Escombros

A secura e a poeira fazem com que a sensação de estar no meio de escombros se mantenha todo o tempo.

Não há nenhum aspecto desta montagem que seja pouco significativo: o cenário é lindo e feito de forma a tornar esta peça possível. Nos vemos no meio desta cena junto com os atores, com a poeira e a terra sujando nossos corpos, com objetos que são recolhidos e por vezes dão intensidade inesperada, como a cena da porta que divide os dois personagens.

Um figurino de tons e detalhes que mostram a presença das histórias, roupas que trazem narrativas.

Os recortes, pausas e intensidade provocados pela luz e pela sonoplastia terminam de compor os elementos da cena que o grupo Sobrevento se propõe a apresentar de forma online.

Fiquei com vontade de ver de perto, de sentir o cheiro e o pó no meu corpo, de escutar a respiração dos atores, mas na impossibilidade da vida de pertinho, a opção do online permite diferentes emoções e reflexões.

Eu nunca vivi uma cidade em guerra e até hoje, viver a pandemia foi a experiência mais próxima do que meu imaginário sobre a guerra me permite saber.

Nunca, antes desta pandemia, vivi tantos escombros coletivamente. Acompanhei desastres pontuais e localizados, que são sempre tristíssimos, mas esta sensação de esfacelamento que temos vivido, buscando sempre qual é o objeto que permanece inteiro, buscando maneira de permanecermos inteiros nesta condição de expectativa para quando terá terminado estes muitos desmoronamentos que estamos vivendo, decorrente do vírus e das opções políticas de nosso país.

Com Sandra Vargas, Luiz André Cherubini, Liana Yuri, Sueli Andrade, Daniel Viana, Mauricio Santana, Agnaldo Souza, Marcelo Amaral

Direção de Luiz André Cherubini e Sandra Vargas

Dramaturgia de Sandra Vargas

Figurinos de João Pimenta

Cenografia de Dalmir Rogério e Luiz André Cherubini

Música de Arrigo Barnabe, Geraldo Roca e Rodrigo Sater, na voz de Marcio De Camillo II

Iluminação de Renato Machado

Foto: Marco Aurelio Olimpio

Programação Visual: Marcos Magalhães Corrêa

 

Cenários criados pelos alunos

A criação de cenários pode ser compreendida como parte do processo de aprendizagem sobre o que é fazer teatro, além de ser um importante recurso de apreensão da cena a ser apresentada.

Maquete da última montagem da peça “A Revolta dos Brinquedos”, com texto e cenografia de Pernambuco de Oliveira

Quando imaginamos uma cena teatral, quase sempre imaginamos que ela aconteça em um determinado local e conversar sobre o que cada um imaginou e como este cenário pode ser feito é uma ótima maneira de que os alunos compreendam o papel do cenário na cena.

Para a criação de cenário pelos alunos é possível partir de diferentes abordagens:

  • Os espaços das cenas
  • Os materiais disponíveis
  • Os espaços das apresentações
  • O imaginário de cada aluno

Para pensarmos sobre os espaços das cenas é importante refletir sobre as dificuldades de mudança do cenário. Para isso você pode ler este outro post no qual eu falo sobre como mudar cenários.

Partir sobre os materiais disponíveis é uma maneira interessante de que os alunos possam pensar em como um determinado material poderá se transformar nos elementos do cenário que a peça pede.

             

Conforme o lugar onde será feita a apresentação, pode-se aproveitar os diferentes espaços dele. Por exemplo, caso a apresentação seja feita dentro da escola, será possível utilizar várias salas, um corredor, o pátio ou demais espaços existentes e fazer uma cena mutante, com a plateia se locomovendo. Caso seja feita em um teatro, também podem ser utilizados diferentes espaços, além do palco: as cadeiras da plateia, o corredor, a entrada do teatro. Neste caso o público pode ficar sentado, mas a cena se movimenta.

Partir da imaginação de cada aluno significa buscar dialogar com as diferentes imagens criadas por eles para que o cenário e o espaço onde a cena irá acontecer seja decorrente desta elaboração coletiva, mas que se utilizou das imagens individuais.

São inúmeras as possibilidades de criação de cenários, mas em todas elas é importante que ele faça parte da cena, de maneira integrada aos ensaios.

 

Aquecimento

As Olimpíadas de esportes sempre nos fazem ver atletas tomando cuidado para estarem com o corpo aquecido antes de uma competição.

Para que serve se aquecer?

Qualquer pessoa, seja atleta, ator ou dançarino precisa estar com o corpo aquecido antes de entrar em cena, pois do contrário poderá sofrer alguma contusão muscular. Os músculos funcionam melhor e reagem com maior elasticidade quando estão quentes e a maneira de deixa-los quentes é pelo movimento.

Foto de Blue Bird no Pexels

Mas o aquecimento é também um momento de concentração, é um momento de preparo para o que irá acontecer.

No caso de um grupo teatral, quase sempre vivenciamos este pré-espetáculo individual e coletivamente. Individualmente acontece tanto o preparo dos músculos e das articulações, como a construção da personagem, seja pela maquiagem ou figurino. Coletivamente são criados momentos de concentração, de entrarem todos na mesma energia, o que pode acontecer por meio de uma roda, de um canto, de uma dança conjunta ou de outras soluções decorrentes da história do grupo e do que faz sentido para ela.

 

Estabelecer esta prática de aquecimento é fundamental para o trabalho desde muito antes da apresentação e professoras e professores precisam ensinar isso aos seus alunos. É um aprendizado este olhar para si e para o grupo e se preparar para o trabalho conjunto.

Foto de Anastasia Shuraeva no Pexels

Eu gosto mais de fazer isso em roda, porque é um formato no qual cada um pode perceber as suas necessidades e também as necessidades dos outros.

O que é se expressar cenicamente?

Existem muitas maneiras de nos expressarmos. A expressão é parte da nossa construção pessoal e se constrói tendo como base a cultura na qual estamos inseridos. Nos expressamos quando falamos, quando escrevemos ou com caretas e gestos.

Foto de Samer Daboul no Pexels

A expressão humana ganha contornos mais específicos quando se aprofunda em uma linguagem e para que possamos compreender melhor as linguagens da arte, classificamos em três grandes grupos – as artes cênicas, as artes visuais e a música. A literatura é também uma linguagem, que abrange todo o campo da fala e da leitura/escrita.

Cada um destes grandes grupos tem inúmeras divisões e dentro das artes cênicas temos uma primeira grande divisão que é entre o teatro e a dança.

Para entendermos porque o teatro e a dança estão juntos no guarda-chuva das artes cênicas, podemos pensar que ambos são artes da cena e que o corpo é seu principal meio de criação.

E com a frase acima eu respondo o que é se expressar cenicamente, isto é, é uma forma de expressão que se estabelece em uma cena, que poderá acontecer em muitos lugares diferentes e formatos diversos. Para que esta diversidade fique clara, pense nas diferenças entre uma cena teatral que acontece na rua com um grupo mambembe e um espetáculo de balé clássico dentro de um teatro.

Foto de Nati no Pexels

As soluções encontradas pelas duas cenas de exemplo, seja com relação aos recursos que serão utilizados, seja com relação a maneira pela qual será estabelecido o diálogo com o público mudam enormemente, mas em ambos a forma de se expressar acontece em uma cena.

O fato de o corpo ser o principal meio de comunicação tampouco significa que a maneira de utilizar o corpo será parecida, já que podemos imaginar espetáculos de dança nas quais os corpos se movimentem freneticamente e uma cena teatral na qual os personagens não saiam do mesmo lugar, mas em ambos os casos o corpo é o principal campo de expressão.

Vale lembrar que a fala faz parte do corpo!

Iluminação com lanternas

Qual o papel da iluminação teatral?

Podemos pensar em vários, mas de maneira bem simplificada, pode-se dizer que é colocar luz naquilo que importa na cena.

Foto de Vaishnav Devadas no Pexels

E quem decide o que importa na cena?

Quase sempre quem decide é a companhia ou o/a diretor/diretora. Ao menos são eles que costumam decidir o que será iluminado e junto com a pessoa responsável pela iluminação, colocarão a luz naquilo que acharem necessário.

Mas para onde se destina o olhar do público, é cada pessoa que escolhe.

E se além de escolher para onde irá seu olhar, a pessoa puder escolher também qual cena ou pedaço de cena será iluminado?

A ideia de iluminar uma peça com lanternas surge desta perspectiva, de fazer a plateia participante nas escolhas sobre o que deve ser iluminado e o que deve ficar no escuro.

 

 

Foto de S Migaj no Pexels

Claro que para isso acontecer, a plateia precisa estar próxima da cena e ter uma lanterna na mão. Para quem faz apresentações teatrais em espaços escolares ou espaços que não são teatros, pode ser uma solução interessante seja pela proximidade com a cena, permitindo uma melhor audição da mesma, seja porque muitas vezes faltam equipamentos de iluminação.

E lanterna na mão, atualmente, todo mundo tem, mesmo que seja só a do celular!

Histórias com objetos

A brincadeira de hoje é de criar histórias com objetos.

Você pode escolher diferentes objetos na tua casa, não pense na história antes de escolher, pense no objeto que você quer pegar ou simplesmente ande pela casa e escolha alguns objetos, que podem ser objetos que moram na cozinha, no banheiro, na sala ou no quarto.

Depois de escolhidos os objetos, coloque-os na tua frente e comece a inventar uma história. Você pode começar pela história e então usar os objetos para ajudar a contá-la ou pode começar pegando o objeto na mão e inventar o que dizer, tendo ele como inspiração.

Vou te dar um exemplo para ajudar. Digamos que você escolheu os seguintes objetos:

  • Escova de cabelo
  • Bule de chá
  • Óculos
  • Colher
  • Lenço azul

 

Se você quiser começar com a história, talvez ela seja assim:

“Existia um grande rio azul (então nesse momento, você já pose pegar o teu lenço e fazer com que ele se transforme no rio) que era navegado por navios grandes e altos (talvez aí o teu bule vire o navio), mas um dia uma jangada resolveu que ela também queria navegar por lá (quem sabe a escola de cabelo quer ser esta jangada)…”

A continuação da história vai depender do que você quiser inventar e se você precisar de mais objetos, ande pela casa e encontre-os.

Mas você também pode olhar bem para os objetos e decidir quem eles serão na tua história e então começar a inventar.

São muitos os objetos e as histórias que podemos criar! Vai lá e inventa as suas!!!

Para imaginar cenas

Será que você é destas professoras que sempre está imaginando uma cena teatral? Ou acha isso uma coisa dificílima de fazer?

A proposta desta aula é uma maneira de promover uma explosão de imagens e todas elas em formato de teatro!

Para quem?

Qualquer pessoa de mais de 5 anos

Condições necessárias

Uma sala com espaço para que todos se movimentem, também pode ser ao ar livre.

Materiais necessários

Aparelho de som

Como acontece?

Esta proposta terá uma ação corporal somada a um estímulo verbal, que deverá gerar a imaginação de diferentes cenas.

A primeira orientação a ser dada é que os alunos devem imaginar as cenas, como se elas estivessem acontecendo em um palco teatral, mas sem que esta condição atrapalhe sua imaginação, isto é, se começarem a imaginar em outro espaço, devem deixar a imagem fluir.

Proponha diferentes ações corporais, que sejam de simples realização, para que o foco permaneça no que será imaginado e não em conseguir realizar a ação. Alguns exemplos de ações corporais:

  • Andar pela sala
  • Sentar de pernas cruzadas
  • Deitar de barriga para baixo
  • Pular
  • Levantar os braços
  • Ficar com o corpo encolhido
Foto de Felix Mittermeier no Pexels

Enquanto estas ações são feitas, uma de cada vez, proponha um estímulo verbal, que poderá ser relativo a um sentimento, uma sensação, um fato, um lugar ou o que vier na sua imaginação. Alguns exemplos de estímulos:

  • Um frio congelante
  • Uma pessoa com muito medo sozinha
  • Um pulo de paraquedas
  • Muito calor na praia
  • Um jardim florido
  • Um encontro amoroso

Você irá propor que os alunos façam uma destas ações, junto com um estímulo, então é possível que enquanto todos estão andando o estímulo seja o de uma pessoa com muito medo sozinha.

Esta junção das ações corporais, com os estímulos verbais irá provocar o imaginário para as cenas teatrais.

Você poderá juntar a isso o uso de músicas que criem diferentes climas.

Para fazer mais?

Um desdobramento possível desta proposta é que a cada momento imaginário, sejam feitos encontros de duplas que irão contar o que cada um imaginou, um para outro, possibilitando que as imagens sejam compartilhadas e criem interferências na imaginação dos outros.

 

Édipo em Colono

Édipo é famoso por muitos motivos e você poderá saber sobre o primeiro livro da trilogia de Sófocles, chamada Trilogia Tebana, lendo este post.

Édipo em Colono é continuação de Édipo Rei e irá narrar as desventuras de Édipo depois da tragédia que faz com que morra Jocasta e ele fique cego.

Édipo vai embora de Tebas e acompanhamos seu sofrimento, assim como Antígona, sua filha.

A presença dos deuses e do destino se faz evidente nesta peça, assim como nas demais da trilogia.

Vemos também a relação de pai e filha, a força de ambos em manter a dignidade, apesar das inúmeras provações pelas quais passam.

ÉDIPO em COLONO, de Jean-Antoine-Théodore Giroust.

No momento da morte de Édipo, Antígona fala:

“Ele morreu em solo estranho de acordo com sua própria vontade. Seu leito está oculto para sempre e ao nosso luto não faltarão lágrimas. Meus olhos, pai, não param de chorar sentidamente, e não sei – ai de mim! Se terá fim esta tristeza imensa que me deixaste. Querias morrer em solo estranho, mas, por que morreste assim, tão só, longe dos meus cuidados?”

Ainda que o texto nos apresente situações e crenças de um período e uma região da civilização humana, nos fala de sentimentos e conflitos vividos por todos nós.

A imaginação no teatro

Como eu imagino uma cena? Ou um personagem? Ou um cenário?

Por que é importante imaginar?

A imaginação é fundamental para vivermos, não apenas para fazer teatro. Imaginar é um processo mental que nos permite ir além do que somos e do que vivemos. Vigotsky, em seu livro “Imaginação e arte na infância” nos fala que “o cérebro não se limita a ser um órgão capaz de conservar ou reproduzir nossas experiências passadas, é também um órgão combinador, criador, capaz de reelaborar e criar com elementos de experiências passadas, novas regras e aproximações… É, precisamente, a atividade criadora do homem que o faz um ser projetado para o futuro, um ser que contribui para criar e que modifica seu presente.”

Imaginar é uma maneira de estarmos em transformação, por isso é uma ação fundamental em todos os aspectos da vida e não somente no fazer teatral.

Mas claro que para fazer teatro é necessário imaginarmos e como imaginamos?

Vou me deter na imaginação de um personagem que seja de uma criação coletiva e não de um personagem já definido por um autor.

Foto da atriz Louise Brooks, por volta de 1929. Fonte: Library of Congress.

Para imaginar este personagem partirei sempre do meu repertório pessoal. Uma boa maneira de entender o que significa isso é pensar que se eu quero imaginar uma artista dos anos de 1920 que vivia em Paris, eu partirei de algumas suposições e algumas informações. Para isto tenho que saber:

  • Como é uma mulher?
  • Qual a idade desta mulher?
  • Sei que ela é artista, mas é pintora, bailarina, atriz, cantora…?
  • É uma artista rica ou pobre?

 

 

 

 

Estas primeiras perguntas poderiam ser feitas para qualquer personagem de qualquer época e lugar, mas preciso saber mais informações para poder imaginar esta personagem que vive nos anos de 1920, em Paris:

  • O que acontecia no mundo das artes em Paris nos anos 1920?
  • Como se vestiam as mulheres desta época?
  • Como falavam? Sobre quais assuntos?
  • Quais lugares frequentavam?
  • Como se divertiam?

Sempre imaginamos partindo do nosso repertório e por isso é tão importante ampliarmos nosso repertório, não apenas para termos mais conhecimentos que nos levem a compreender melhor nosso passado e nosso presente, mas para podermos imaginar nosso futuro. E também nossos personagens!!!

Se você ficou com vontade de conhecer mais sobre esta época, poderá ver um filme muito divertido que se chama “Meia Noite em Paris” dirigido por Woody Allen e também as pinturas de várias artistas desta fase, como Berthe Morisot e Céline Marie Tabary.

Luz ou escuro

Para quem?

Este jogo funciona melhor com adolescentes ou crianças após os 10 anos, mas pode ser feito com os menores também, dependendo da capacidade de improvisação do grupo.

Condições necessárias:

Uma sala escura

Materiais necessários:

Lanternas (podem ser de celular)

 

Como acontece?

Proponha que o grupo se divida em duplas e a improvisação acontecerá com 3 ou 4 duplas por vez, os demais serão plateia.

Cada dupla ficará em um espaço delimitado da sala ou do palco, caso você tenha um. Este espaço pode ser delimitado com marcas no chão, para que a dupla não se movimente e não se aproxime das demais.

As duplas irão escolher quais os personagens de cada um e irão improvisar uma cena com estes personagens, por exemplo:

  • Um vendedor e um comprados em uma banca de frutas. A cada improvisação eles poderão estar conversando sobre a compra, discutindo sobre algum produto ou preço ou até mesmo brigando por um ter sido acusado de ladrão.

Uma pessoa de fora das cenas irá controlar a luz. Caso você tenha a disponibilidade de estar em um teatro com canhões de luz que apontem para os espaços de cada dupla, use este recurso. Não tendo, use uma lanterna que irá iluminar uma dupla por vez.

As duplas não saberão qual será a ordem e quanto tempo ficarão na luz ou no escuro. A ideia é que cada dupla explore sua capacidade de improvisar e lidar com a surpresa de ser a sua vez inesperadamente.

Para que possa ser uma surpresa, quem ilumina não poderá seguir uma ordem e nem ficar sempre o mesmo tempo com a luz em cada uma das duplas. É possível que em algum momento a iluminação dure um minuto e em outro seja somente de 20 segundos.

A imagem deste post está disponível no site Luz, Tecnologia e Arte, onde você poderá conhecer muito sobre o tema da iluminação. Acesse aqui.