatro que estamos vivendo, no qual podemos viver a cena, a representação e a troca por meio das telas vistas de maneira online.

Em sua montagem podemos observar a adaptação feira do conto João e Maria com o encanto de um espetáculo feito de cuidados e de delicadeza.

A versão presencial foi premiada em 2019 pela APCA e nesta versão podemos ver parte deste espetáculo, mesmo que pelas telas. Mas, o mais interessante é a maneira pela qual fazem uso da virtualidade, incluindo a possibilidade de irmos até a floresta, de entremearmos simbologia com realidade e de vermos este jogo acontecer por meio da cena virtual.

Com um cenário lindo, que mistura a construção de casa com a projeção de luzes que ampliam esta casa de bonecos, com personagens bonecos, vividos pelas atrizes em sua duplicidade, vamos vendo este espetáculo criar duplos mais uma vez na solução virtual.

Os duplos da cena vistos nos personagens e no cenário, se tornam duplos na possibilidade de serem João e Maria no teatro e na floresta. Um permear permanente que nos mostra a potência do teatro, como linguagem metafórica, que pode estar contida no formato virtual, mas não deixa de trazer a intensidade da representação.

Hoje é o prezo final para assistir o espetáculo gratuitamente e baixar o material educativo. Você poderá acessar aqui .

Dramaturgia livremente inspirada no conto João & Maria de Neil Gaiman – Carú Lima, Júlia Novaes, Luisa Taborda e Soledad Yunge

Roteiro – Luisa Taborda e Soledad Yunge

Direção – Soledad Yunge

Assistente de filmagem e continuísta – Ana Matie Elenco – Carú Lima e Júlia Novaes

Diretor de Fotografia – Edson Kumasaka

Cenário – Rafael Souza Lopes

Figurinos – Rogério Romualdo

Trilha Sonora Original – Pedro Cury

Iluminação – Júnior Docini

Concepção e Direção de bonecos – Carú Lima

Direção de Produção: Soledad Yunge

A imaginação no teatro

Como eu imagino uma cena? Ou um personagem? Ou um cenário?

Por que é importante imaginar?

A imaginação é fundamental para vivermos, não apenas para fazer teatro. Imaginar é um processo mental que nos permite ir além do que somos e do que vivemos. Vigotsky, em seu livro “Imaginação e arte na infância” nos fala que “o cérebro não se limita a ser um órgão capaz de conservar ou reproduzir nossas experiências passadas, é também um órgão combinador, criador, capaz de reelaborar e criar com elementos de experiências passadas, novas regras e aproximações… É, precisamente, a atividade criadora do homem que o faz um ser projetado para o futuro, um ser que contribui para criar e que modifica seu presente.”

Imaginar é uma maneira de estarmos em transformação, por isso é uma ação fundamental em todos os aspectos da vida e não somente no fazer teatral.

Mas claro que para fazer teatro é necessário imaginarmos e como imaginamos?

Vou me deter na imaginação de um personagem que seja de uma criação coletiva e não de um personagem já definido por um autor.

Foto da atriz Louise Brooks, por volta de 1929. Fonte: Library of Congress.

Para imaginar este personagem partirei sempre do meu repertório pessoal. Uma boa maneira de entender o que significa isso é pensar que se eu quero imaginar uma artista dos anos de 1920 que vivia em Paris, eu partirei de algumas suposições e algumas informações. Para isto tenho que saber:

  • Como é uma mulher?
  • Qual a idade desta mulher?
  • Sei que ela é artista, mas é pintora, bailarina, atriz, cantora…?
  • É uma artista rica ou pobre?

 

 

 

 

Estas primeiras perguntas poderiam ser feitas para qualquer personagem de qualquer época e lugar, mas preciso saber mais informações para poder imaginar esta personagem que vive nos anos de 1920, em Paris:

  • O que acontecia no mundo das artes em Paris nos anos 1920?
  • Como se vestiam as mulheres desta época?
  • Como falavam? Sobre quais assuntos?
  • Quais lugares frequentavam?
  • Como se divertiam?

Sempre imaginamos partindo do nosso repertório e por isso é tão importante ampliarmos nosso repertório, não apenas para termos mais conhecimentos que nos levem a compreender melhor nosso passado e nosso presente, mas para podermos imaginar nosso futuro. E também nossos personagens!!!

Se você ficou com vontade de conhecer mais sobre esta época, poderá ver um filme muito divertido que se chama “Meia Noite em Paris” dirigido por Woody Allen e também as pinturas de várias artistas desta fase, como Berthe Morisot e Céline Marie Tabary.

Luz ou escuro

Para quem?

Este jogo funciona melhor com adolescentes ou crianças após os 10 anos, mas pode ser feito com os menores também, dependendo da capacidade de improvisação do grupo.

Condições necessárias:

Uma sala escura

Materiais necessários:

Lanternas (podem ser de celular)

 

Como acontece?

Proponha que o grupo se divida em duplas e a improvisação acontecerá com 3 ou 4 duplas por vez, os demais serão plateia.

Cada dupla ficará em um espaço delimitado da sala ou do palco, caso você tenha um. Este espaço pode ser delimitado com marcas no chão, para que a dupla não se movimente e não se aproxime das demais.

As duplas irão escolher quais os personagens de cada um e irão improvisar uma cena com estes personagens, por exemplo:

  • Um vendedor e um comprados em uma banca de frutas. A cada improvisação eles poderão estar conversando sobre a compra, discutindo sobre algum produto ou preço ou até mesmo brigando por um ter sido acusado de ladrão.

Uma pessoa de fora das cenas irá controlar a luz. Caso você tenha a disponibilidade de estar em um teatro com canhões de luz que apontem para os espaços de cada dupla, use este recurso. Não tendo, use uma lanterna que irá iluminar uma dupla por vez.

As duplas não saberão qual será a ordem e quanto tempo ficarão na luz ou no escuro. A ideia é que cada dupla explore sua capacidade de improvisar e lidar com a surpresa de ser a sua vez inesperadamente.

Para que possa ser uma surpresa, quem ilumina não poderá seguir uma ordem e nem ficar sempre o mesmo tempo com a luz em cada uma das duplas. É possível que em algum momento a iluminação dure um minuto e em outro seja somente de 20 segundos.

A imagem deste post está disponível no site Luz, Tecnologia e Arte, onde você poderá conhecer muito sobre o tema da iluminação. Acesse aqui.

Caretas na sombra

Para quem?

Qualquer pessoa com mais de 3 anos

Condições necessárias:

Uma sala escura

Materiais necessários:

Lanternas (podem ser de celular)

Foto de Engin Akyurt no Pexels

Como acontece?

Esta proposta busca explorar as possibilidades de criar sombras com caretas.

Para que as caretas possam ser vistas na sombra, precisamos explorar a lateral do rosto, de tal maneira que as mudanças de expressão que fizermos possam ser vistas na sombra.

Em um primeiro momento, explore as mudanças de distância que estamos do foco de luz e observe como a sombra se altera.

Depois disso vamos experimentar como movimentar o rosto com expressões, observando quais modificam a sombra.

A terceira parte desta brincadeira acontece com o uso de objetos que possam deformar nosso  rosto, fazendo com que nosso nariz cresça, nossa boca aumente ou fique pontuda, nossa testa ou nosso queixo sejam protuberantes ou qualquer outra coisa que você inventar.

Você pode assistir ao vídeo “Quantas caras a tua cara tem?” para se aquecer para a proposta com as lanternas.

Teatro de sombras

Acredita-se que o teatro de sombras surgiu ainda quando os seres humanos viviam nas cavernas, com suas sombras projetadas pelo fogo que os aquecia. Possivelmente uma das primeiras formas teatrais, a sombra nos acompanha permanentemente, sempre que uma luz incide nos nossos corpos.

Brincar com as sombras é algo permanente no cotidiano de muita gente, esteja ou não fazendo teatro. A exploração da própria sombra permite que qualquer pessoa conheça mais sobre seu corpo. Esta experimentação faz com que ela explore diferentes movimentos e gestos corporais, muitas vezes ampliando seu repertório de possibilidades, por estar “escondido” pela sombra, o que é um recurso positivo para quem que tem muita vergonha em expor seu corpo perante o grupo.

As formas teatrais se modificaram muito no decorrer do tempo e da história do teatro, do uso de bonecos recortados, com varetas de manipulação, temos hoje diferentes soluções de projeção dos corpos e de transparências que possibilitam narrativas diversas.

Seja qual for a solução a ser utilizada, a sombra nos coloca diante do mistério e incluir o mistério em nossas criações é algo necessário para sabermos que o desconhecido faz sempre parte do criativo.

Para conhecer mais sobre esta linguagem, você pode acessar o Clube da Sombra neste link ou conhecer o Grupo Fios de Sombra.

Mary e os Monstros Marinhos

Uma mesa e duas cadeiras. Com este cenário percorremos a história de Mary Anning. A iluminação nos conduz, junto com todas as transformações do uso destes objetos de cena pelos diferentes espaços que a peça nos coloca.

As três atrizes se transformam nos diferentes personagens e nos falam das pesquisas e descobertas feitas por Mary, de sua família, e da dificuldade vivida para que pudesse se afirmar como cientista em um mundo no qual as mulheres não tinham permissão de ser nada, além de donas de casa.

Foto Maria Tuca Fanchin

A morte, uma personagem apresentada de maneira bem humorada, tomando chás em cada pessoa que se vai, é figura presente, excessivamente presente para uma mesma família, mas que se mostra como quase uma amiga.

As cenas são poéticas e o final é de uma beleza surpreendente. No decorrer de toda a peça vemos a paixão de Mary e a montagem teatral faz jus a esta paixão pela maneira como apresenta o encantamento da personagem, mas também os objetos de sua paixão, os monstros marinhos da época dos dinossauros.

Foto Camila Picolo

O espetáculo tem dramaturgia original construída a quatro mãos – da diretora Rhena de Faria e das atrizes e integrantes da Companhia Delas Cecília Magalhães, Julia Ianina e Thaís Medeiros. A direção de arte é de Mira Haar, a iluminação de Wagner Freire e a trilha sonora original de Artur Decloedt. A equipe conta ainda com a consultoria do Prof. Dr. Luiz Eduardo Anelli, do Instituto de Geociências da USP.

Não há dúvida de que é um espetáculo que poderá inspirar muitos meninos e meninas a percorrerem suas curiosidades!

Foto Camila Picolo

Eu assisti na programação do “Festival A gente que fez” que você poderá acompanhar até o final de março. Para conhecer mais sobre o grupo e seus vários trabalhos, acesse o site da companhia aqui.

Maquiagem teatral para crianças

Criança deve usar maquiagem?

Esta resposta não é simples, afinal crianças tem muitas idades e são diferentes entre si, assim como os adultos.

É muito importante ter em mente que a maioria das maquiagens são feitas com produtos químicos que podem ser danosos para a pele e para a saúde de crianças e quanto menores, pior o efeito.

Então a primeira resposta para esta pergunta é, só devem usar alguma maquiagem as crianças que tem certeza de não ter nenhuma reação alérgica.

Outro aspecto a ser considerado é a razão pela qual a maquiagem poderá ser utilizada.

Neste caso, vou elencar três possibilidades:

A primeira é a maquiagem como função embelezadora, bastante usada por mulheres adultas. Neste caso, entendo ser desnecessário o uso da maquiagem, já que é improvável que uma criança precise disfarçar uma ruga ou uma pela machucada pelo tempo. Outro motivo para o não uso com esta função é o fato de não adultizarmos as crianças. Crianças não precisam ter cílios alongados ou um blush para ficar rosadas. Quase sempre elas são rosadas! E não há motivo para utilizarmos maquiagens que deixem seus rostos parecidos com o de adultos.

A segunda função é de transformação em personagens, isto é, maquiagens que busquem modificar o rosto para parecer alguém diferente da criança, como um animal, uma pessoa velha, um elemento da natureza, como uma árvore ou uma pedra. A maquiagem neste caso pode ser um grande aliado na criação de personagens e poderá ajudar a criança em uma encenação.

A terceira função é de exploração do próprio rosto, possivelmente utilizado em jogos exploratórios, quando a criança pode perceber como a intervenção de uma maquiagem pode transformar o rosto e as expressões feitas. Este trabalho com a maquiagem pode ser usado na construção de um personagem ou apenas como um exercício cênico.

A maquiagem é um recurso que oferece muitas possibilidades e vale a pena ser explorado. Para as peles mais sensíveis e os bebês, uma opção é o uso de tintas feitas com alimentos, pois estas são menos agressivas e permitem a exploração pelos pequenos que costumam levar tudo à boca.

A vida de William Shakespeare

A peça que vou comentar hoje é da Cia. Vagalum Tum Tum e eu assisti no Festival “A gente que fez”, que é um festival onde crianças prepararam o festival para crianças. Vale muito a pena acompanhar a programação do festival, mas isto é assunto para outro post!

Imagem retirada de @catarsisproducoes

Podemos conhecer um pouco da história da companhia no seu site e peguei um trecho desta história para colocar aqui: “A Cia. Vagalum Tum Tum foi fundada em 2001 por Ângelo Brandini e Christiane Galvan, com a proposta de pesquisar as técnicas do palhaço inseridas no cotidiano contemporâneo e o olhar deste arquétipo para adaptar as histórias de William Shakespeare para crianças e jovens. Nestes 19 anos de história desenvolvemos uma linguagem própria e original construída através da diversidade de conhecimento de cada profissional que trabalha conosco, vindos do teatro, do circo, da música e a condução artística do trabalho feita pelo diretor e dramaturgo Angelo Brandini, que tem ampla formação nas áreas citadas.”

“A Vida de William Shakespeare” é uma série, algo que podemos chamar de teatro nesta pandemia na qual não podemos estar no mesmo espaço físico que atores e demais pessoas da plateia, mas podemos estar no mesmo espaço virtual.

Nesta apresentação o que mais fazemos é nos divertir! A forma pela qual a vida do Wil, apelido dado ao famoso Shakespeare, é contada, diverte e informa. Não importa que você já saiba tudo sobre esta pessoa que viveu há tanto tempo e que escreveu tantas peças famosas, porque o bom mesmo é ver as caras e caretas feitas pela Christiane Galvan para explicar o que acontece nesta longa história.

A leveza com que o grupo se remete às tragédias, os recursos lúdicos utilizados demonstram que é um grupo que sabe quem são as crianças, respeitando suas características e sua inteligência.

Assistir online e poder conversar com a dupla de atores, junto com uma plateia cheia de crianças equilibrou a ausência do calor do teatro cheio, me diverti muito com a apresentação e com os comentários depois. Quer ver, hoje você ainda consegue, mas corre!!! Para informações e acesso sobre o festival, acesse aqui.

Caso você não tenha visto no festival, poderá acompanhar os episódios, será lançado um por semana, toda quinta as 19h! A estréia será no dia 18/03, no youtube da Cia. Vagalum Tum Tum.

A maquiagem na cena

A maquiagem é um dos elementos da cena teatral menos considerado e pode fazer uma mudança muito grande na criação de um personagem.

Estamos acostumadas a fazer maquiagem em situações cotidianas, principalmente as mulheres e esta maquiagem tem uma função muito diferente da maquiagem teatral, já que, de maneira geral, a maquiagem utilizada cotidianamente tem a função de corrigir defeitos da pele e ressaltar características, sempre buscando a beleza. Ainda que os padrões de beleza possam variar no tempo e no espaço, a função da maquiagem cotidiana permanece esta, responder a um padrão estético.

Foto de Laura Garcia no Pexels

A maquiagem teatral busca algo muito diferente disso, já que o que se pretende com a maquiagem é a criação do personagem, a definição de suas características e uma melhor composição de sua apresentação.

A maquiagem é uma forte aliada no trabalho do ator/atriz para que estes possam entender melhor as possibilidades de sua atuação.

Uma forma de entender este conceito é pensar em situações nas quais você faz uma maquiagem especial e se sente melhor preparada para ir a um evento, uma festa ou um baile de carnaval. Para os homens que não usam maquiagem, é possível que fazer a barba ou arrumar o cabelo deem esta mesma sensação.

Mas como usar a maquiagem no trabalho com crianças? Esta resposta você vai receber no próximo post!

O Jogo do Cenário

Para quem?

Pessoas com mais de 5 anos.

Condições necessárias:

Uma sala que permita movimento.

Materiais necessários:

Cubos grandes ou cadeiras ou caixas ou tecidos.

Como acontece?

Este jogo se propõe a criar cenários com objetos que possam configurar o espaço de diferentes maneiras. Estes objetos podem ser cubos de madeira, que suportem o peso dos alunos, ou caixas ou cadeiras.

Caso esta proposta seja feita com crianças pequenas, o objeto a ser manipulado deverá ser em um formato ou peso que a criança possa carregar, sem se machucar. Neste caso será melhor o uso de caixas vazias ou tecidos.

Defina uma sequencia de cenas que aconteçam em diferentes espaços, pode ser por exemplo:

  • A personagem está em seu quarto lendo;
  • Sai de casa e fica no portão procurando seu irmão que não respondeu;
  • Anda por uma avenida muito movimentada procurando-o;
  • Chega a uma praça tranquila onde ele está jogando bolinha de gude com três amigos.

Estabelecida a sequencia de cenas, peça para o grupo de alunos criar estes espaços com os objetos disponíveis, se forem os cubos, eles se movimentarão para transformar o lugar da cena, o mesmo acontecerá para as cadeiras, caixas ou tecidos.

Veja estas três fotos e os diferentes significados que os cubos ganharam, na primeira imagem os cubos formaram uma ponte de cristal, na segunda um nicho e na terceira o parapeito de uma janela:

        

Esta proposta busca a compreensão de como podemos criar cenários com a utilização variada de um mesmo objeto.

É importante ressaltar que esta concepção de cenário não busca uma criação realista, mas sim uma compreensão de que os objetos podem ganhar significados distintos conforme sua disposição.

Para saber mais

Procure observar cenários de diferentes montagens e ter inspiração sobre diferentes maneiras de utilizar os objetos. Você poderá ler mais sobre o papel do cenário nos dois posts aqui neste blog: Qual o papel do cenário e Mudando o cenário.

Também vale a pena conhecer o trabalho de importantes cenógrafos brasileiros, como JR Serroni, Gianni Ratto ou Daniela Thomas, dentre muitos outros.