Mudar cenários

A mudança de um cenário no meio de uma montagem pode ser um problema grande para ser resolvido, pois se não temos um palco giratório que usa do intervalo para trazer para diante do público um novo cenário, certamente esta mudança pode ser algo bem cansativo.

Não conheço nenhum espaço educativo que tenha um palco giratório. São poucos os teatros no mundo que possuem palcos giratórios, com a opção de mais de um cenário! Mas esta imagem abaixo é de um pequeno palco giratório, em uma apresentação da Companhia Le Plat du Jour.

Dificilmente precisaremos de uma condição tão complexa como esta para alterar um cenário de uma peça, portanto vamos pensar nos diferentes tipos de cenário e como estas modificações podem ser feitas.

O que é necessário ter como princípio é que tudo o que é feito de forma a interromper a cena, faz com que a apresentação se torne mais cansativa, portanto, o melhor é que a mudança de cenário seja feita pelos próprios atores e atrizes que poderão levar e trazer objetos ou mobiliários como parte da própria cena.

Evidentemente se a tua opção é um cenário realista, cheio de detalhe, o ideal é que você divida o palco em dois e cada cenário fique permanentemente montado, fazendo uso da iluminação para a mudança da cena.

Cenários feitos com painéis

No caso de cenários nos quais apenas um painel situa o local da cena, na ausência de um sistema de roldanas que troque um painel por outro, o painel pode ser trocado pro pessoas de apoio ou pelos próprios atores. E no formato de biombo, como desta apresentação da Cia Le Plat du Jour, o cenário pode ser montado e desmontado em qualquer espaço.

Cenários com objetos de múltiplos significados

Se você tiver um cenário feito de cubos ou de objetos que podem ganhar diferentes significados, como uma mesa, os atores podem alterar a disposição dos móveis ou alterar algum objeto que simbolize a mudança de cenário, por exemplo:

  • No caso de cubos, eles podem ser empilhados de forma a criarem um muro em cena ou dispostos de forma horizontal para se transformarem em cama ou mesa.
  • Uma mesa poderá ser a mesa de um escritório com um computador sobre ela e de uma casa, com um vaso de flor ou uma fruteira.

São muitas as maneiras de transformar o palco e adequar os cenários, mas em todas elas é necessário ter clareza de que o cenário existe para compor a cena e que a peça não poderá ser interrompida a todo momento para a modificação do cenário.

História com os pés

A brincadeira de hoje começa com uma massagem nos pés, amassando cada cantinho, sentindo todos os dedos e todos os ossos. Você já reparou como os pés são ossudos?

Depois de deixar os pés bem preparados para se movimentarem e entrarem em cena, você irá coloca-los para o alto, de tal forma que eles possam se movimentar com total liberdade, sem nenhuma preocupação em terem que carregar todo o resto do teu corpo.

Foto de Valeria Boltneva no Pexels

Coloque uma música e faça teus pés dançarem. Com eles lá para cima, descubra quais os movimentos que eles podem fazer. Eles podem dançar sozinhos ou acompanhados, um com o outro.

Quando você já tiver descoberto muitos movimentos dos teus pés juntos e acompanhados, você irá criar um personagem para cada pé. Talvez um deles seja um gato e o outro um cachorro! Pode ser que eles sejam dois gatos, bem amigões um do outro. Talvez teus pés não queiram ser animais, mas sim pessoas ou mesmo objetos.

Depois que você tiver escolhido quais os personagens dos teus pés, é hora de arrumar o figurino que será a melhor maneira de compor teu personagem de pé!

Com os personagens completos, é hora de começar a cena. Claro que você poderá experimentar várias ações diferentes para criar qual a cena mais gostosa de fazer. Você pode variar: de vez em quando começar a cena e descobrir o que acontece nela e outras vezes, inventar tudo só no pensamento e depois representar com teus pés.

Os pés poderão representar em muitos lugares, não só lá no alto, balançando. Eles podem estar apoiados nas paredes, em um banquinho, dentro de uma caixa e até mesmo no chão!!!

Divirta-se com teus pés, eles ficarão contentes de terem tanta atenção só para si!

É tudo família!

Assisti ao espetáculo “É tudo família!” na versão online e foi uma grande surpresa perceber como pude me emocionar apesar da distância física com a qual estou acostumada.

Não entrar em um teatro, nem em qualquer espaço destinado à encenação, mas continuar na minha casa, vendo do meu sofá a representação que ocorreu dos diferentes espaços onde estavam cada um dos atores.

As cenas começaram, com os personagens entrando e saindo da tela, algumas vezes com os quatro atores na mesma cena, algumas vezes com apenas um deles.

Os recursos utilizados, nos quais pudemos ver as caras que se aproximavam, com uma intimidade inusitada em rostos que se agigantavam conforme iam e vinham para perto da câmera, permitindo ver dentro da boca, foram ajustes muito bons para um espetáculo que começou presencial e virou online.

O que ficou evidente é que o formato não alterou a concepção e a possibilidade de que eu vivesse questionamentos ou emoções sobre o que é ser família.

E o que é ser família?

O texto adaptado por Tábata Makowski foi ganhador do prêmio APCA de melhor espetáculo infanto-juvenil de texto adaptado em 2018. Prêmio merecido! Nos diálogos estabelecidos vamos acompanhando os conflitos que crianças, adolescentes e adultos vivem para que as muitas versões de família possam ter seu espaço respeitado e garantido.

Mas a beleza do espetáculo não está somente no posicionamento político-social que ele faz, mas na capacidade de trazer a humanidade e as emoções vividas por todos nós na diversidade de famílias que vivemos.

O espetáculo é de Tábata Makowski, com direção de Kiko Marques, com Aline Volpi, Marcelo Peroni, Ana Paula Castro e Vladimir Camargo.

Em breve nova data para assistir online!

Desafio “Todos em cena” – Carta de um personagem

Será que existe algum personagem de quem você goste muito?

Talvez seja uma personagem de um livro ou de alguma história que te contaram, pode ser que seja uma personagem de um filme ou de um desenho animado.

Quando eu era criança eu adorava uma personagem de um desenho chamado “Corrida Maluca”.

A proposta de hoje é que você escreva uma carta contando para alguém quem você é, mas você não vai falar sobre você mesmo, mas sim sobre a personagem que você criar.

Imagem disponível em https://sol.sapo.pt/

Você pode escrever esta carta para alguém de verdade, como um amigo, tua avó, uma prima ou teu vizinho. Mas também pode escrever esta carta para outro personagem, por exemplo:

  • Uma carta do coelho desesperado para o rato desaparecido.
  • Uma carta da menina de tranças para o tio navegador.
  • Uma carta do príncipe do gelo para a princesa do fogo.

Nesta carta você vai contar sobre como esta personagem vive, o que gosta, que roupas usa, o que come e quaisquer outras coisas que vier na tua cabeça para inventar.

Depois de inventar tudo escrevendo, você poderá criar este personagem com o corpo, usando um figurino para ele ou ela e fazendo as coisas que ele faria!

Ah! Se você não sabe escrever muito bem, faz uma carta com desenhos que contem sobre esta personagem.

Desafio “Todos em cena” – Dentro de um barco

A brincadeira de hoje é de ser um navegador, um pescador, um pirata ou um barqueiro!

O que importa mesmo é que você esteja dentro de um barco.

A primeira coisa a fazer é definir qual o tipo de barco que você quer estar. Pode ser uma canoa, uma lancha, um iate ou um barco antigo, destes da época em que os portugueses navegaram até o Brasil.

Foto de Xochimilco, no México.

Seja o barco que for, você irá entrar dentro dele e já para entrar começa nossa brincadeira!

Espreguice teu corpo, movimente tuas articulações e se prepare para o mar!

Lembre-se que o barco está em permanente movimento, afinal, ele mesmo quando está ancorado, está sobre a água em movimento.

Entre no barco e comece a navegar.

Foto disponível em https://super.abril.com.br/

Você vai se movimentar conforme o barco que escolheu e vai se deslocar pelo mar, indo das areias de uma praia ou de um porto, até uma ilha deserta. No meio do caminho você terá ondas muito grandes para enfrentar, além de possíveis animais marinhos que poderão provocar movimentos indesejados no teu barco.

Nem só de medo é feita esta travessia! Talvez você encontre golfinhos saltitantes ou belas tartarugas marinhas. Um cardume de peixes também é algo encantador de se ver, não é?

Pode colocar teu chapéu de marinheiro e cuidado para não enjoar, porque o barco é imaginário, mas os teus movimentos serão reais.

Fantasia ou figurino?

Carnaval chegando e muita gente escolhendo a fantasia! E qual a diferença de fantasia para figurino? Por que no teatro falamos em figurino e quando vamos para o carnaval ou a uma festa chamamos de festa a fantasia?

Se você parar para pensar nos bailes de carnaval ou nos blocos na rua, em quais fantasias pensará?

Possivelmente virá à tua cabeça uma fantasia de pirata, de colombina, de odalisca, de médico ou muitas outras não tão tradicionais, como as dos personagens famosos de quadrinhos ou filmes, como Homem-Aranha, Batman, Mulher-maravilha. É possível que vejamos nas ruas fantasias sobre personagens do momento, no ano passado uma das mais concorridas foi a usada na série “A casa de papel”.

O que podemos observar nas fantasias que se diferenciam de um figurino é o fato de que elas buscam representar, muitas vezes da forma mais parecida possível, um personagem que é um tipo, que traz estereótipos relacionados, que não se caracteriza por suas particularidades, mas que se apresenta de forma generalizada.

Se utilizamos o pirata como exemplo, podemos imaginar que será alguém com um chapéu característico, possivelmente com um tapa-olho, com camisa branca e calça preta, também pode ser vermelha, provavelmente com um colete. E, ainda que no carnaval isto não se confirme, com cara de mau!

Nos personagens teatrais temos alguns piratas famosos, como o do Peter Pan, que embora mantenha boa parte das características estereotipadas de um pirata, tem também as suas especificidades e poderá ser reconhecido como tal, mesmo que não esteja com um figurino igual ao dos piratas estereotipados.

Foto de Denys Flores, disponível em cialeplatdujour.com

A construção de um figurino ocorre junto com toda a construção de um personagem, ou ao menos assim deveria ser. Mesmo que o figurino seja elaborado por um figurinista, sem a colaboração do ator ou atriz que representa a personagem, este figurinista deverá estar a par da concepção do espetáculo, para que a roupa utilizada colabore na composição feita por quem a representa.

A fantasia dispensa tanta elaboração, nos vestimos com uma roupa que já traz em si as características estereotipadas deste personagem e pode ser a mesma fantasia para um grupo de pessoas, que não há nenhum problema nisto, muito pelo contrário, quase sempre é diversão garantida.

E como o carnaval já está para começar, escolha tua fantasia e divirta-se!

Imagens das fantasias disponíveis em modafantasia.com

Sons e sensações

Para quem?

Todas as idades.

Condições necessárias:

Uma sala que permita movimento.

Materiais necessários:

Um aparelho de som.

 

Imagem disponível em https://www.clausvonoertzen.com/works/

Como acontece?

Inicie esta proposta com todos os participantes deitados de forma relaxada. Informe que colocará diferentes sons e que eles devem imaginar uma cena para cada som colocado. É importante que sejam escolhidas músicas diferentes e também sons variados, como do fundo do mar ou de uma britadeira furando o chão. Depois deste momento de escuta imaginativa, faça uma roda e peça que compartilhem as imagens provocadas pelos sons. Esta conversa é muito interessante para que o grupo possa perceber que os estímulos sonoros não causam as mesmas imagens mentais, nem as mesmas sensações.

Depois desta primeira proposta, forme grupos e dê uma mesma orientação para uma cena improvisada, que pode ser cotidiana ou fantástica, o que importa é a possibilidade de perceberem a maneira pela qual o som interfere na cena.

Alguns exemplos de cenas possíveis são: um jantar em família, uma viagem em um foguete, uma caminhada na floresta, uma reunião de trabalho etc.

Cada grupo irá definir quem é quem na cena e algumas referências espaciais. Lembre-se que será a mesma cena para todos, o que vai mudar é o som que será tocado em cada uma delas.

Depois de feitas todas as improvisações, converse novamente com todos questionando quais as interferências decorrentes do som.

Para continuar

Uma possibilidade de desdobramento desta proposta é de que seja dado um sentimento predominante para a cena e cada grupo escolha a música ou o som que será utilizado para auxiliar na composição da cena e na caracterização do sentimento proposto.

Moinho sem vento

A motivação de postar esta peça veio dos dois posts anteriores, nos quais falo sobre o silêncio na cena.

Esta peça foi escrita por mim em 1998, quando eu morava em Barcelona e pesquisava as possíveis relações do uso da proposta de Rudolf Laban no preparo do ator para a cena.

Rudolf Laban foi um teórico da dança e do movimento, e em suas pesquisas definiu quatro fatores de movimento: tempo, espaço, fluência e peso/força. A combinação destes fatores geram diferentes qualidades de movimento, chamadas por ele de dinâmicas de movimento. São oito as dinâmicas possíveis: bater, cortar, pulsar, sacudir, pressionar, torcer, deslizar e flutuar.

A explicação sobre este estudo seria longa, mas os nomes das ações são autoexplicativos, sendo possível compreender qual o movimento utilizado.

Realizo esta pequena introdução sobre o estudo de Laban pois nesta peça fiz uso desta nomenclatura para definir as diferentes qualidades de movimento.

Nesta leitura é possível perceber um texto teatral que propõe a cena e a movimentação dos atores sem que haja nenhuma fala. Espero que você faça esta leitura e consiga imaginar a cena, pensando em diferentes soluções teatrais para uma possível montagem deste texto dramatúrgico.

Foto disponível em https://pixabay.com/pt

 

 MOINHO SEM VENTO

Obra gestual em um ato

Personagens:

Carlos

Luiza

Coro de oito mulheres

 

A peça se passa em 1998, Carlos tem 33 anos e Luiza, 35.

 Um quarto que contém uma cama de casal, uma cadeira e uma mesa. A cama é colocada no fundo do palco, mas deixando espaço para que os atores se movimentem por trás. A mesa é colocada na parede esquerda, em frente, e a cadeira na parede direita. A porta da quarto fica ao lado da cadeira. Um coro de mulheres de costas, todas estão penduradas no teto por suas barrigas de mulheres grávidas.

 CARLOS: Com um papel em sua mão direita, anda da cadeira para a mesa, com passo direto, rápido e forte. A cada cinco passos, para, dobra o papel que tem nas mãos quase rasgando, olha na direção da porta e retorna a andar.

CORO: (de costas) Não queira protegê-la, Carlos, não tente.

LUIZA: Aparece de pé na porta, que está ao lado da cadeira.

Todo o CORO gira de tal maneira que se vê a barriga de todas as mulheres.

CORO: Passa a mão direita sobre a barriga, desenhando a redondeza de sua gravidez com movimentos de flutuar e se abraça, olhando sua barriga, com um movimento de pulsar, tornando a flutuar, duas vezes seguidas. Para de movimentar e mantém as mãos na barriga, olhando para Luiza.

LUIZA: Entra no quarto, para depois de dar dois passos, passa a mão em sua barriga com o mesmo movimento do coro e estende as mãos na direção de Carlos.

CARLOS: Dá um giro, ficando de costas para Luiza, apoia as duas mãos na mesa e vai lentamente apoiando os cotovelos, o peito, até se ajoelhar. Repete este mesmo movimento cada vez com mais velocidade.

LUIZA: (enquanto Carlos se ajoelha) Corre por todo o quarto, saltando a cadeira e por cima da cama, com movimentos rápidos e leves. Suas duas mãos sobem pela barriga, giram (como um moinho) desde o mais próximo de seu corpo até o mais distante, para depois se abrir e voltar para a barriga.

LUIZA: Para diante de Carlos, gira-o para si, pega suas mãos e as coloca sobre sua barriga.

CARLOS: Tira as mãos, com movimento forte e rápido.

LUIZA: Afasta seu corpo o máximo possível de Carlos, sem dar nenhum passo e para congelada com as mãos sobre a barriga.

CARLOS: Passa as mãos sobre a barriga de Luiza, com movimentos de pressionar, de cima para baixo.

CORO: Faz movimentos de proteção ao seu corpo, intercalados com movimentos de afastar qualquer pessoa que se aproxime, olhando para o lado, com medo.

LUIZA: Dá quatro passos para trás e abraça com força a própria barriga.

CARLOS: Caminha lentamente em direção à Luiza e passa novamente as mãos sobre sua barriga.

LUIZA: Dá dois passos para trás, abraçando sua barriga, com menos força.

CARLOS: Caminha lentamente em direção à Luiza e passa novamente as mãos sobre sua barriga, com mais força.

LUIZA: Dá um passo para trás e abraça sua barriga sem força alguma.

CARLOS: Caminha lentamente em direção à Luiza e passa novamente as mãos sobre sua barriga, com mais força.

LUIZA: Deixa de caminhar, continua abraçada a sua barriga.

CARLOS: Repete incessantemente, cada vez com mais força, o movimento de passar as mãos “limpando” sua barriga.

LUIZA: Vai lentamente, mudando o abraço na barriga para os seios, até chegar na cabeça, em um abraço que cobre seus olhos.

CORO: Congela o movimento com os braços deixados ao lado do corpo e as pernas soltas. O rosto e todo o corpo não demonstram nenhuma força muscular, somente a suficiente para manter-se ereta.

CARLOS: Pega Luiza pelas mãos, levando-a em direção à porta.

LUIZA: Senta-se na cadeira com movimento direto, pesado e lento.

CARLOS: Retira Luiza da cadeira, empurrando-a pelas costas com movimentos diretos e delicados.

LUIZA: Caminha pesadamente em direção à cama, onde se deita, deixando-se cair (saco).

CARLOS: Tira Luiza da cama, puxando-a pelos braços e a empurra pelo quarto, mantendo uma mão em sua cabeça e a outra no final da coluna.

LUIZA: Se deixa conduzir mantendo as duas mãos tapando a própria boca.

LUIZA e CARLOS: Caminham lentamente pela quarto, cruzando-o inteiro, até sair pela porta. Enquanto caminham, Carlos vai se colocando ao lado de Luiza, a abraça com o braço que estava em suas costas e tapa sua boca com a outra mão, Luiza permanece com as duas mãos na boca.

Saem do quarto.

CORO: Baixa em direção ao chão, com a barriga desfeita. Mantém-se preso ao teto pela barriga, mas não é mais uma barriga de grávida. Em toda a decida mantém o corpo em estado de absoluta tensão e no rosto expressão de medo. Ao tocar os pés no chão, a expressão do rosto se altera para de tristeza e o corpo perde a tensão.

LUIZA e CARLOS: Entram no quarto.

LUIZA: Olha para Carlos e corre para a esquina do quarto mais distante, onde se coloca de costas, com os braços estendidos para trás.

CARLOS: Caminha em direção à Luiza e toca suas mãos.

LUIZA: Gira, olha Carlos e faz o mesmo que antes.

CARLOS: Repete a ação anterior.

LUIZA e CARLOS: Repetem cada vez com mais velocidade esta mesma ação, até que ambos caem no chão.

LUIZA: Levanta-se, pega um dos travesseiros da cama e sai do quarto.

CORO: Solta-se do tecido “barriga” que lhe prende ao teto e sai do quarto caminhando.

CARLOS: Levanta-se do chão com pequenos movimentos de sacudir, que transformam seu caminhar em um avançar cada vez mais desfeito, até chegar ao primeiro tecido pendurado, puxando-o.

CARLOS: Avança para o próximo tecido com movimentos de torcer que vai se intensificando na força e ampliando por todo seu corpo, até puxar o último tecido. Conforme puxa os tecidos, lentamente vai se atando com eles. Começa pelos braços, seguido das pernas e da cabeça. Depois de puxar o último tecido, se coloca em posição fetal.

O silêncio no corpo

Para quem?

Adolescentes e adultos.

Condições necessárias:

Uma sala que permita movimento.

Materiais necessários:

Nenhum.

 

“O Grito” de Edvard Munch, disponível em http://enciclopedia.itaucultural.org.brComo acontece?

Esta proposta parte do jogo “Tensão silenciosa”, de Viola Spolin.

Inicie solicitando que todos fiquem parados em pé, sem poder se movimentar, nem falar. Vá orientando que gritem com todas as partes do corpo, que gritem com os pés, as pernas etc., até que possam gritar com a voz. Prepare-se para ouvir um grito forte, pois esta proposta acumula muita tensão até que os participantes possam de fato gritar.

Depois desse momento, peça que fiquem em duplas e expressem diferentes emoções sem falar nada, somente pelos gestos e expressões.

Conclua com a realização de cenas improvisadas nas quais cada grupo terá que definir uma cena em que tenham que atuar sem falar. O motivo da ausência da fala poderá variar, pode ser provocada por uma situação externa, como terem que fazer silêncio para não serem descobertos por ladrões em sua casa ou uma motivação interna, como um sentimento que impeça a fala.

O silêncio na cena

Ao pensarmos em uma cena teatral é comum imaginarmos que será permeada pela fala dos personagens, é possível que também nos venha à mente a possibilidade de momentos nos quais a música predomine, mas é pouco comum no nosso imaginário situações nas quais o silêncio tome conta da cena.

Obra de Oswaldo Goeldi, disponível em https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/04/110412_goeldi_exposicao_londres_fn.shtml

O silêncio é algo pouco frequente não apenas no teatro. No nosso cotidiano somos rodeados de sons e para algumas pessoas o silêncio causa incomodo. Existe até uma frase popular que diz: “Este silêncio ensurdecedor!”. Evidentemente esta frase se refere a dificuldade de estar em uma situação de silêncio, que pode causar um desconforto por inúmeras razões.

Imaginemos uma situação hipotética na qual alguém espera a resposta sobre uma possível doença, ou o momento que antecede a confirmação de que um ente querido está na lista de um acidente fatal. Podemos pensar também em situações menos trágicas, porém intensas, como uma pessoa apaixonada que aguarda a resposta sobre o pedido de casamento, ou um filho que espera a permissão de sua mãe para ir ou não a uma viagem com amigos.

Nestas situações, o silêncio é nosso cúmplice para gerar tensão e expectativa, elementos que fazem parte de muitas cenas teatrais.

O silêncio também poderá ser utilizado como forma de deixar um sentimento ressoando. Há momentos nos quais a fala não consegue exprimir esse eco interior e fazer uso do silêncio é um ótimo recurso teatral para gerar esse efeito.

É importante ressaltarmos que o silêncio sonoro não significa necessariamente a ausência de gestos e de expressões. Muitas ações dramáticas podem ganhar sentido e destaque em uma cena silenciosa. Vale a pena experimentar!