Autoexame de corpo de delito

Delicadeza é a palavra que me vem a mente quando penso nessa peça.

Assisti no dia 29 de setembro no TUSP Maria Antônia, onde a peça fica em cartaz às sextas, sábados e domingos até 28 de outubro, com entrada gratuita. Uma possibilidade imperdível para moradores de São Paulo ou de cidades próximas.

Logo de cara somos colocados em cadeiras giratórias, espalhadas pela sala, que permitem o diálogo com a cena pelo movimento da atriz Lucienne Guedes. Mas antes mesmo dela aparecer, estamos nessa sala com o pianista e a parede de tijolos de vidro, que causam uma mescla de expectativa e imersão. Não há o conforto do escurinho do teatro a italiana, onde ficamos escondidos, estamos expostos junto com ela, mas é menos uma sensação de incomodo e mais de submersão.

E vamos aos poucos submergindo em seus sonhos, sonhos da atriz e do Walter Benjamin, o que é possível saber pelo panfleto da peça.

A beleza da cena pode ser vista sob diferentes aspectos: no uso da transparência da parede de vidro, assim como das projeções que conversam com os sonhos e, também, no figurino, de Claudia Schapira.

Sou uma observadora de figurinos, porque a costura me encanta, mas esse chama a atenção de qualquer um. São vários recursos para desvelar a atriz/personagem que é tão linda quanto o figurino. As diferentes camadas de brancos, os tons que se sobrepõem, chegando a uma sobrepele, um vestido que cobre o necessário para não ganhar um teor apelativo, mas que demonstra a nudez de sua narrativa.

A peça é composta por canções e texto, o pianista Daniel Maudonnet está junto com ela em cena e a música é mais uma escolha que nos leva para esse espaço onírico do sonho. A atriz tem uma bela voz, mais um exemplo da delicadeza com que iniciei esse texto, as músicas nos envolvem, assim como os olhares da Luciene, que vê as pessoas que estão ali.

Para saber mais sobre, visite a página no Instagram, nesse link  ou leia aqui o texto do Joaquim Gama, também sobre o espetáculo. E vá!

Dramaturgia e atuação: Lucienne Guedes / Encenação e espaço cênico: Eliana Monteiro / Piano, composição musical e arranjos: Daniel Maudonnet / Letras das músicas: Lucienne Guedes / Iluminação: Aline Santini / Vídeo: Bianca Turner / Direção de movimento: Irupé Sarmiento / Figurino: Claudia Schapira / Assistência de iluminação e operação de luz: Gabriela Ciancio / Operação de luz: Felipe Mendes / Engenharia de som: Filipe Magalhães / Design: Renan Marcondes / Fotografia: Mayra Azzi / Assessoria de imprensa: Pombo Correio / Release: Douglas Picchetti e Helô Cintra / Redes sociais: Jorge Ferreira / Estagiária no processo de criação: Bárbara Freitas / Assistência de produção: Renata Allucci e Sofia Marucci / Direção de produção: Leonardo Birche 

Narrativa com interferência

Para quem?

Pessoas com fluência leitora

Condições necessárias

Uma sala com espaço para que todos se movimentem.

Materiais necessários

Um abajur ou equipamento de iluminação, equipamento de som

Como acontece?

Quantas maneiras será que podemos narrar um acontecimento?

Essa proposta busca explorar as diferentes maneiras de narrarmos um mesmo acontecimento, partindo de um texto escrito. O texto pode ser retirado da literatura, do jornal ou escrito pelos alunos, desde que cada um tenha o seu. O tamanho do texto deve ser pequeno, para ser possível realizar a narrativa diversas vezes.

Caso o grupo de alunos seja muito grande, poderá ser dividido em dois ou três, para que todos possam fazer a narrativa sem tanta espera.

A intensão é de encontrarmos diferentes maneiras de narrarmos algo, dando entonações e sentidos variados. Para isso poderíamos usar somente diferentes motivações, buscando alterar a forma de narrar, mas vamos provocar mudanças no espaço que interfiram na narrativa.

Vamos centrar em duas interferências principais: em uma delas vamos alterar a luz do ambiente, o que poderá ser feito com um abajur que diminua a claridade ou com um equipamento usado em festas que projete diferentes luzes no espaço.

A segunda interferência será com o som, colocando músicas ou ruídos que interfiram na narrativa.

É muito importante fazer uma roda de conversa ao final e escutar o que os participantes tem a dizer sobre como as interferências no espaço alteraram a narrativa, tanto na condição de narradores, como de quem escuta.

Enquanto você voava, eu criava raízes

“Em ‘Enquanto você voava, eu criava raízes’ nenhuma palavra é dita, a dramaturgia é guiada pelos corpos em diálogo com as artes visuais, o cinema, a dança e o teatro. Nesse navegar por várias linguagens, os significados também se apresentam diversos e chegam ao público em camadas múltiplas e plurais. Assim, entre sonho e realidade, somos apenas um emaranhado de sombras e luzes, diante do imensurável, da imensidão e do mistério do abismo.” – trecho da sinopse no catálogo.

Assisti esta apresentação no Sesc Santo Amaro, em São Paulo em abril de 2023. O espetáculo começa e já te coloca no silêncio ao conseguir um escuro completo, sem frestas, que será compreensível por todos os efeitos de luz que são parte estruturante da montagem.

Vagamos, junto dos corpos dos dois atores, em uma caixa mágica que cria uma alteração da nossa percepção espacial, rompendo a linha da terra em um diálogo entre os dois, o céu e as profundezas.

Você poderia pensar que todos estes recursos técnicos e os efeitos são o que há de mais impactante nesta apresentação, mas não! O trabalho corporal de cada um dos dois é impressionante e o que eles criam poeticamente é lindo.

Fica de olho, acompanhe a dupla no Instagram e vá na próxima apresentação.

Direção, dramaturgia, cenografia e performance: André Curti e Artur Luanda Ribeiro
Música original: Federico Puppi
Iluminação: Artur Luanda Ribeiro
Cinotécnica: Jessé Natan